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Mostrando postagens de fevereiro, 2008

Constatações bissextas

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Anos bissextos (eu sempre achei que no ano bissexto, alguma semana teria duas sexta feiras) sempre provocam delírios numerológicos. Como eu nasci em um acabei ficando insano desse jeito. Além disso sempre gostei de números a ponto de trabalhar na única área do marketing que adora fazer contas e olhar planilhas - sim, admito, é uma espécie de perversão. De vez em quando vou até o Google Analytics dar uma olhadas nos números do Mens Insana . Cada vez que vou lá me dedico a um indicador diferente. Hoje olhei a distribuição geográfica dos leitores Desde sua criação tive 8.736 visitas que vieram de 46 países (27 idiomas) e 366 cidades que foram identificadas pelo espião oficial da net Claro que não é nada surpreendente que quase todos os meus leitores (mais de 90%) sejam do Brasil - como diz o Lou Mello , citando Paulo Brabo , isso não é um bom sinal, especialmente para quem almeja ser insano universal. Só da cidade de São Paulo foram 3.712 visitas. O segundo lugar disparado é de, pasmem, O

As múmias da Luz

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Os jornais divulgaram nos últimos dias a descoberta de duas múmias escondidas num vão de parede do Mosteiro da Luz, em São Paulo. Segundo os especialistas (o que é exatamente um especialista em múmias ? Um mumificador ou mumiólogo ?) são as mais bem conservadas de todas as encontradas no país. Imagino o susto que levaram os funcionários que as encontraram: foram caçar cupins e acharam cadáveres. Ter mortas, ao invés de termitas. Uma chama Maria Caetana e outra ainda não foi identificada. Não existem mais detalhes a respeito das duas. Os hieróglifos ainda serão desvendados por um neo-Champollion, até porque o original já está mumificado há mais de 150 anos. O que me chamou a atenção no caso é que hoje saiu uma notícia (capa do caderno de Cidades) que podem haver outras e já estão analisando as paredes em busca de múmias perdidas. Descobri que existe até um aparelho especial tanto. Eu nunca imaginei que múmias provocassem tal avanço tecnológico. De qualquer forma, algumas dessas afirmaçõ

As minhas carpideiras

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Para a Vilma, minha companheira na luta anti-carpideirista "Óh dia ! Óh céu! Óh azar... Isso não vai dar certo!" Quem foi criança nos anos 60 e 70 sabem de quem eu estou falando. Quem não foi já deve ter ouvido essa expressão de alguém mais velho. Hardy Har Har, a hiena coadjuvante do leão Lippy nos desenhos animados da Hanna Barbera era uma pessimista irrecuperável. Talvez tenha feito mais sucesso que o próprio protagonista das aventuras. Lippy sempre cheio de planos mirabolantes. Hardy sempre resmungando. Como uma boa anti-hiena nunca ria. Eu tenho encontrado vários Hardys pela vida, um grupo especial deles eu comecei a denominar de carpideiras. A carpideira é uma mulher que, mediante pagamento , chora o defunto alheio. Nunca entendi muito bem a lógica disso, fico imaginando que o defunto deveria ser tão ruim que a família preferia contratar lágrimas mercenárias para compensar as inexistentes. Mas já imaginei algumas negociações. O choro custa X por hora, mas o senhor pode

Pedra poema

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Pedra apoiada em seu peito Cena de cinema Uma gota de sangue. Brilho forte no pescoço Sem problema Sangue. Gota de sangue. Lânguida. Tênue. Simples. Primavera descobrindo Um dilema Gotas de chuva. De sangue. Uma pedra. Um brilho. Uma gota. A gota de sangue que existe Em cada poema.

