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Mostrando postagens de 2009

Férias coletivas

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Vou tirar um mês de férias e, durante esse período os blogs não vão ter atualização O que não significa que você não possa visitá-los e ler algum dos 1.021 textos espalhados pelos 4 blogs que eu publico Mens Insana Inclusão: ampla, geral e irrestrita Espicaçando o Marketing Calvinistas, graças a Deus Como alguns engraçadinhos tentam usar a área de comentários dos blogs para mandar spam e eu não estarei aqui todo dia para lê-los, durante esse período os comentários serão moderados antes da publicação, quando voltar tiro a moderação. Um abraço a todos e até a volta

O sinesíforo e a princesa

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Sérgio olhou para a fachada do prédio e se sentiu intimidado. Parecia luxuoso demais para ele. Constrangido falou com o porteiro e em minutos estava na porta de serviço do apartamento 31. Uma empregada lhe recebeu e pediu que ele se sentasse ali mesmo na cozinha que, em breve, a patroa viria conversar com ele. Não estava acostumado a negociar com mulheres, geralmente eram os maridos que se encarregavam disso. Não demorou muito e ouviu vozes. A empregada conversava com alguém. Antes que entendesse o que estava acontecendo a porta abriu e Carolina entrou. Se já estava constrangido com o luxo do lugar, ficou ainda mais com a figura dela. Não fazia o gênero árvore de natal da patroa anterior, pelo contrário era uma mulher linda e elegante sem recorrer a artíficios pirotécnicos. Ela olhou para ele, mediu-o de cima abaixo enquanto o cumprimentava. Fez as perguntas de praxe sobre experiência, empregos anteriores, motivo que o fizera sair do último emprego. Também fez algumas perguntas pessoas

Estrelas gêmeas

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Cláudio saiu na varanda e começou a olhar para o céu. Era uma noite clara e o céu estava repleto de estrelas. Pouco antes tinha lido no jornal a respeito de uma nova descoberta do Hubble , um grupo de centenas de estrelas azuis cercadas por nuvens brilhantes. Apesar de sabê-las perto o suficiente da Terra para ser fotografada pelo super telescópio, ele não tinha a ilusão de que avistaria os astros da nebulosa de Tarântula da sua sacada. O que não impediu os seus devaneios. Olhava para o céu mas o que via não eram as estrelas dessa nebulosa distante. Aliás nem as próprias estrelas da Via Láctea ele avistava. Só conseguia ver suas duas estrelas azuis que moravam entre nuvens com brilho de champagne. Não pensava na origem ou desenvolvimento de outros astros que não fossem os que lhe pertenciam. Muito menos imaginava como seria o desenho da nebulosa aracnídea, até porque sempre preferira as cobras. Sentou-se na cadeira de palha, continuou olhando o céu. A noite exalava perfumes de flores.

A volta de Humhummer

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A notícia se alastrou rapidamente no vilarejo. Humhummer estava de volta à região. As mães saíram pelas ruas em busca dos filhos e, com eles, se trancavam nas casas. Os homens voltaram do campo e se reuniram na casa do burgomestre. Na sua última passagem pela vila, o terrível ogro tinha provocado grandes estragos. Atacava as pessoas, os rebanhos, aterrorizava a todos. Poucos tentaram enfrentá-lo. Os que voltaram tinham feridas na jugular. Sobreviveram, mas nunca perderam as cicatrizes. Dessa vez não havia mais nenhum valente disposto a confrontar o monstro. Pensaram em já separar parte do rebanho e deixar no caminho, de forma que ele se afastasse saciado. O problema é que nenhum criador estava disposto a ceder parte dos seus animais. Cada um só pensava no seu próprio umbigo. O debate na casa do burgomestre só silenciava cada vez que o urro de Humhummer ecoava na floresta perto da vila. Já passava da meia noite e os urros pareciam cada vez mais próximos quando alguém bateu na porta. A m

