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Os bestsellers mais não lidos do mundo

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Não poucos livros da história foram tecnicamente definidos como bestsellers, até porque a quantidade necessária para receber esse nome é bastante baixa, cerca de 10 mil exemplares (em mercados editoriais mais pobres como o nosso, 5 mil já é um bestseller).   No entanto, ninguém nunca criou a categoria de worst-read, aliás o termo (os piores, ou menos lidos) nem existe, acabei de inventá-lo. São aqueles livros que vendem muito, são exaustivamente comentados, mas quando você vai ver não passam de decoração da estante.   A melhor maneira de detectar um worst-read é quando percebemos que as pessoas fazem citações inexatas, baseadas no que ouviram falar. Ou quando se referem a ele como um grande livro de “XYZ”, quando na verdade é um livro sobre “PQR”.   A lista abaixo comenta alguns que me chamam a atenção, não é uma lista completa, certamente você vai lembrar de muitos outros que merecem esse título. Vamos a eles: 1.     O nome da rosa : lembro que umas das co...

Baudrillard, Platão e Aristóteles

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Ainda que não haja uma relação direta, é impossível não sentir uma certa aproximação entre os simulacros de Baudrillard e a mimesis de Platão (e a contraposição de Aristóteles sobre o mesmo tema). Baudrillard fala em estágios da simulação, partindo da reflexão do real, para a perversão do real, daí para a ausência da realidade básica e finalmente a completa disjunção entre o que se mostra e qualquer realidade possível. Platão, do seu lado fala da realidade una e perfeita (primeiro nível), das cópias imperfeitas feitas pelo homem (segundo nível) e da reprodução artística como a mimese do que já era imperfeito (terceiro nível). Em A República, ele usa a expressão de três graus de separação entre a verdade e a simulação. Já Aristóteles, na sua Poética, era um defensor da mimética artística que, segundo ele, tinha quatro funções: a primeira antropológica, uma vez que mimetizar é inato à natureza humana, a segunda paidêutica (educacional), pois é pela mimesis que o homem adquire seus ...

Em busca da irrealidade perdida

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  Humankind can´t bear very much reality T.S. Eliot – Four quartets   A humanidade não suporta muita realidade, constatava Eliot em 1936, o tempo passado e o ponto futuro, o que será e o que já foi apontam para o mesmo fim que é sempre o presente. Existir é ser algo temporário, o homem não passa de um estranhamento que ele faz de si mesmo projetando-se no passado, no presente e no futuro, as três êxtases como definiria Heidegger, as três maneiras de estar fora de si mesmo. O tempo presente é a versão trazida a valor presente do cavaleiros do apocalipse (a escatologia bíblica, favor não confundir com os cavaleiros do zodíaco): a peste, a guerra, a fome e, finalmente, a morte. Essa é a realidade que explode na capa dos jornais, nas TVs, nas redes sociais e nos grupos virtuais, todos os dias. O passado não passa de uma memória irreversível, pode ter sido bom ou ruim, mas ficou para trás. O que nos resta é o futuro e a eterna esperança de encontrar nele alguma esperanç...

Walden, a vida como um projeto de tédio

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Depois de um tempo de interrupção, hoje acabei de ler Walden, considerado o texto clássico de David Henry Thoreau. O enredo do livro é muito simples. O autor retira-se em 1845 para a floresta da Nova Inglaterra, próxima à cidade de Concord, onde constrói com as próprias mãos, sua casa e seus móveis, passando a viver com o mínimo necessário e em intenso contato com a natureza. Isola-se da sociedade, não por misantropia - ele recebe visitas e as retribui - mas com o propósito de obter uma maior compreensão da sociedade e de descobrir as verdadeiras necessidades essenciais da vida Sob o risco de ser execrado pelos fãs do autor, julgo ter sido um dos livros mais entediantes e chatos que li na minha vida. Thoreau, que é um excelente poeta e, na maioria dos seus textos, um bom ensaísta, se tornou um mito pelas suas posições anarquistas e pacifistas e, especialmente, pelo fato de ter sido preso ao se recusar a pagar impostos a um governo...

