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Mostrando postagens de 2011

Mistério discal

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Avançam os estudos do Fairchild University realizados no último período glacial de hemisfério noroeste de Tanganica. Os professores Quincy, Cruft e Lymann reuniram-se tardes sucessivas no Buckminster´s Cafe para discutir um caso raríssimo de discopatia histérica. Especializados na psicobiologia fisiológica charcotiana, os médicos estudaram a situação de uma degenerada que apresentava uma herniação cartilaginosa. A questão levantada pelos estudiosos era se a degeneração discopática era provocada por acessos de histeria ou se as dores desligamentares é que geravam a perda de controle da paciente. Para os demais médicos da universidade, o trio estava apenas matando aula no café, discutindo se o ovócito pronucleico precedia a galinácea, ou o inverso. No entanto, os primeiros artigos publicados por eles no Journal of Psychocaffeinology, demonstravam que por mais ociosos que fossem os pesquisadores, o caso era real. Relatavam as sucessivas exaltações matriciais

Uma história de Natal

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...não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria... Lucas 2:10 Tudo na vida de Lúdico era uma festa, fosse o simples sorriso de alguém no meio da rua, fosse a comemoração mais estapafúrdia que pudesse participar. Não perdia um evento, encontro de ex-colegas, almoços de família e, até, o baile da 3a idade do parque, ainda que ele ainda estivesse longe de alcançá-la. Para ele o Natal era o ápice de um ano festivo e a linha divisória que marcava o início de mais um ano de comemorações. Amava todos os símbolos e hábitos natalinos. Ia ver a iluminação da Paulista, do Ibirapuera e da Rua Normandia. Comprava presentes para todos que imaginava que encontraria na ceia. Não poucas vezes entrou na fila e sentou no colo do papai noel de algum shopping, para deleite e risadas das crianças. Comia, bebia e cantava Jingle Bells em várias línguas até o sol raiar. No extremo oposto de toda essa alegria estava Lídimo. Um sujeito sério e carrancudo que achava intolerável todos os desvios d

Meio sem ambiente

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Anderson era um ecologista ortodoxo e intransigente. Até seus amigos, que nutriam uma certa simpatia por suas idéias, foram perdendo a paciência com os seus exageros. Nem mesmo a namorada, que era diretora de uma ONG que lutava contra a poda da grama em jardins, tolerou a convivência. Seu carro, movido a energia solar, sofria constantes colisões traseiras. Apesar do adesivo que informava aos motoristas que vinham atrás que aquele veículo brecava para animais, ninguém imaginava que isso significaria paradas bruscas para a passagem de baratas e formigas. Não comia nenhum tipo de carne desde a adolescência. Quando leu um estudo a respeito da comunicação entre plantas ficou deprimido por semanas. Quantas alfaces ele teria trucidado durante a sua vida? Quantos rabanetes não teriam sofrido mortalmente em suas mãos? Passou a se alimentar exclusivamente de suplementos minerais e água. Começou a andar a pé. Vestia-se somente com roupas sintéticas. Só não foi viver como eremita em uma caverna po

A parafúsica antologia do bimestre

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Como sempre, recomendo aos meus leitores desavisados que o que segue abaixo são os comentários dos textos do bimestre (Outubro/Novembro) escolhidos de forma aleatoriamente macarrônica. A instrução é a de sempre: divirta-se com as frase, sem ir em busca dos seus contextos. Lindo o amor de vocês! poema para ser lido ao som de um berimbau além da rima eu queria mesmo, eram os camarões O que haveria na bolsa de Electra ? um filme de aventuras helenicas ele quer respostas ou apertar parafusos? a gente nem pode dormir e sonhar sossegado Na dúvida, ataque... agora vc exagerou!!!! Para sempre é muito relativo... Olhar para lá de lacaniano ! Outubro é o mes dos gafanhotos perdidos Um caso de paixão eletrostática, creio... Também tenho mania. Mas não conto. Edileuza, sua safadinha! Menino esperto esse Carlos... Me receitaram não passar as mãos nos cabelos quando sonho estava nadando numa lagoa com orelhas de burro Vou jogar no bicho ! Only this, and nothing more...