O enigma

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Quando abriu a porta do quarto André encontrou o envelope no chão. Antes de pegá-lo olhou para os lados para se certificar que não havia ninguém no corredor e, por via das dúvidas, chutou o envelope para dentro, fechou a porta e, enfim, recolheu-o. Estranhou a cor lilás do papel. Não era o padrão que costumava receber. Concluiu que a mensagem não tinha vindo do comando e ficou preocupado. Há mais de um mês estava refugiado naquele hotel em Riquewhir se passando por um escritor que precisava de tranquilidade para trabalhar. Só três pessoas do comando sabiam da sua missão. Só uma, a sua localização. Certificou-se que o envelope não tinha cola demais, nem algum fio escondido. Concluindo que não era uma carta bomba, pegou o estilete e o abriu. Era uma folha de seda muito fina, onde se lia: ognь огонь (ogon') вогонь (vohon') агонь (ahon') ogień oheň oheň ogenj огањ (oganj) ogenj oganj огън (ogan) оган/огин (ogan/ogin) ryba рыба (ryba) риба (ryba) рыба (ryba) ryba ryba ryba riba

Pó lainas

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As polainas. como todos sabem, foram inventadas pelos índios Mohawks no século IV a.C. Durante muitos séculos essa invenção foi disputada pelos seus rivais, os Choctaws. O assunto só foi decidido em favor dos primeiros, durante o histórico julgamente mediado pelo general Custer no vale do Pequeno Grande Chifre. Originalmente o seu uso servia apenas para evitar que carrapichos e carraptos aderissem às canelas dos aborígenes que usavam apenas mocassins. Foram as mulheres cheyennes que, ao desenvolver pigmentos que pudessem ser usados em couro e tecidos, passaram a usar as polainas como adereço. Não demorou muito para que os guerreiros sioux, especialistas em simbologia militar, adotassem as polainas coloridas como forma de sinalização. Muito antes da cavalaria rusticana usar a bandeira branca como sinal de paz, os sioux já sinalizavam o fim das hostilidades com suas polainas dessa cor. O vermelho era sinal de guerra e o verde sinaliza que era hora dos guerreiros pararem de brigar e cuida

Cartão de Natal

E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem. Lucas 2:13-14 Não sei qual é a sua expectativa para esse Natal. Geralmente recebo várias mensagens me desejando sorte, prosperidade, saúde e outras benesses terrenas e materiais. Eu não tenho expectativa nenhuma. Não preciso ter expectativa de receber nada melhor do que o que eu já recebi, que foi a vinda de Deus encarnado para remir os meus pecados e me dar, gratuitamente, a salvação. O meu Natal será a comemoração desse presente que, mesmo não merecendo, eu recebi. O meu desejo e a minha oração é que você também seja destinatário desse presente e que nunca mais precise trocar o maior presente de Deus pelas migalhas oferecidas pelos homens.

Poema novo

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Eu colorido Ela preto Eu café Ela leite Nós xadrez Eu samba Ela valsa Eu bolero Ela foxtrot Nós tango Eu salgado Ela doce Eu frito Ela assado Nós temperado Eu Beethoven Ela Mozart Eu Gershwin Ela Porter Nós canção Eu Borges Ela Sábato Eu Neruda Ela cummings Nós poesia

Sinapse labial

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Não existe nada mais sináptico que um beijo. Beijo beijo eu quero dizer, não aquelas trombadas de bochechas que as pessoas se dão jogando beijos no espaço sideral. Beijo que alguns chamam de novela e que os ingleses chamam de beijo francês (nunca me explicaram como é o beijo inglês, mas vitorianos da forma que são, deve ser algo bem sem graça). Sinapses, nos explica a neurologia são as regiões de comunicação entre os neurônios. Para que neurônios vizinhos se comuniquem são necessários alguns mediadores físico químicos chamados de neurotransmissores. É verdade que um beijo acaba com qualquer neuras, mas sempre é um transmissor de primeira. Sendo uma sinapse a transmissão de estímulos, o encontro lábios é algo que consegue elevar essa transmissão a faixas de frequência que Herz jamais imaginaria existirem. Na sinapses labiais não existem fendas sinápticas, aliás não existe nada entre os lábios, um beijo efetivamente sináptico é aquele que não deixa passar nem um fio de cabelo, ainda que,

