A ilha pornográfica

Ana Maria não entrou na cabina, porque as nossas praias não tem mais cabinas para as pessoas colocarem seus maiôs.

Chegou à praia num biquini legal, no sentido jurídico da palavra. Afinal, sempre fora uma garota muito comportada.


O que não impedia que ela tivesse passado por uma certa, digamos, modernização. Usar biquini era um exemplo disso.


Talvez o fato mais marcante dessas suas mudanças é que ela aceitou o convite do namorado para passarem um final de semana na praia.


Quartos separados, é claro. Mas, pelo menos, estavam dormindo debaixo do mesmo teto.


Claro que as amigas da faculdade não acreditavam nisso, mas Ana Maria não dava bola para o que os outros pensavam.


Eduardo, o namorado, era um sujeito liberal. Nem sempre concordava com as atitudes da namorada, mas as respeitava, em nome do amor.


Naquela manhã, estavam passeando de mãos dadas na praia quando viram um cartaz nuns barcos de turismo


Eduardo pegou o folheto e começou a examinar. Gostou de um deles e sugeriu a Ana Maria:


" - Que tal a gente passar o dia, amanhã, na Ilha do Pelado?"


Ana Maria ficou escarlate, depois vermelho cádmio, depois magenta, depois violeta cobalto e já estava quase azul da prússia, quando disparou:


" - Seu safado, sem vergonha, canalha... quem te deu a liberdade de me propor esse programa pornográfico?"


Eduardo emudeceu. Olhou para o folheto. Olhou para Ana Maria. Olhou de novo para o folheto e teve um acesso de riso.


Quando se recuperou do ataque de gargalhadas Ana Maria já estava longe, pegou um táxi até a rodoviária e, de lá, o ônibus de volta para Lorena.


Nunca mais quis ver o mar.

*Imagem: foto da Ilha do Pelado, tirada a partir da praia de Sâo Gonçalo em Paraty

Comentários

Taty disse…
Eduardo merece mulher bem melhor do que Ana Maria...será que no caminho ela acha um convento? Beijos
O Tempo Passa disse…
Tadinha da Ana!!! Também, que nome pra uma ilha!!!!
clau disse…
Me identifiquei com este seu post no sentido de que o meu pai era nascido em Lorena e que a sua família era de lá. Só espero que a sua Ana Maria não seja uma nossa parente... Hihihi!
Bjs!
Arimar disse…
Fábio.
Deixa o tempo passar, deixa!!
Logo veremos Ana Maria organizando excursões para lá.
Beijos.

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Embriaga-te de Baudelaire