Perguntas à moda de Neruda

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Se a banana é maçã, a bananada é amassada? Se um triângulo pode ser retângulo um hexágono pode ser quadrado? Quando aquele sol resolve sair para onde ele vai? No caso anterior, do que vivem os heliófagos? Quebrar galhos ainda é permitido com o novo código florestal? Quando a chuva cai as gotas se contundem? Com quantas andorinhas se faz um verão? Um instinto extinto reencarna como lógica estruturada? As perguntas de Neruda estão aqui

Scintilla

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Pequena luz Scintilla entre azuis. Celestes, cerúleos, Ultramarinos Brilhante luz Scintilla e reproduz Aromas, sabores Sensações Pequena luz Scintilla e reconduz A manhãs, tarde e noites, De amor eterno Imagem por SlaveDruid

Manias

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Carlos estava longe de ser um sujeito ingênuo ou do tipo que se chocava com o inusitado. Durante toda a sua vida profissional conhecera pessoas com os mais diversos tipos de taras e fetiches, alguns deles tão insólitos que sequer apareciam nas ferramentas de busca da internet. Quando foi chamado pelos parentes de Edileuza achou que seria apenas mais um caso corriqueiro. A família estava desesperada com a idéia fixa da mulher. Carlos logo lembrou quee havia uma ligação direta entre a ansiedade e as idéias fixas por causa do que Jung postulou no passado. Chegou à casa de Edileuza e tocou a campainha. O som era diferente, parecia um conjunto de barras metálicas se chocando umas às outras. Ela abriu a porta. Logo no hall de entrada havia um modelo sanfonado de parede. Abertura de mais de 60cm ela falou, mesmo antes de dizer boa tarde. No teto um modelo bi plastificado pendia perigosamente sobre a sua cabeça, ele desviou, mas não percebeu que no chão havia um giratório eletrostático. Derrub

Meia luz

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Morocha era uma mulher de luz. Luz natural, é claro, detestava lâmpadas quentes ou frias. Não morria de amor por velas nem lamparinas. Sempre dormiu de janelas escancaradas, luz da lua, luz do sol e até a luz fugaz do cometa Halley iluminaram sua cama. Só colocou uma cortina translúcida quando construíram um prédio ao lado do seu e, mesmo assim, exclusivamente para preservar sua privacidade. Alfonso era o homem das trevas. Engenheiro de túneis, só tolerava iluminação artificial e, mesmo assim, só da casa para dentro. Odiava qualquer feixe luminoso que lhe atingisse exogenamente. Morocha usava roupas estampadas e coloridas, sempre muito leves. Alfonso só se vestia de preto, da sola dos sapatos aos colarinho das camisas. Encontraram-se numa praça, num dia de chuva forte. Morocha tinha sido pega de surpresa pela tempestade. Alfonso tinha saído justamente para aproveitar o clima sombrio. Sabe-se lá por que, sabe-se lá como, apaixonaram-se. Sabe-se lá como, sabe-se lá por que resolveram en

O discurso do olhar

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Não era a primeira vez que ele ouvia falar em linguagem corporal, mas era a primeira em que alguém lhe dava um roteiro mais detalhado. Ele estudou, observou, reparou. Aprendeu todos os truques e sinais. Aliado aos seus conhecimentos de análise de discursos, aprendido durante anos de leitura de Lacan e Barthes, julgou ser capaz de, praticamente, ler pensamentos e intenções . Exceto no dia que a viu pela primeira vez. Tentou entender seus movimentos, mas não conseguia manter a concentração fora dos olhos dela. Prestava atenção em cada palavra que ela pronunciava, esperava achar o significado oculto por trás delas. Nada. Quando foi dormir não conseguiu. Ficou tentando entender o que havia por trás daquele secreto discurso do olhar. Uma demonstração de poder de sedução? Um jogo provocativo à sua capacidade de entender as pessoas? Todas as leituras o levavam a crer que ela estava apaixonada por ele. O que era humanamente impossível. Propôs um novo encontro, passou horas em med