Einfühlung

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Olavo tinha acabado de lançar seu quarto longa metragem. Desde que lançara o bem sucedido "Um amor improvável", todo ano rodava um novo filme. Um melhor que o outro. Era convidado para palestras e para festivais por todo país. Os críticos o admiravam e diziam que tinha atingido o ponto sublime de perscrutar a alma humana, particularmente a alma feminina. E a cada novo filme, Olavo surpreendia a todos, conseguia ser mais profundo e, ao mesmo tempo mais claro e objetivo. Todos queriam saber o seu segredo, de onde tirava as idéias e, principalmente, como conseguia ser tão sensível ao universo feminino. Todos os seus filmes tinham como protagonistas mulheres. Para Olavo isso lhe parecia tão simples. Sempre que questionado dizia que sua musa o inspirava. O que gerava ainda mais curiosidade pois ninguém sabia que musa era essa. Olavo nunca era visto com ninguém. Apesar de conviver com várias atrizes sempre mantinha uma distância profissional delas. Nas poucas vezes que era visto em

A cor da alfazema

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See, how she leans her cheek upon her hand! O, that I were a glove upon that hand, That I might touch that cheek! (Shakespeare) Estudar poesia estraga os poemas ele costumava dizer. Para que diabos alguém precisa explicar um poema? É como explicar o por do sol ou uma noite de lua cheia. Ela já conhecia seu discurso, o que não a impedia de o olhar embevecida cada vez que ele recomeçava. Ele continuava discorrendo sobre a música de Mozart ou de Cole Porter. Para que ler as críticas? Sente-se tudo, ou não tem valor nenhum. É como se alguém olhando uma flor de alfazema tentasse explicar a química dos pigmentos. Você olha a flor e se encanta. Ou não. Você sente seu perfume e sonha. Ou não. Não existe explicação que possa definir a beleza. Não há exegese para a emoção. Ela suspirou profundamente. O sorriso encheu seu rosto. Ele a olhou. Por alguns minutos ficou imóvel com o olhar fixo na sua direção. Ela o olhou. Com o queixo apoiado na sua mão esquerda. Ele não resistiu. É como tentar expli

De que lado você está?

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Existem muitas decisões na vida de um casal recém formado que são cruciais para o bom desenvolvimento da união. Se vão ou não ter filhos. Se sim, quanto vão esperar para ter o primeiro. Se o casal vai ter conta conjunta no banco ou continuarão com contabilidades separadas. Se continuarem com as contabilidades separadas quem fica responsável pelo pagamento das contas. Essas e outras decisões são tomadas de forma metódica e, geralmente, lógica. Até imagino os muitos argumentos a favor e contra de cada uma. O que sempre me intrigou, no entanto, é uma decisão prosaica, mas que pode desequilibrar o acordo matrimonial: como é escolhido o lado da cama que cada um vai dormir? Claro que essa decisão só se aplica a casais que, pela primeira vez na vida, vão abandonar suas camas de solteiro e enfrentar o desafio da cama conjunta. Quando um dos nubentes é canhoto imagino que a decisão seja relativamente fácil, mas quando os dois tem a mesma lateralidade quais são as bases de escolha? Imagino que,

Uma odisséia em zD1

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Ano terrestre 3045, 5 de março Rosalina estava pronta para partir. E não era uma partida qualquer, ela seria a primeira astronauta a tentar atingir A1689-zD1, a mais distante galáxia conhecida da humanidade, depois dela nada mais se sabia. Estava preparada para uma longa viagem. No tempo terrestre a ida e volta durariam mais de 50 bilhões de anos, mas não era isso que a preocupava, já que no 4º milênio os seres humanos tinham se tornado quase imortais e viviam bem mais do que isso. Ouviu o fim da contagem regressiva e partiu. Ano terrestre 3045, 13 de março Ellypticus One, o foguete de Rosalina acabara de ultrapassar a lua. Ela olhou pela janela e lembrou das músicas e dos poemas que conhecia sobre o satélite. Ao longe reparou nas cidades que tinham sido construídas no mar da tranquilidade, tanta luz que, olhada da Terra, a lua se tornara cheia permanentemente. Aumentou o som da cabine, mais uma música de Walton começara. Ano terrestre 3045, 27 de julho Prestes a sair da Via Láctea rec