Uma adega mais que mimosa

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Quase no meio do caminho entre Petrópolis e Itaipava, na estrada que vai do Rio para Belo Horizonte, existe um lugarejo chamado Vale Florido. O lugar não teria nenhuma projeção não fosse o fato de, entre a meia dúzia de ruelas que o compõem, está situada a Locanda della Mimosa, um hotel de apenas seis apartamentos e um dos sete restaurantes chamados de magníficos pelo guia 4 Rodas (junto com o Antiquarius, o Claude Troigros e o Cipriani no Rio de Janeiro, o Fasano e o Massimo em São Paulo e o Boulevard de Curitiba). A história da Locanda começou com a criação de enorme subterrâneo, a oito metros de profundidade, cuja construção foi feita em concreto maciço e toneladas de ferro. Depois de fechar esse este buraco com quatro metros de terra, estava criada La Cave, evidentemente, por ser Danio Braga, o proprietário do local um apaixonado por vinhos, não poderia deixar de ter uma adega de qualidade. Encravada embaixo da terra, a adega privilegia os cuidados especiais para os vinhos e se man

Depois daquele tiro

Conticulóides míticos

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Narciso Depois de analisar toda a topografia da casa, ela se enforcou diante do espelho. Até na morte sua auto estima vivia na estratosfera. Zeus Mesmo casado tinha uma namorada em cada canto e se achava o maioral da parada. Foi preso depois que sua mulher desistiu de perseguir as amantes e o denunciou na delegacia da mulher. Atena Não aguentava mais aquela enxaqueca, já tentara todas as ervas conhecidas e desconhecidas. Em alguns momentos teria dado com a cabeça na parede. Salvou-a um neurocirurgião com seus bisturis fundidos a fogo. Héstia A vida inteira foi uma dona-de-casa, vivendo às custas do aluguéis que recebia de imóveis recebida como herança. Tida como casta e pura, ninguém nunca soube das suas aventuras. Até o dia em que a polícia invadiu a casa e identificou o DNA de várias vítimas cujos ossos eram queimados na lareira. Perséfone Seus sumiços frequentes atormentavam a sua mãe, que caía em depressão todas as vezes que ela saia de casa sem dizer para onde ia. Só voltava 4 mes

Me engana que eu gosto

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O exemplo clássico de frase "me engana que eu gosto" é quando alguém diz que compra a Playboy por causa da entrevista. Além de uma demonstração de onanismo intelectual é uma forma explícita de chamar o seu interlocutor de burro. Mas essa prática (de enganar, não de ler a Playboy) tem uma coleção de variantes, abaixo algumas outras clássicas (adicione a sua nos comentários) : Eu subi no elevador com aquela mulher do 4o andar. Ela estava usando um perfume tão forte que acho que grudou em mim. Eu vou dormir na casa da fulana porquê ela mora mais perto da escola e amanhã a gente não perde o horário da prova. (também na versão masculina) O whisky que serviram naquele coquetel era tão vagabundo que me deixou com um bafo de quem tomou uma garrafa. Atropelaram um motoqueiro na marginal e o trânsito está todo parado. O médico só tinha horário disponível na sexta-feira à tarde Deve ser algum tipo de praga me jogaram, todo carnaval morre algum parente meu. Mala direta de motel para mim

Oximorose

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Dedicado a Luiz Vaz de Camões autor do maior oxímoro da língua portuguesa* Anabell acreditava que o amor transcendia todas as antinomias mundanas. Na sua lúcida loucura que ela exercia com uma espontaneidade calculada começou a sair com um ilustre desconhecido vindo do movimento apolítico que combatia a ditadura democrática. Na sua guerra santa contra o socialismo de mercado sempre discriminou positivamente num breve discurso contra os políticos honestos. Na sua autêntica falsificação acabou se enredando com valente covardia numa realidade ficcional onde ouvia música silenciosa na sua varanda de obscura claridade. Esse claro enigma foi alvo de boatos fidedignos que espalhavam mentiras sincera sob a inocente culpa de ambos, veiculados em todas as televisões educativas. Anabell com sua típica humildade argentina perpetrou com seu amante um tácito tumulto só controlado com gelo fervente, que fez daquele um instante eterno. Depois disso só restou um longo silêncio eloqüente e a relação ent