La nave non va

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As brumas envolviam o cais. As montanhas eram apenas vultos sombrios cobertas pela neblina. O barco estava pronto. Sófocles conversava com o capitão Paracelso, perguntando se seria conveniente sairem com aquele tempo. Apesar do hermetismo trimegístico do céu, o capitão garantiu que a segurança não estava comprometida. O conforto sim. Sófocles trocou meia dúzia de frases com Electra e decidiram zarpar em direção a Ítaca. Nem piratas, nem borrascas, nem dragões vão me impedir ...cantarolava Paracelso, enquanto os dois se acomodavam na proa. A navegação foi tranquila. Sófocles e Electra admiravam a vegetação das ilhas por onde passavam e, eventualmente avistavam basiliscos sobrevoando as praias. Chegaram a Ítaca para o banquete dos lictores. Degustaram mandrágoras, salsichas de javali de Erimanto regados a néctar e, claro, doses de ambrosia. Na hora de voltar a chuva começou. Nada ameaçadora. Cobriram-se com suas capas e embarcaram. Cansada, Electra, recostou no colo de Sófocles e adormec

Ora vá para o Catimbau!

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Mensagem Nada de sol, nem bacalhau Chovia muito no arraial Não caiu o nosso astral Pelas gambas do Catimbau Muita pedra, nenhum areial Nem pera nem bananal Olvidamos o cacau Traçando as gambas do Catimbau Nenhuma dor existencial Paisagem fenomenal Um olhar emocional Antes as gambas do Catimbau Declarei amor imortal Genuflexo no degrau Recebi amor igual Com as gambas do Catimbau

Sonhos desvendados

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Tudo começou com José do Egito. Foi ele quem popularizou a interpretação de sonhos, desde os pesadelos do padeiro até os onirismos do Faraó. Durante séculos a interpretação era vista como uma prática mágica ou sacerdotal, até que Freud afirmou que sonhos desconexos, sem qualquer lógica e, em que o conteúdo manifesto desfigura completamente o conteúdo latente, poderiam ser psicoanalisados. Se bem que quando as explicações eram confusas demais, seus pacientes nem reconheciam seus próprios sonhos e saiam da sessão com uma certa sensação de charlatanismo. A verdade é que a onirologia tornou-se uma ciência respeitada tendo até gerado estudos derivados como a oniropatia, a oniromancia e a onirofilia. Dentre os analistas ocidentais modernos, destacam-se o psicanalista búlgaro Igor Baratov, o alemão Katz Katzenberg - criador da clínica de sonhos Traumarbeit - e o presditigitador paraguaio Mbojáji Ahayhú. O modelo de Baratov, influenciado pela dialética histórico materialista de Marx, usa

A ilha pornográfica

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Ana Maria não entrou na cabina, porque as nossas praias não tem mais cabinas para as pessoas colocarem seus maiôs. Chegou à praia num biquini legal, no sentido jurídico da palavra. Afinal, sempre fora uma garota muito comportada. O que não impedia que ela tivesse passado por uma certa, digamos, modernização. Usar biquini era um exemplo disso. Talvez o fato mais marcante dessas suas mudanças é que ela aceitou o convite do namorado para passarem um final de semana na praia. Quartos separados, é claro. Mas, pelo menos, estavam dormindo debaixo do mesmo teto. Claro que as amigas da faculdade não acreditavam nisso, mas Ana Maria não dava bola para o que os outros pensavam. Eduardo, o namorado, era um sujeito liberal. Nem sempre concordava com as atitudes da namorada, mas as respeitava, em nome do amor. Naquela manhã, estavam passeando de mãos dadas na praia quando viram um cartaz nuns barcos de turismo Eduardo pegou o folheto e começou a examinar. Gostou de um deles e sugeriu a Ana Maria: &

O vôo da pteroposa

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Quando Amanda e Leonardo viram as fotos da Vila de Tuyuyu ficaram encantados, resolveram que seria naquele local que passariam sua lua de mel. A beleza natural era abundante e descobriram que havia uma hotel à beira do Rio Foruat a poucos metros de onde ele desaguava no mar. O hotel era pequeno, seis cabanas espalhadas no meio da floresta, suficientemente distantes uma das outras. Lugar perfeito. A única coisa imperfeita foi que Leonardo, no meio do caminho recebeu um telefonema chamando-o para uma cirurgia de emergência. Ele deixou Amanda no hotel e pegou a estrada de volta. Amanda lamentou, mas sabia que teriam duas semanas exclusivamente um para o outro, além do que, ela conhecia os riscos de casar com um neurocirurgião. Quando estava acabando de jantar a dona do hotel veio conversar com ela. Contou a respeito da lenda da pteroposa, um imenso inseto voador que, segundo os nativos locais, tinha o dom da profecia noturna. Disse para Amanda que nunca ninguém tinha visto tal ser mas, po