13 passos para comemorar

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Existem momentos e datas que merecem mais que uma simples comemoração, precisam ser lembrados pela eternidade. Ao melhor estilo americano, aproveito o dia 13 para dar um roteiro de 13 passos para fazer um jantar memorável. Todas as sugestões que dou aqui foram testadas e posso garantir que os resultados ultrapassam qualquer expectativa. 1. Antes de mais nada as pessoas, convide para esse repasto pessoas que sejam interessantes, agradáveis e, claro que digam algo ao seu coração. Os dois primeiros aspectos são importantes, mas não querem dizer nada se o último não estiver presente. Sem motivação emocional, a festa pode ser significativa, mas não vai deixar lembranças duradouras. Por outro lado, se as pessoas forem realmente as mais importantes da sua vida, você pode até servir pipoca. 2. Comece a refeição com uma salada. É sempre uma forma fresca de se abrir o apetite. Eu recomendo saladas coloridas, uma vez que as cores alegram a vida. Alfaces, raddichios, cenouras pigmentam bem o prat

Primeiro amor

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Como qualquer adolescente Júlio sofria com as mudanças que a sua vida enfrentava. Os hormônios não lhe davam sossego e, como se não lhe bastassem as mudanças que o seu corpo passava, ela ainda era afetado por questões emocionais. Não que essas questões lhe soassem ruins, pelo contrário, ele mesmo reconhecia que quase todas eram muito boas, mas existiam momentos em quem não sabia exatamente como lidar com elas. Uma delas era administrar sua paixão por Manoela. Era seu primeiro amor. Surgiu de forma imprevista e violenta, arrastando todos os seus pensamentos só para a namorada. Sua mãe reclamava que ele, um ótimo aluno, não estudava mais, que dormia pouco e estava comendo mal. Apesar disso, o menino continuava a dar conta das suas obrigações. A paixão também transformou muitos dos seus comportamentos e acentuou outros. Nesse ponto, ninguém reclamava, nem os pais, nem os professores que percebiam que ele tinha se tornado muito mais carinhoso e atencioso com as pessoas, ao contrário dos se

A mulher perfeita

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Ela é alegria em todos os momentos Ela é emoção nas grandes e pequenas coisas. E também emocionante. É criança, adolescente e mulher Ela é passado, presente e futuro. É o conhecido e o surpreendente. É o velho, o novo e o que ainda nem foi descoberto. Ela é simples e complexa, séria e descontraída. Beleza e elegância, charme e brejeirice Atraente e atraída, vida e muitas petites-mortes. Tudo numa só pessoa. Ela é a mulher perfeita A mulher que não existe.

Desembaraçados

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O preservativo que é conhecido popularmente como camisinha foi inventado no século XVI por um sujeito chamado Gabriele Fallopio (sério, nenhum trocadilho, talvez apenas um capricho do destino), o mesmo que identificou uma série de órgãos humanos como o ouvido interno, as trompas e o ligamento que levam seu nome. Também nomeou uma série de tubos do corpo. É importante notar que Gabriele tinha uma certa fixação pelos instrumentos de sopro de metal. A tuba do ouvido, as trompas. Se tivesse forma de tubo, era com ele. Talvez por isso mesmo tenham sido o inventor de um produto que entuba os falos. O objetivo da criação da camisinha era meramente higiênico, ou seja, só para prevenir doenças. Fallopio, apesar de entender de tubos, talvez não entendesse muito bem do que circula por eles, e nem pensou na sua invenção como contraceptivo. O equipamento era feito de linho embebido em ervas, o que temperava qualquer relação. Quando foi substituído pela borracha, as pessoas passaram a usar lençóis d

Uma valsa

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Desliza flutua fluído algodão Nas nuvens suspira marcada emoção De um lado ao outro princesa e condão Me perco me encontro no seu coração.

O meu milésimo

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No último dia 19 de novembro o mundo do futebol comemorou os 40 anos do milésimo gol de Pelé (ele ainda chegou perto do 1300 gols na carreira), o primeiro futebolista a atingir oficialmente essa marca. Depois dele só Romário conseguiu o mesmo feito (apesar de ter apelado para jogos do infanto juvenil e amistosos bastante duvidosos). Millôr Fernandes foi outro que declarou que também tinha atingido a milésima. No caso dele, relação sexual. Apesar da sua lógica nas contas, ele nunca mostrou a súmula das suas performances. Hoje quem chega ao milésimo sou eu. Não é gol, até porque quando jogava eu era goleiro e nunca vi ninguém comemorar o milésimo gol tomado. Também não é relação sexual, eu nunca fiz esse tipo de contagem e, cá entre nós, isso é assunto meu com a minha mulher. Chego à milésima publicação de textos nos meus blogs. Comecei em Agosto de 2007 com essas insanidades. Em 2008 abri três novas frentes : em Março o Calvinistas e, em abril o xiita da Inclusão e o Espicaçando o Ma