Tempo, tempo, tempo, tempo

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Depois do acúmulo de insanidades recente, achei melhor pegar mais leve. Tempo A partir de um texto de Ana Cláudia Braga Pequeno gesto Anônimo , impensado, Passado. O rei pressente a falta de apoio Presente . Nem haste, nem copo Fotos, cenas passeios Passado . Pouco importa a forma, Aroma que se sente Presente . Chora a nota do piano chora sax assoprado Passado . Hoje passa o presente O amanhã é passado Dormir passado Acordar presente. Memória : a melhor das formas - passado ; a pior das penas - presente.

Frugal gourmet

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Aquela noite celebravam-se as bodas de ouro da confraria dos gourmets esquizofrênicos da Bessarábia Oriental. Homens que, um dia, tinham se revoltado contra a lei imperial obrigava o uso de flor de sal em todas as carnes de ungulados e foram para as ruas protestar lançando azeite de gengibre nos limiares de todas as casas que não tivessem um lemur primogênito. Esse movimento foi o suficiente para alçar a ira da turba massa em direção ao palácio e depor Abedzassar LIX, o Ungulófago. Essa história está relatada em detalhes no livros das crônicas dos impérios improváveis, único livro que resistiu à destruição das bibliotecas de Pérgamo e Alexandria, até por ter sido escrito em sânscrito com caracteres ciríacos, o que lhe conferia propriedades apirotécnicas. O grande jantar realizou-se no salão helicoidal do palácio privé de outono/inverno da Res Pública. Cada um dos remanescentes da confraria (que eram só 6) deveria preparar um prato à base de Ungulata sem sal, em memória da Revolta da Fl

Discutindo a relação

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Uma relação binária, ou seja, entre duas pessoas, é uma correspondência existente entre dois conjuntos não vazios A e B. É importante que os conjuntos não sejam vazios, caso contrário, ou A ou B estará falando com a parede e, nessa hipótese, não se discute barafunda nenhuma e qualquer hipótese matemática, assim como certas vacas, já foi para o brejo. O conjunto A é denominado conjunto de partida e o conjunto B é denominado conjunto de chegada. É importante ressaltar que partida, nesse caso, não se trata de partir um prato na cabeça do outro. Nem chegada é o ato, popularmente conhecido como "chegar junto', isso não tem nada a ver com a retórica, ainda que algumas vezes seja benéfico para o contexto como um todo. Se A e B forem pessoas comuns, a correspondência entre os dois conjuntos é dada em termos de pares desordenados, onde o primeiro elemento do par é ordenado e procede do conjunto de partida A e o segundo elemento do par procede do conjunto de chegada B, com o único objet

Contículóides obstrusos

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Envidia Quando ele chegou em casa ela estava com as malas prontas, nada a faria mudar de idéia. Ele entregou a chave do carro e passou a noite sonhando com o carnaval na praia. Selenitas Mulheres de bicicleta vagam na noite de lua cheia revirando os lixos em busca de latinhas para vender. A economia da cidade é movida por uma dose de vampirismo etílico. Chiroptera Os planos de Alice não previam aquele encontro inusitado e fatal. Poucos morcegos sobreviveram à furia da Rainha de Copas que clamava por cabeças frescas. Anastomasia Quando ela escrevia poemas quase todos gostavam, ou se calavam. A jugular pulsando, no entanto, só foi vista quando passou a ser autobiográfica. Abstineri debet aeger Tentou entrar num programa de desintoxicação digital. O método era radical, rápido e, segundo os médicos, infalível. Só começou a se recuperar da crise de abstinência quando, na UTI, o médico lhe aplicou soro através de um cabo de rede.

Continua me assombrando

Though I am old with wandering Through hollow lands and hilly lands, I will find out where she has gone, And kiss her lips and take her hands; And walk among long dappled grass, And pluck till time and times are done, The silver apples of the moon, The golden apples of the sun.