Pandemia eterna

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Não é de hoje que está em curso um vírus que tem afetado muitas pessoas. Diferentemente de outras cepas, essa não prejudica quem está infectado, mas quem convive com as pessoas que o contraíram. Desconheço sua origem, mas, certamente, não surgiu a partir de animais silvestres, nem foi criado em laboratório de genética. Diga-se de passagem, ele não afeta nenhum animal, exceto o homo , dito sapiens . Denominado vocêtemque ele faz com que seu portadores, continuamente, fiquem impondo suas ideias e soluções para outras pessoas. É uma profunda disseminação de vocêtemque isso, vocêtemque que aquilo, vocêtemque aquilo outro. Apesar de ser um vírus que se manifesta mais nas relações pessoais, ele não é incomum nas relações de trabalho, uma vez que quem carrega o vírus não sabe muito bem distinguir uma situação da outra. Os afetados pelo vírus, geralmente, não praticam aquilo que preconizam, uma vez que um dos efeitos colaterais da contaminação é o de criar uma camada de...

Caminhos difíceis e turbulentos

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Caminhos difíceis e turbulentos ( Rough and rowdy ways ) é o novo álbum do senhor Robert Allen Zimmerman, a.k.a, Bob Dylan, que bem poderia se chamar dias difíceis e turbulentos em tempos de pandemia. De qualquer forma, sua temática não é a crise mundial, mas muito da história e das referências do seu autor. Como diz meu amigo Omar Giammarco, não é à toa que esse jovem que em 2021 vai completar 80 anos, ganhou um prêmio Nobel de literatura.  Ok, é apenas um compositor popular você vai argumentar, e eu contra argumentarei que sua poesia não é nada popular, ainda que ele, como músico, seja um dos grandes ícones populares da história. É só a minha opinião, mas eu o considero o maior poeta de língua inglesa do pós guerra, coincidentemente, começa a aparecer na época em que morreram Cummings e Sylvia Plath. O disco começa, não por acaso, com I contain multitudes , verso de Walt Whitman, que nele dizia que prosseguia para completar sua próxima dobra do futuro. Dylan vai reve...

A vã filosofia

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No meio da diafonia tinha uma eidos Tinha uma eidos no meio da diafonia Tinha uma eidos No meio da diafonia tinha uma eidos Nunca me esquecerei dessa aporia Na minha vida de doxas isostheneias em epokhe Nunca me esquecerei que no meio da diafonia Tinha uma eidos Tinha uma eidos no meio da diafonia No meio da diafonia tinha uma eidos.

A imprecisão da assertividade

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Quantas vezes você ouviu ou leu a palavra assertividade (ou assertivo) nas últimas 24 horas? Caso tenha sido menos de uma dúzia de vezes, imagino que você seja uma pessoa reclusa que prefere ficar com seus livros e seu gato a ler jornais, revistas e navegar nas redes sociais. Até porque o uso da palavra se disseminou em todas as direções possíveis e o vocábulo virou sinônimo de todas as palavras da língua que tenham alguma relação com esforço, motivação, precisão e, pasme, correção e acerto (alguns chegam ao cúmulo de grafá-la como “acertividade”). Eu tenho problemas com buzzwords, ou como dizem os millenials, as modinhas. Quando um termo (sigla, palavra, expressão) começa a ser repetido à náusea, eu fujo dele. Vade retro, como diriam os exorcistas da idade média. Ao mesmo tempo, sou um curioso e gosto de aprender. Então fui atrás das definições corretas da palavra. Consultei as melhores fontes que conheço em 4 línguas (veja abaixo) e concluí que: Assertividade tem a ver com respon...

Um dia de muvuca fake

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Em mil novecentos e pó eu passei alguns dias em Nova York, depois de um congresso em outra cidade dos Estados Unidos. Uma das atrações da cidade (e ainda é até hoje), era o Museu de História Natural e, como bom rato de museus, fui conhecê-lo. Além de todas as maravilhas que tive a oportunidade de ver, o museu estava apresentando uma exposição temporária sobre Leonardo da Vinci, absolutamente espetacular. Muitas peças do seu acervo mecânico originais. Alguns quadros originais (claro que não a Mona Lisa que, ao que eu saiba, não costuma passear fora do Louvre) e muitos desenhos, especialmente os projetos e os de anatomia. Originais. A grande atração, no entanto, eram os pergaminhos originais com seus escritos, que estavam sendo mostrados pela primeira vez fora da Itália e, para isso tinham um sistema de sensores em que a iluminação só era ativada quando um visitante se aproximava para ver. Anos depois, já nesse milênio, uma exposição também muito bem montada, foi apresentada na Oc...