Descântico dos cânticos

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Para quem não sabe Cantares (também chamado de Cântico dos Cânticos) é um dos livros poéticos escritos pelo rei Salomão. Uma poesia de amor e sensualidade dedicada à uma mulher sulamita, talvez a única que realmente tenha amado. O livro, como toda poesia de amor, é cheio de metáforas. Metáforas adequadas para a época em que foi escrito, é claro. Me peguei imaginando como essas figuras de linguagem poderiam ser adaptadas para o dia de hoje. Numa das suas falas, a sulamita se envergonha de estar morena. Hoje o verso seria: "não olheis para eu estar pálida, mas choveu muito nesse verão e o governo proibiu os equipamentos de bronzear.." Ele a compara "às éguas do carro do Faraó..." o que não caberia nem em música funk. Atualmente teria de dizer que ela era semelhante ao torque de uma Ferrari. "Os teus olhos são como os das pombas", não pega bem falar isso para a namorada do séc 21, talvez lentes de contato coloridas... "Os teus cabelos como o rebanho de

Sinestesias

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Ele a amava com desejos primários que variavam dos mais prosaicos aos mais complexos. Um amor frutado de emoções e florido de carinhos. Mas quando o amor fermentava eles percebiam que desejos secundários apareciam. Tudo ficava mais condimentado, não poucas vezes empireumático. Alguns brotavam subitamente como a ervas do campo, outros eram cuidadosamente cultivados, como vegetais. Ele a considerava uma especiaria. Ela admirava seu instinto animal. A química nunca deixou de existir entre os dois. O tempo passou para os dois e começaram a surgir desejos terciários, cheios de nuances, como uma madeira que adquire novos cromatismos com a idade. Como se minerais fossem, se fundiram num único diamante. Eterno.

É tudo química

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Uma ligação não se estabelece assim sem mais nem menos, quem acredita em acaso não sabe do que está falando. O acaso não existe. Antes de mais nada é necessário que o conjunto de forças atrativas seja mais forte que as forças repulsivas. Seja no centro, seja na periferia, mais dada a reações elétricas. As ligações têm somente um objetivo, que é o de garantir a estabilidade. Um objetivo nobre, diga-se de passagem. Quando a ligação é simples, entre pessoas razoavelmente similares, dizemos que são covalentes (a ligação e as pessoas). Nesse caso, por maior que seja a repulsão por motivos externos, os núcleos se aproximam e se apaixonam irremediavelmente. Algumas vezes, nem acontece nenhuma repulsão, e os seres envolvidos tendem a compartilhar sua própria energia, até quando essa seja instável. O resultado é um casal neutro, onde os excessos de um compensam a escassez do outro. Provavelmente um dos casos mais comuns de ligações. Por outro lado, também existem situações em que a energia de u

A apetecível antologia de Novembro

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Todos os meses seleciono aqueles que, para mim, foram os comentários mais exóticos dos meus leitores. Eles se tornam exóticos por que eu os tiro completamente do contexto para colocar aqui. Leia-os dessa forma, sem procurar o texto original, a leitura fica muito mais divertida. Tem cabimento isso? O seu zoológico está de lascar.. Ui, como eu estou musical hoje! Vou acordar depois eu volto... Os cílios deram nós de marinheiro ...estímulos para as erupções são sempre externos (salvo nas tpms) tem vezes que eu me assusto diante de seus contos... ...só consegui pensar azul... Pra que simplificar,se complicando dá o mesmo resultado... ...juro que eu preferi mil vezes bater os cilios assistindo ao video do Leonard Cohen. não consigo conceber o sabor... É bom receber dessa parte textos sempre vivos e concertantes... Adoro "porcaria"! Ah eu te ensino um receita de uma cucurbita recheada que é uma belezura! Deu até medo de ler... Eu não acredito que li isso até o final... Queria tanto

A punto de resbalar

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Ella es maravillosa es una estrella que calma tu alma Resbalando con mi cabeza hasta llegar Hasta lo más alto (La cruda) Estava a ponto de escorrer. Parou momentaneamente entre a íris e os cílios. Júlia parada defronte à carta que recebera não acreditava no que lia. Claro que isso era apenas força de expressão. Tanto acreditou que se emocionou. Tanto se emocionou que teve dificuldades para conter as lágrimas. Tanto conteve que não chegou a chorar. Mas uma delas ficou pendente até cair. Resvalando na maçã do rosto até chegar aos lábios. Um tempero de sal e de paixão.