Fusão

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Cobalto e magenta espatulados A tinta tenta apaixonado fato Surpreende o amado A amada inventa Namorados Cobalto e magenta retratados Cor que arrebenta os nós, Tanto tempo depois, Desatados Cobalto e magenta misturados No mar, no céu, no asfalto No vento, em um, Amalgamados. Cobalto e magenta namorados espatulados retratados misturados desatados amalgamados. Cobalto e magenta apaixonados

Uma história nada áspera

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Adenilde trabalhava num salão no Tucuruvi. Fazia quase de tudo, mas sua especialidade era a esfoliação. Não só conhecia todas as técnicas e produtos para tal prática como, apesar de sua pouca formação escolar, conhecia profundamente o assunto, ainda que esse fosse muito superficial. Brincava que ela era a tanatopraxista das células mortas. Sua clientes geralmente achavam o termo engraçado. As que entendiam o que era isso, não achavam graça nenhuma. Fora do salão, era uma mulher abrasiva, o que sempre tornou difícil seu relacionamento com os homens. Um dia estava no supermercado Ourinhos comprando produtos para produzir seus esfoliantes caseiros quando seu carrinho, numa curva de gôndola, trombou com o carrinho de Adalberto. Vendo que o carrinho dela tinha fubá, açúcar mascavo, amêndoas, gérmen de trigo e azeite, ele perguntou que tipo de bolinho que ela ia fazer. Ela respondeu na bucha, que estava pouco se lixando para os bolinhos. Adalberto sorriu e antes que ela tivesse tempo de desv

A estóica antologia do bimestre

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Não...não faça isso. A regra desse post é ler os comentários e imaginar sua própria história, jamais volte aos textos para entender os contextos. Agosto foi mês de cachorro louco, setembro de vacas magras, aí seguem os melhores comentários do bimestre: Me enganei. É "pé de tango" É duro ser metaleira. imaginei em que árvore estará a edicula... Não sei quem casou-se com quem. Vou para o Bosque Encantado Realmente estes parasitas fazem uma farra doida só não me recordava mais de "quem era quem" Elogio a tua loucura! É importante entender a situação de Plutão. Digno de se ler degustando uma ambrosia Talvez um dia, pelo fato de falar russo, encontre um ser humano que vá me entender! Cebolas, Adiron? Cebolas!?!? Mas,ouvi falar em outros tempos, que o perigo era a saliva você não me liga e eu não te telefono! tô melodrámatica acho que vou lavar rúcula... Me deu vontade de comer rúcula ! Vai ter certificado? Você poderia fazer o favor de perguntar a ele se tem algum apart

Nova descoberta científica

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Uma das especialidades bizarras desse blog é a etimologia analítica cataclítica, ciência que estuda a origem de clichês de palidez cadavérica. Depois de décadas de estudo dos xilógrafos da biblioteca de Alexandria, nossos pesquisadores descobriram a origem da famosa expressão "Jingle Bells". Na segunda metade do século XIX, os dingos, espécie de lobo australiano, assolavam as fazendas de criação de ovelhas do sudeste do país. Como os animais se reproduziam mais rapidamente que a capacidade ecônomica dos fazendeiros de comprar munição, foram desenvolvidos meios alternativos para manter os bichos afastados das deliciosas costeletas de cordeiro ao molho de menta. Uma delas, seguindo a famosa fábula de Esopo, foi a de pendurar guizos no pescoço dos dingos, numa faixa de frequência sonora que assustasse as ovelhas. Sendo a Austrália um país que fala uma corruptela da língua inglesa, os guizos foram patenteados com o nome de "dingo bells". As