Admistão defectiva

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Para o Jayme Serva que deu o mote  Caso eu te aborra ao escucir-me pelos seus corpúsculos borralhos , não deixe que o meu fretenir dele os seus pensamentos, são apenas o meu jeito de aprazá-lo. Caso tenha haurido sua eupatia, ao menos fornirei silogismos que buam suas afecções já comburidas. Se eu soesse embaí-lo, aduciria, ou mesmo condiria, as suas érebas conjecturas. Não garras tu, nem anada vagidos com o intento de susquir-se enquanto te aso. Eu demulcirei sua obduração e o seu jungido ao ponto de aducí-la. Lenirei sua crimeza acupremindo sua febra. Cada ansa de exir languirá seu âmago e adurirá seus tegumentos, pertransirá seu revelidos e exinanirá seus fados. Não me preclua, nada me monirá. Aqueles que estreseriam uma sazão sem nada adir, fremerão estanguidos até seu relinquir cabal. Se seu anelo for estresir minha nução, terá de moquir o que o jurupari amarfanhou. Sei que transirá minha disquisição como quem gorne eructações branquidas. Não irei gualdir meus ensejos ne...

Desde el alma (en español)

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Alma, no entornes tu ventana al sol feliz de la mañana. No desesperes, que el sueño más querido es el que más nos hiere, es el que duele más. (Homero Manzi)  Sábado, casi medianoche, un taxi nos fue a buscar al barrio de Agronomía para llevarnos de vuelta a nuestro hotel, en el centro. Un viaje de casi 20 km. El día anterior habíamos estado en Villa Pueyrredón, más o menos la misma distancia. El chofer del taxi no consigue contenerse y nos pregunta: ¿Por qué salieron del centro para ver un show tan lejos? Debe haber pensado: con tanta cosa disponible mucho más cerca del hotel, especialmente los tradicionales espectáculos de tango de turistas, ¿que hacen estos locos en la periferia de la ciudad? Yo sé que estoy piantao, piantao, piantao… Sería lo equivalente a salir de mi casa para ver algo en Vila Nhocuné o en el barrio de Socorro. La verdad es que la distancia es algo irrelevante para ver a Cucuza Castiello en un día, y Dolores Solá al día siguiente y, a pesar de algun...

Desde el alma

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Alma, no entornes tu ventana al sol feliz de la mañana. No desesperes, que el sueño más querido es el que más nos hiere, es el que duele más. (Homero Manzi) Sábado, quase meia-noite, um táxi nos pega no bairro de Agronomia para voltarmos ao hotel no centro, uma viagem de quase 20 km. No dia anterior estivéramos em Villa Pueyrredon, mais ou menos a mesma distância. O motorista do táxi não se contém e pergunta: por que vocês saíram do centro para assistir um show tão longe? Deve ter pensado: com tanta coisa disponível bem mais perto do hotel, especialmente os tradicionais shows de tango de turistas, por que esses loucos vão parar na periferia da cidade? Seria o equivalente a sair da minha casa para ver algo na Vila Nhocuné ou no bairro do Socorro. A verdade é que a distância era algo irrelevante para assistir Cucuza Castiello em um dia, e Dolores Solá no dia seguinte e, apesar de terem algumas diferenças, ambos têm muita coisa em comum. A primeira dela é ...

Uma volta na roda gigante

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As tragédias eram textos teatrais que apresentavam histórias trágicas e dramáticas derivadas das paixões humanas as quais envolveriam personagens nobres e heroicos. Todas elas possuíam uma característica comum: tensão permanente e o final infeliz e trágico. A tragédia clássica deveria cumprir, segundo Aristóteles, três condições: possuir personagens de elevada condição, ser contada em linguagem elevada e digna e ter um final triste, com a destruição ou loucura de um ou vários personagens sacrificados por seu orgulho ao tentar se rebelar contra as forças do destino. Roda gigante (Wonder Wheel), o recém lançado filme de Woody Allen é uma tragédia, na melhor acepção do teatro grego. Ainda que seus personagens sejam pessoas comuns e, em alguns casos, de linguagem nada elevada, a tensão é permanente, o final trágico e o destino dos personagens beira a destruição e a loucura. O filme é sobre escolhas erradas que seus personagens fizeram no passado ou durante a própria história e o efei...

Quem não conhece, inventa.

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Como diria o mais que conhecido provérbio português: “o papel aceita tudo”. Já os meios digitais aceitam tudo e mais um pouco (já diria Umberto Eco, mas há quem se ofenda com essa opinião). O que pode provocar dores no pâncreas e desconfortos no astrágalo esquerdo. Em mim provocaram. O jornalista que resenhou o show de Sting para um dos grandes veículos de mídia nacional deve ter nascido quando o Police nem existia mais. É verdade que, como jornalista, não precisava ter a mesma idade do cantor e do seu público, bastava ser um pouco mais sério e se informar antes de escrever. Ele começa dizendo que o comportamento do público foi morno e comportado nas cadeiras. Na minha frente estava sentada uma senhora de uns 70 anos (super pop, de calças jeans rasgadas), ele queria o que? Que ela desse gritinhos e escândalos como a garotada que foi ver o Justin Bieber? O pessoal que estava na pista dançou bastante. Que estava nas cadeiras e dançou se preocupou em fazê-lo nas e...

