Pulei a cerca de novo


Parece uma coisa inevitável, chego a ter crises de abstinência. De tempos em tempos me vejo obrigado a pular a cerca e trair de novo. Dessa vez em dodecassílabos.

A vítima dessa vez foi o Paul Verlaine, um dos poetas decadentes (ao lado de Mallarmé e Baudelaire).

O nome do poema, em inglês, não pode ser traduzido nem como verde, nem como o gramado dos campos de golfo. A fada verde (La fée verte) era o apelido dado ao absinto, bebida consumida ferozmente por essa geração de poetas.

Se você tem voz de barítono, existe uma versão musical do poema, basta baixar a partitura .

Green

Paul Verlaine

Eis aqui os frutos, flores, folhas e galhos.
E meu coração, por ti, a bater perdura
Que tuas mãos brancas não o deixe em frangalhos
E teus olhos tudo recebam com doçura

Eu chego, coberto a fronte, de fino orvalho
O vento da manhã gela minha figura,
A teus pés repouse meu corpo lasso e falho
Com sonhos brandos afastados da amargura.

Minha face sobre teu seio enfim descanse,
Ouvindo ainda o som dos beijos me ninar,
Sossego, da tormenta fora do alcance,
E eu durma tranquilo junto a teu repousar.

O texto original é

Voici des fruits, des fleurs, des feuilles et des branches
Et puis voici mon coeur qui ne bat que pour vous.
Ne le déchirez pas avec vos deux mains blanches
Et qu'à vos yeux l'humble présent soit doux.

J'arrive tout couvert encore de rosée
Que le vent du matin vient glacer à mon front.
Souffrez que ma fatigue à vos pieds reposée
Rêve des chers instants qui la délasseront.

Sur votre jeune sein laissez rouler ma tête
Toute sonore encor de vos derniers baisers;
Laissez-la s'apaiser de la bonne tempête,
Et que je dorme un peu puisque vous reposez.

As outras traições estão em :

Comentários

Unknown disse…
Gostei deste tb...
só dá pra falar que está lindamente escrito
Taty disse…
Mmmmmmm, to desconfiada que você anda com más intenções.......

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