Ars gratia artis

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A polêmica deve ter surgido quando o primeiro australopiteco acabou seus primeiros desenhos nas cavernas de Altamira, seu companheiro de moradia olhou para aquilo e perguntou: "- Será isso arte, ou não?" Diz a lenda que eles se chamavam Caim e Abel e que a discussão não acabou bem. Tecnicamente, arte (Latim Ars, significando técnica e/ou habilidade) é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores, dando um significado único e diferente para cada obra de arte. Uma definição bastante ampla que poderia ser resumida em "qualquer porcaria é arte", uma vez que nesse espectro, até esse texto pode ser considerado como artístico. No sábado passado, por indicação de uma professora de pintura fomos (eu, Virginia e as crianças) ver "Em Nome dos Artistas", um imenso panorama da arte contempor

Constatações desaforísticas

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Constatação bioquímica: meu pH está cada dia mais baixo Constatação pragmática: quando precisam de você, você é importante, quando não precisam, você se torna invisível. Constatação culpabilística (d´aprés Saint Exupéry) : você se torna eternamente responsável por qualquer desgraça que aconteça Constatação telemarketelógica: Eu vou estar verificando, para estar respondendo e retornando a sua ligação. Constatação cocinelídea : em boca fechada não entra joaninha Constatação globalizada : o mundo gira, a lusitana roda, e a economia só derrapa

Uno

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Depois de muitas aulas e muito ensaio, começa a sair alguma coisa

Árvore geneilógica

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Quando a prima do meu tio casou com o irmão da cunhada da minha mãe o caos instalou-se na família. Ela, que era casada em primeiras núpcias com o falecido concunhado da minha sogra, repentinamente tornou-se prima em segundo grau dos próprios filhos. Não bastasse o fato de que ela agora era nora da sua tia, ele também deixou de ser uma parente por afinidade para tornar-se irmão de sangue da minha sobrinha. Vovó quase enlouqueceu-se ao descobrir que sua filha caçula, agora era sua sobrinha-neta por parte de pai, da enteada de sua tia-avó. Vovô passou a chamá-lo de netinho, mesmo sabendo que ele se tornara nada menos que o irmão de seu próprio pai. O padre que realizaria a cerimônia de casamento, nada ortodoxo, teve dificuldades em organizar pais e tios no altar, uma vez que ninguém tinha muita certeza do que era antes ou seria depois da oficialização do matrimônio. Quando o juiz de paz, que também era parente, descobriu que essa reorganização familiar dele o irmão mais velho da sua mãe,

Primaveril

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Saudei-a com fosfóreos rabanetes Entre messes e entre tantos flertes Periféricos astrolábios acusavam Os contos os cantos acicutavam Dentre os ais, aí infindos gorgulhos Desabavam noz moscada em meus orgulhos Plácidos, ébrios, pirotécnicos Melros flanavam esotéricos Veio a estação, primaveril e ousada Nabucodonosor estirado na calçada Pintava a alho e óleo a margarida Desentupindo o ralo dessa vida Claudiquei claudiquei claudiquei Absorto entre o bobo e o rei Dormi o sono dos inocentes úteis Trajando meus pijamas inconsúteis.

Caso de polícia

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Ao chegarem ao "Verme que ri", seu restaurante preferido, Oxíuro e Filária nunca imaginaram que dariam de cara com Sólium e Saginata, na mesa ao lado. Até porque eram dois chatos da tribo dos platelmintos e, como é de conhecimento geral, nematelmintos como Oxíuro e Filária, não toleravam a tribo rival. Primeiro foi uma troca de olhares hostis, depois a provocação sussurada de Oxiúro, que se referiu a Solium como "aquele porco". Foi o suficiente para Saginata atirar o conteúdo do seu copo de água suja em Filária, aos berros. "Sua elefantinha!" bradou Saginata. "Sua vaca!!" redarguiu Filária. O bate boca chamou a atenção de outro casal de natelmintos que estava na mesa do fundo. Ancilostomo e Lombriga, logo vieram ao socorro dos cotribais. Em maioria, começaram a partir para ofensas hermafroditofóbicas e hidrofóbicas. Solium e Saginata já estavam se sentindo acuados quando viram, passando pela rua, seus amigos Esquistossomo e Planária. Pediram soc