Carregado pelo zonda

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Zonda é o nome que se dá a um vento argentino do lado oriental da cordilheira do Andes que, diz a lenda, ocorre quando alguém desobedece a Pachamama, a mãe natureza da mitologia inca. Também é o nome original do filme de 2015 de Carlos Saura que está em carta na Reserva Cultural com o nome de “Argentina”. Desde a sua trilogia flamenca, Saura se dedica, de tempos em tempos a retornar à música. Fados é um belíssimo filme sobre a alma portuguesa. Tango, explora a fundo a essência portenha. De volta à Argentina faz um mapa extenso e detalhado dos ritmos folclóricos dos hermanos . E é um filme fabuloso, ou melhor, é mais um filme fabuloso de Saura. Praticamente nenhuma fala. Música do começo ao fim de sua quase hora e meia de duração. Tomas Lipan, Luis Salinas, Pedro Aznar, Jaime Torres, Chaqueño Palavecino, Mariana Carrizo, são apenas alguns dos muitos intérpretes. Além de homenagens emocionantes a Mercedes Sosa e a Atahualpa Yupanqui. O filme ganhou prêmi...

Um ano de perdas

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Eu sei, todos anos nascem pessoas e morrem pessoas. E nós nem sabemos disso, exceto por aqueles mais próximos de nós. Nesse ano tive apenas uma pessoa mais próxima que se foi. E pouquíssimos nascimentos entre conhecidos. Do ponto de vista de herança cultural, no entanto, foi um ano terrível. Muitos se foram. Alguns, provavelmente, a seu tempo. Outros, cedo demais. Janeiro começou bem mal. David Bowie, o camaleão que me ensinou que é possível mudar de estilo sem perder a qualidade. Pierre Boulez, um gigante entre os maiores. Ettore Scola, que me fez dançar os mais variados ritmos no “Baile”. Em fevereiro, Umberto Eco, uma das melhores lembranças dos tempos de faculdade e que perpetuou nas minhas estantes em todos os anos depois disso. Em março se foi George Martin. E só quem é beatlemaníaco como eu é capaz de entender o que ele representou para a minha geração. Também em março Keith Emerson (meses depois, em dezembro, foi a vez de Greg Lake), de qualqu...

Uma frustração genial

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A vida é uma comédia escrita por um comediante sádico (Bobby Dorfman, personagem principal) Café Society é um filme frustrante. E é genial justamente por isso, um filme cujo desenrolar vai frustrando cada uma das nossas expectativas sobre os desfechos da trama principal e de cada uma das subtramas. Inclusive os desfechos que o próprio Woody Allen nos ensinou a esperar em outros filmes seus. Alguns vão dizer que é um filme menor. Talvez seja mesmo. De qualquer forma, um filme menor de Allen ainda é melhor do que a grande maioria das tranqueiras que são exibidas nas telonas e telinhas. O argumento do filme é bastante simples. Não tem nenhum ator saltando da tela nem nenhum personagem viajando no tempo. Nem camaleões. Os personagens são seres críveis que vivem situações corriqueiras e têm sentimentos comuns a qualquer outro ser humano. Até os bandidos são bandidos comuns. Não há nenhum ator ou atriz de beleza estonteante. Os atores dão a impressão de serem...

Un aire de sofisticación

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Yo no soy un musicólogo. Tampoco soy venezolano. Jamás sabría decir si un joropo es un joropo o simplemente tiene un aire de joropo.* Lo que sé es que estuve recientemente en Buenos Aires y finalmente conseguí ver una presentación de La Chicana, grupo argentino que acompaño desde 2012, cuando los descubrí en un documental sobre el tango contemporáneo llamado Un giro extraño . Debido al documental yo creía, al principio, que ellos formaban un grupo de tango de vanguardia. Con el tiempo me di cuenta que realmente son de vanguardia, pero limitarlos al tango no corresponde a la verdad. Su primer disco es Ayer hoy era mañana (1997), un título que por sí mismo ya prepara al oyente para algo que lanza la noción de tiempo directamente al caos. Por razones obvias, mi iniciación ocurrió con el segundo álbum, también llamado Un giro extraño (2000). Luego que escuché la introducción de la primera pista, me di cuenta de que algo realmente sorprendente iba a suceder. Un violín ...