Desaforismos inoportunos

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Não há fonoaudióloga capaz de ensinar a hora certa de se calar. Aceitação é uma maneira eufemística de comiseração Seus sonhos eram de princesa, suas conquistas de mulher. O centro do homem não é o pensamento mas o umbigo. Relacionamentos duradouros sempre são os mais maleáveis. A arte não imita a vida. É a vida. Não fale com uma porta, prefira as paredes que não são volúveis. Se a valsa lhe assusta, dance um tango.

Conto de fadas

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Nunca tinha dado muita importância às janelas do prédio vizinho, apesar da pouca distância que estavam da minha. Voyeurismo nunca foi meu ponto fraco, e esse negócio de ficar olhando escondido atrás das cortinas sempre me pareceu coisa de adolescente. Até o dia em que a sala estava com as cortinas escancaradas e, da minha, janela, vi um vulto feminino no escuro de um quarto. Não dei muita atenção mas, quando passei novamente pela sala a vi no mesmo lugar, olhando, achava eu, na minha direção. Aquilo me incomodou. O que é que aquela mulher tanto olhava em direção à minha casa? E por quê com tamanha concentração. Fechei as cortinas e fui dormir encafifado. Na manhã seguinte não resisti e fui olhar. Ela ainda estava lá. Com a luz do dia me dei conta do meu rídiculo, era uma figura de uma silhueta presa na parede. Só um rosto desenhado até a linha do pescoço. Ri de mim mesmo e fui trabalhar. Contei a história para alguns colegas que também se divertiram às minhas custas. Estranhamente eu n

Para falar das flores

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Naquela noite Cristiano deixou Rosana em casa e vagou de carro pelas ruas. Estava apaixonado e encantado demais para voltar para casa e dormir. Quando passava pelo largo do Arouche viu as bancas de flores abertas. Parou. Entrou em uma onde o vendedor solitário estava sentado num canto. " - Preciso da sua ajuda. Que flores eu mando para a mulher mais maravilhosa do mundo?" O vendedor sorriu. Seu nome era Ciro,um romântico que admirava homens apaixonados. " - Pois não. Mas acho que preciso de um pouco mais de informação para te ajudar. Tem idéia de que tipo de flores ela gosta." " - Não faço a menor idéia. As melhores e mais bonitas." "- A beleza das flores vai depender de como ela encara a vida. Mas se é a primeira vez, vamos ficar nos clássicos." Cristiano comprou uma dúzia de rosas champagne (o vendedor não recomendou cores fortes) e mandou entregar. Voltou na semana seguinte. Para agradecer o florista e para comprar mais flores. " - Ela ad

Dante e Beatriz

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...che nessun la si può recare a mente, che non sospiri in dolcezza d'amore. (Dante Alighieri) Muito jovens se conheceram, mas não passou de um encontro fugaz. Apesar disso, Dante gravou na sua mente a imagem de Beatriz, e nunca mais se esqueceu dela. Tinham a mesma idade, ou algo muito próximo disso. Cresceram separados. Os poucos encontros que tiveram não permitiram que se conhecessem de fato. O que não impediu Dante de ser eternamente apaixonado por ela. Um dia, Dante começou a ter visões de Beatriz. E as visões se multiplicavam de tal forma que começou a anotar e arquivar cada uma delas. Ele tinha a impressão até de que estava roubando algo da amada. Ela nem sabia que o fato estava ocorrendo. Nesse momento ele ensaiou uma aproximação sem muitas perspectivas, apesar disso ela deu sinais que percebia sua existência. Ele já estava começando a ficar animado quando, um dia, ela desapareceu sem deixar sequer sinais de fumaça. Ninguém mais tinha notícias dela. Tentaram falar com o pa