Sete e sete são catorze

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Seth nasceu dia 7 de julho de 1977, com 3,5kg e 49cm. Teve uma infância comum mas, aos 14 anos, sua vida virou de ponta cabeça ao conhecer os significados cabalísticos da numerologia. Coincidentemente, foi logo depois de despencar de uma escada de 7 degraus e passar 7 dias internado numa UTI. Assumiu que sua existência toda dependia do número que muitos consideram mágico, outros trágico e, não poucos, conta de mentiroso. Passou a condicionar todas as suas ações por essa referência. Tornou-se o aluno mais estudioso da turma. Não porque queria ser o melhor, mas poder tirar nota 7 em todas as suas provas. Sabia tanto que tinha a capacidade de deixar respostas em branco nas provas com esse objetivo. No vestibular passou por uma crise de identidade ao prestar 7 concursos, ser aprovado em todos, mas não conseguiu ser o sétimo colocado em nenhum e , pior, não encontrou nenhum curso superior de 7 anos. Formou-se com média 7 e logo conseguiu um emprego, onde trabalhava das 7 às 19h, onde trabal

Pulei a cerca de novo

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Parece uma coisa inevitável, chego a ter crises de abstinência. De tempos em tempos me vejo obrigado a pular a cerca e trair de novo . Dessa vez em dodecassílabos. A vítima dessa vez foi o Paul Verlaine, um dos poetas decadentes (ao lado de Mallarmé e Baudelaire). O nome do poema, em inglês, não pode ser traduzido nem como verde, nem como o gramado dos campos de golfo. A fada verde (La fée verte) era o apelido dado ao absinto, bebida consumida ferozmente por essa geração de poetas. Se você tem voz de barítono, existe uma versão musical do poema, basta baixar a partitura . Green Paul Verlaine Eis aqui os frutos, flores, folhas e galhos. E meu coração, por ti, a bater perdura Que tuas mãos brancas não o deixe em frangalhos E teus olhos tudo recebam com doçura Eu chego, coberto a fronte, de fino orvalho O vento da manhã gela minha figura, A teus pés repouse meu corpo lasso e falho Com sonhos brandos afastados da amargura. Minha face sobre teu seio enfim descanse, Ouvindo ainda o som dos b

Malhação

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No meu caso precisaria ser o mouse..

Puros ou cortados ?

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Muitas vezes, ao enfrentarmos uma prateleira de vinhos em uma adega ou mesmo no supermercado nos deparamos com uma infinidade de nomes produtores, regiões, "appellations", safras e nomes de uvas e mal sabemos por onde começar a nossa escolha. Geralmente sabemos se vamos comprar um vinho tinto ou branco, mas a partir daí o caos se instala. Pensando só na questão da uva, o que acontece quando encontramos uma garrafa que tem o nome da uva no seu rótulo e outra que não indica a uva que foi utilizada na fabricação do vinho? Uma das tendências típicas de quem está se iniciando no mundo dos vinhos é escolher aquele que indica a uva - a esses vinhos, produzidos com um único tipo de uva, damos o título de varietais. Os vinhos varietais são mais comuns nos países do novo mundo. Por uma questão mercadólogica (existem mais principiantes do que maduros nesse mercado) algumas vinícolas européias também têm aderido à produção de varietais. De outro lado, temos os chamados vinhos cortados, o

Carta da amiga

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As cartas de amor deveriam ser fechadas com a língua. Beijadas antes de enviadas. Sopradas. Respiradas. ( Fabrício Carpinejar ) Calor de verão. Dias de sol. Tempestades repentinas. Amigo Fernweh. Nostalgia. Dores de distância. Dores de regresso. Um dia comecei um texto que iria se chamar Nostalgia (dor do regresso : “ nostos = regresso ; algos = dor". Em bom grego como você gosta : νόστος άλγος), o primeiro verso dizia que o tempo curaria as dores de amores . Eu tentava acreditar naquilo. Me esforçava para acreditar naquilo. Ainda não descobri exatamente qual é a dimensão desse tempo. Depois, com Schiller, aprendi outra palavra : fernweh ("dor= weh , no sentido de falta/ausência de algo; da distância = fern ) um termo alemão absolutamente intraduzível. Seria algo como a saudade do distante, não distância no espaço mas no tempo, ou seja, algo como uma saudade ou nostalgia de algo que ainda não aconteceu e parece que está longe de acontecer. Algo que é possível sentir, mas

