Uma volta na roda gigante
A tragédia clássica deveria cumprir, segundo Aristóteles, três condições: possuir personagens de elevada condição, ser contada em linguagem elevada e digna e ter um final triste, com a destruição ou loucura de um ou vários personagens sacrificados por seu orgulho ao tentar se rebelar contra as forças do destino.
Roda gigante (Wonder Wheel), o recém lançado filme de Woody Allen é uma tragédia, na melhor acepção do teatro grego.
Ainda que seus personagens sejam pessoas comuns e, em alguns casos, de linguagem nada elevada, a tensão é permanente, o final trágico e o destino dos personagens beira a destruição e a loucura.
O filme é sobre escolhas erradas que seus personagens fizeram no passado ou durante a própria história e o efeito dessas escolhas.
O filme é sobre teatro, como preconiza o personagem de Justin Timberlake na introdução da história, fato reforçado pelas citações de Eugene O`Neill, Hamlet, Édipo.
E talvez, um dos filmes com mais cara de teatro filmado que Allen tenha feito depois das suas incursões bergmanianas em Interiores.
De certa forma, um retorno à releitura de “Um bonde chamado desejo” pela qual Allen já tinha passado em Blue Jasmine.
E assim como em Blue Jasmine, onde Cate Blanchett dá um show de interpretação, aqui é a vez de Kate Winslet mostrar que pode muito mais do que mostrou no passado. Jim Belushi, diga-se de passagem, não fica muito atrás.
A fotografia de Vittorio Storaro é outro ponto forte do filme. Ele abusa das cores (fortes e muito fracas) quase como contando a história do filme.
Mas não é um filme fácil de assistir, as situações são duras e não existe nenhum momento em que a história fique mais leve, até os romances são tensos.
O final, diferentemente de outros filmes recentes, é bastante previsível.
Exceto o fato de que, consumada a tragédia, o casal principal mostra que a vida continua, assim como a roda continua a girar.
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