Nem às paredes confesso

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Mário era um sujeito com uma vida sólida e tranquila. Desde jovem tinha se estabelecido objetivos e, um a um, tinha alcançado todos. Alcançara sua estabilidade financeira. Formara um patrimônio que lhe permitia viver confortavelmente. Casara com a mulher que gostava. Teve filhas, que já estavam moças e quase independentes. Tinha uma vida muito ativa. Além do trabalho praticava esportes, estudava música e frequentava um clube de discussões literárias. No entanto, apesar de todas essas coisas, ele não era um homem feliz. E ele sabia o porquê. Por mais de 30 anos tentava envolver sua família naquilo que ele fazia e não tinha resposta ou, quando tinha, era pior ainda pois só desvalorizavam seus méritos. Passou a falar cada vez menos. Quanto menos falava, mais inconformado ficava, uma vez que ninguém se dava conta disso. Ele até entendia as filhas, estavam moças e tinham outras preocupações. Mas jamais entendeu como é que a mulher o ignorava daquele jeito. Exceto no dia em que ela chegou em

Óleos essenciais

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Antonio chegou em casa já tarde, mas completamente sem sono. Tirou a camisa com todo cuidado e colocou-a em cima da cama. Começou a remexer em todos os armários, inspecionou cada um dos maleiros, revirou a despensa e não encontrava o que queria. Sentou-se à beira da cama e respirou fundo. E aí é que ficou mais ansioso para resolver o seu problema. Pensou em vidro, metal, papelão, nada lhe parecia adequado. Os saquinhos para congelar alimento não eram suficientemente grandes. Plástico. Era isso. Mas precisava ser um plástico que não tivesse cheiro. Ligou o computador e foi pesquisar. Encontrou um lugar que tinha exatamente o que ele queria. Mas teria de esperar até o dia seguinte. Como faria durante a noite? De qualquer forma, faltava pouco tempo para amanhecer. Ficou acordado. Às 7 horas estava na porta da loja que só abria às 8. Quando o primeiro funcionário chegou ele disse o que queria. Pagou em dinheiro, não quis que embrulhasse. Voltou rapidamente para casa com a caixa plástica e

Uma história de mattoso

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Marduque oscitava o dia inteiro coçando a omocótila observando o mareorama. Não passava de um arrieiro descansando o obélio sobre o escabelo. No entorno proximal avistava urodelos concóides cernindo-se até mirrar, como se fosse um venador de rinofimas. Uma manhã, entre estapes e amarantáceas, avistou o epacmo de um garotil que papujava numa tessitura sarilha. Acinésico, refugiou-se no ichó para não demonstrar seu inotropismo. Foi alcançado pelo janízaro que, à socancra, o malbaratou com o fanal. Arriscou um propinamento espagiríta. Recebeu de volta apenas increpações. O que não lhe devolveu miosina à sua acnemia. Obcordado, foi lançado onticamente na libata cacósmica, sob a acusação de ser um tafulão que atentava contra o uxório. Sentiu que o ecúleo lhe seriapintalgado de câncaros. Seu anapesto foi julgado uma laracha repleta de secância. Admoniu que sua egéria o levava a escorços cheios de fidúcias. O uale o condenou a prisão nos soles, sem acesso ao mégaro e sem adimentos de tretas.

Ela pôs o pé na sauna

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Luísa passava o final de semana num hotel em Visconde de Mauá. Era a primeira vez que ia para o lugar e, também a primeira que ficava num hotel de chalés. O lugar era bonito, amplo. O quarto também. A cama larga, a decoração elegante. Como era seu hábito em qualquer lugar estranho que conhecia ela resolveu explorar os seus detalhes. Foi até o bloco principal do hotel, viu o restaurante, a sala de jogos. Quando viu a placa indicando a sauna ficou curiosa. Claro que ela sabia o que era uma sauna, mas nunca tinha entrado em uma, até porque lhe soava como algo suspeito. Mas estava sozinha e não custava nada ver exatamente como era. A placa na porta dizia "Sudatorium". Descobriu que funcionava pela manhã para os homens e, à tarde para as mulheres. Entrou. O local estava vazio. Era um vestiário com bancos e armários de alumínio e uma porta de vidro. Abriu a porta e não viu nada além de um espaço todo coberto de madeira. Na parede um botão. Apertou. Assustou-se com o vapor que começ