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Mostrando postagens de novembro, 2011

Manias

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Carlos estava longe de ser um sujeito ingênuo ou do tipo que se chocava com o inusitado. Durante toda a sua vida profissional conhecera pessoas com os mais diversos tipos de taras e fetiches, alguns deles tão insólitos que sequer apareciam nas ferramentas de busca da internet. Quando foi chamado pelos parentes de Edileuza achou que seria apenas mais um caso corriqueiro. A família estava desesperada com a idéia fixa da mulher. Carlos logo lembrou quee havia uma ligação direta entre a ansiedade e as idéias fixas por causa do que Jung postulou no passado. Chegou à casa de Edileuza e tocou a campainha. O som era diferente, parecia um conjunto de barras metálicas se chocando umas às outras. Ela abriu a porta. Logo no hall de entrada havia um modelo sanfonado de parede. Abertura de mais de 60cm ela falou, mesmo antes de dizer boa tarde. No teto um modelo bi plastificado pendia perigosamente sobre a sua cabeça, ele desviou, mas não percebeu que no chão havia um giratório eletrostático. Derrub

Meia luz

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Morocha era uma mulher de luz. Luz natural, é claro, detestava lâmpadas quentes ou frias. Não morria de amor por velas nem lamparinas. Sempre dormiu de janelas escancaradas, luz da lua, luz do sol e até a luz fugaz do cometa Halley iluminaram sua cama. Só colocou uma cortina translúcida quando construíram um prédio ao lado do seu e, mesmo assim, exclusivamente para preservar sua privacidade. Alfonso era o homem das trevas. Engenheiro de túneis, só tolerava iluminação artificial e, mesmo assim, só da casa para dentro. Odiava qualquer feixe luminoso que lhe atingisse exogenamente. Morocha usava roupas estampadas e coloridas, sempre muito leves. Alfonso só se vestia de preto, da sola dos sapatos aos colarinho das camisas. Encontraram-se numa praça, num dia de chuva forte. Morocha tinha sido pega de surpresa pela tempestade. Alfonso tinha saído justamente para aproveitar o clima sombrio. Sabe-se lá por que, sabe-se lá como, apaixonaram-se. Sabe-se lá como, sabe-se lá por que resolveram en

O discurso do olhar

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Não era a primeira vez que ele ouvia falar em linguagem corporal, mas era a primeira em que alguém lhe dava um roteiro mais detalhado. Ele estudou, observou, reparou. Aprendeu todos os truques e sinais. Aliado aos seus conhecimentos de análise de discursos, aprendido durante anos de leitura de Lacan e Barthes, julgou ser capaz de, praticamente, ler pensamentos e intenções . Exceto no dia que a viu pela primeira vez. Tentou entender seus movimentos, mas não conseguia manter a concentração fora dos olhos dela. Prestava atenção em cada palavra que ela pronunciava, esperava achar o significado oculto por trás delas. Nada. Quando foi dormir não conseguiu. Ficou tentando entender o que havia por trás daquele secreto discurso do olhar. Uma demonstração de poder de sedução? Um jogo provocativo à sua capacidade de entender as pessoas? Todas as leituras o levavam a crer que ela estava apaixonada por ele. O que era humanamente impossível. Propôs um novo encontro, passou horas em med

La nave non va

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As brumas envolviam o cais. As montanhas eram apenas vultos sombrios cobertas pela neblina. O barco estava pronto. Sófocles conversava com o capitão Paracelso, perguntando se seria conveniente sairem com aquele tempo. Apesar do hermetismo trimegístico do céu, o capitão garantiu que a segurança não estava comprometida. O conforto sim. Sófocles trocou meia dúzia de frases com Electra e decidiram zarpar em direção a Ítaca. Nem piratas, nem borrascas, nem dragões vão me impedir ...cantarolava Paracelso, enquanto os dois se acomodavam na proa. A navegação foi tranquila. Sófocles e Electra admiravam a vegetação das ilhas por onde passavam e, eventualmente avistavam basiliscos sobrevoando as praias. Chegaram a Ítaca para o banquete dos lictores. Degustaram mandrágoras, salsichas de javali de Erimanto regados a néctar e, claro, doses de ambrosia. Na hora de voltar a chuva começou. Nada ameaçadora. Cobriram-se com suas capas e embarcaram. Cansada, Electra, recostou no colo de Sófocles e adormec

Ora vá para o Catimbau!

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Mensagem Nada de sol, nem bacalhau Chovia muito no arraial Não caiu o nosso astral Pelas gambas do Catimbau Muita pedra, nenhum areial Nem pera nem bananal Olvidamos o cacau Traçando as gambas do Catimbau Nenhuma dor existencial Paisagem fenomenal Um olhar emocional Antes as gambas do Catimbau Declarei amor imortal Genuflexo no degrau Recebi amor igual Com as gambas do Catimbau