Stultitiae Laus

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Quando Anoia chegou em casa, sua mãe, Frescura discutia com Plutão, recém rebaixado da sua condição planetária. A mãe acusava o pai de misoponia e destempero. Anoia, não abriu a boca, sabia que, caso o fizesse, ela seria responsabilizada pela situação. Não era esse o seu desidério, a menina era viciada em discursos laudatórios, quando não os recebia vitimizava-se e, não raramente, exaltava-se. Frescura olhou para a filha, esperando a oportunidade de transferir a culpa do bate boca para a filha. Plutão, desviou o olhar, como se não percebesse o que estava acontecendo. Nada falando, além de saudar os pais, Anoia foi diretamente para o quarto, onde encontrou sua irmã Philautia que, por sua própria natureza, também não quis saber da retórica materna. Anoia recostou-se na cama e mandou um torpedo para o seu namorado, Kolakia, um jovem grego versado na arte da adoxografia. Chamou-o para sair, ela estava carente de sua loas, especialmente as que eram temperadas com sal. Kolakia não pensou du

Um amor de Babel

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Conheceram-se na cabine de tradução simultânea da ONU. Bora, croata, falava além da sua língua, alemão, inglês e albanês. Carolina, equatoriana, falava espanhol, francês e italiano. A paixão foi à primeira vista, mas mão conseguiam se comunicar. Bora matriculou-se num curso de espanhol, mas teve de abandonar pois o emprego exigia que falasse russo em três meses. Carolina tinha dificuldades em línguas não latinas e, para aumentar sua renda foi aprender romeno. Só conseguiram marcar um primeiro encontro graças ao tradutor etíope que falava inglês e espanhol. Foram jantar num restaurante judaico, sem saber o que pedir, ficaram um olhando para o outro enquanto um borsht esfriava à frente deles. Voltaram para casa em silêncio, mas o beijo de despedida misturou as línguas. No dia seguinte, o embaixador alemão reclamou que não conseguia entender uma só palavra falada por Bora. O adido militar do Panamá ficou sem saber exatamente o que Carolina quis dizer com " kemijsko

Novos aforismos

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Mensagem Maus jogadores são sempre maus perdedores Não se surpreenda com as minhas ações, elas são apenas a execução das minhas convicções A liberdade de expressão é a liberdade de dizer a verdade (e com educação) Nada mais oximórico que um verdadeiro mentiroso Quem não tem cão caça sem precisar levar saquinho para recolher cocô. Mais dia menos dia e você acaba sem dia nenhum

Rapidinhas

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Lógica estruturada No meio da lua de mel ele não resistiu e declarou: "- Meu bem, agora eu posso te beijar em qualquer lugar..." "- É verdade querido, mas não qualquer lugar ao quadrado." "- Como assim? Ao quadrado?" "- Não pode ser em qualquer lugar em qualquer lugar." "- Você bebeu muita champagne, docinho?" "- Pensa um pouco. Você pode me beijar em qualquer lugar em poucos lugares e se quiser me beijar em qualquer lugar nao poderá ser em qualquer lugar." "- Hein?!?" Naquela momento ela percebeu que o casamento não ia durar muito. Semântica Ela sempre confundia alhos com bugalhos . Abastecia a despensa com excrescências da azinheira do fundo do quintal e, não poucas vezes, cozinhou o spaghetti ao bugalho e óleo. Já o alho que a mãe insistia em trazer da feira, era lançado no jardim para alimentar as vespas. Teria levado a vida sem sobressaltos se não tivesse sido

Pelo telefone

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José já era bem passado dos trinta anos quando resolveu que estava na hora de morar sozinho. Sua mãe lhe deu todo o apoio, mas os amigos acharam que ele estava fazendo uma maldade deixando-a sem companhia. Os irmãos, mais velhos e casados, não falaram nada, mas também não ficaram satisfeitos com a mudança. Para não causar muito stress, José foi morar a poucos quarteirões da mãe. Ajeitou-se bem num pequeno apartamento e, com a ajuda de Rosana, sua namorada, decorou-o sem exageros e com bom gosto. Assim que sentiu que estava devidamente instalado avisou os amigos sobre o novo endereço e o novo telefone. O que ele não esperava é que o telefone nunca tocasse. Não que não funcionasse, ele fazia ligações normalmente e quando ligava do celular para o fixo era bem sucedido. Depois de 6 meses ele era capaz de contar nos dedos das mãos as ligações recebidas. Duas ligações de televendas, uma por engano e uma de Rosana (que preferia ligar no celular) e uma da mãe avisando que