Sinesteana

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Solto no ar Quase livre voar voar e fotografar Clareando claro lendo Poemeu, texto meu Amarana Ana amar Solidariedade Cadeira de balanço Serenata e poesia Flor na janela tão longe Mas ouvia Caríssima e mortal Suicida Carisma morte tal Sinestesia O poema é presente O tempo ressente Não estar sempre ao teu lado Não cantar tudo que gostaria Som imagem cor Some e age a dor Meio e mensagem Libertinagem Tudo ao mesmo tempo Voar. Serenata.Morte. Poema.Carisma.Foto. Sinestesia.Presente. Aesthésis conjunta Infinita enquanto dura Poema canção paixão Amar morrer e fim.

Fragmentos de um convite amistoso

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Houve um tempo em que eu acreditava que as mulheres eram imprevisíveis. Talvez realmente o fossem, não por uma questão própria das suas naturezas, mas pelo fato de que eu as não conhecia o suficiente para entender o que estava acontecendo. Claro que tomei tombos fenomenais em função disso. Alguns doeram mais no orgulho que nas nádegas, mas sobrevivi a todos. E aprendi com eles. Ainda jovem já sabia o que estava por trás de algumas frases clássicas. Podemos almoçar ? (estou namorando outro e não posso sair à noite). Preciso conversar com você. (prepare-se, vais tomar um fora). Você sabe, o problema é comigo. (arranjou outro bem mais interessante que eu). Hoje não é um bom dia (não está afim mesmo). Depois comecei a ler Barthes, de Barthes fui a Lacan. O discurso foi ficando cada vez mais divertido de ser lido. Mais do que as frases, comecei a reparar no todo, afinal a linguagem vai muito além da fala. Olhares para mim ou para o lado eram verdadeiras declarações. Chegaram os tempos de In

Carta à amiga

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As cartas de amor deveriam ser abertas com os dentes. ( Fabrício Carpinejar ) Cinza escuro, um dia qualquer de um ano comum. Amiga, Fiquei feliz ao saber que, apesar dos tombos, a fase é a de recomeçar. April is the cruelest of the months.... would say Mr Elliot. Ele se referia a outras sensações e sentimentos, mas não deixa de ser verdadeiro para você. E não deixa de ser verdadeiro para mim... Esta carta talvez reflita mais o que sou do que o que tenho feito. Os temas são simples de mencionar, difíceis de compreender e impossíveis de explicar. A cabeça do seu amigo está em parafuso. na verdade não sei se a minha intenção é a de buscar orientação , pois sei toda a lógica do que me poderia ser aconselhado ; se é a de buscar solidariedade , mesmo porque não seria fácil para você ser solidária naquilo que você não conhece ; ou se apenas busco alguém que possa me ouvir. Aos poucos, em almoços com temas variando de “psicologia barata“ (diferenças entre amor e paixão, ou sobre as bengalas qu

Aforismos inconsequentes, sempre

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Rojões e fogos de artifício são, junto com o tabaco, a forma mais literal de se queimar dinheiro. Quem mais lucrou com o caos aéreo foram as lanchonetes dos aeroporto. Ex-mulher está mais para segunda mãe ou para segunda sogra ? Existem sonhos que, quando acordados, nos parecem pesadelos. Até hoje não encontrei nenhum antônimo satisfatório para rotina. Ansiedade é a tristeza do que ainda não aconteceu.

O bem amado

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O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. (Drummond) Ela olha para mim e se queixa. Diz que eu a dispenso e a troco por um colchão. O que fazer se o colchão sabe cantar músicas de ninar e ela insiste que eu fique acordado ? Meu colchão, todas as noites, me chama com promessas de sonhos. É verdade que eu nunca consigo me lembrar de nenhum deles, mas certamente eles acontecem o que deixa meu amigo de quarto com mais razão ainda. Além disso, ele tem a densidade ideal para a minha coluna, o que me permite um um estilo de vida mais saudável. Ele se amolda ao corpo como ninguém até hoje fez. O material possui grande resistência às deformações (fundamentais no meus caso) e promove uma leve pressão em direção ao corpo, o que permite um melhor fluxo de circulação sangüínea durante o sono. Gostaria de entender melhor o que o meu sangue fica fazendo a noite toda, circulando por aí, mas isso é outra história. O bichinho é ecológicamente correto (bem diferente do travesseiro que me acompa

Sabe Deus que angústia te acompanhou

Sai-me dos dedos a carícia sem causa, Sai-me dos dedos... No vento, ao passar, A carícia que vaga sem destino nem fim, A carícia perdida, quem a recolherá? Posso amar esta noite com piedade infinita, Posso amar ao primeiro que conseguir chegar. Ninguém chega. Estão sós os floridos caminhos. A carícia perdida, andará... andará... Se nos olhos te beijarem esta noite, viajante, Se estremece os ramos um doce suspirar, Se te aperta os dedos uma mão pequena Que te toma e te deixa, que te engana e se vai. Se não vês essa mão, nem essa boca que beija, Se é o ar quem tece a ilusão de beijar, Ah, viajante, que tens como o céu os olhos, No vento fundida, me reconhecerás? (Alfonsina Storni)

Sexo, mentiras e Internet

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O Google é a segunda fonte de tráfego do Mens Insana (indecentemente...todas as outras ferramentas de busca juntas representam menos de 1% do total dessa categoria). Olhando suas estatísticas, dentre as palavras mais buscadas no Brasil, no passado recente, incluem Natália Guimarães (quem ?), Rachel Bilson (quem ? quem ?) e Neji Hyuuga (quem ? quem ? quem ?). Curiosamente, contrariando a tradição, palavras de cunho sexual estão em baixa - ou eles excluem das estatísticas, o que me pareceu mais provável - nenhuma consta da lista dos 48 países que eles analisam no Zeitgeist . É verdade que as top ten do blog também não são referências eróticas, as mais procuradas são alguns termos técnicos que eu usei de forma insana como catabólitos, litíases e paideuma. Mas, dando uma olhada na relação completa é impressionante a quantidade de palavras usadas como busca de conteúdo que fazem referência a sexo. Claro, o perfil é muito provavelmente mais masculino. Fulana ou beltrana nua. Mulheres, loiras

Entre nós

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Entreaberta a blusa Pele macia se apresenta Fantasias, desejos constantes Tão táteis Tão próximos Tão distantes. Entreabertos os olhos Brilho úmido, quase transparente Ameaçado em lágrimas contidas Assim sentidas Pouco a pouco Distraídas. Entreaberta a história Passado quase presente Dias tão flutuantes Pessoas, viagens Sabores, poesia Amores, amantes. Entreaberta a alma Pesada, leve, desconhecida Escancarando idéias, melancolias Sugerindo intenções Despejando emoções E alegrias Entreaberta a blusa Quando menos se supõe A razão finge ser mais importante O sonho foge A realidade flui Como um Chianti

Com açúcar, sem afeto

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Quem te ver passar assim por mim, não sabe o que é sofrer, já diriam os hermanos. Da mesma forma, muitos que me lêem podem ser levados a acreditar que eu sou um daqueles conhecidos do Fernando Pessoa que nunca levou porrada na vida. Eu gosto de cozinhar. Modéstia às favas faço isso bem (tenho testemunhas várias), o que não significa que, de tempos em tempos, eu não cometa um desastre culinário qualquer. O primeiro que eu me lembro já tem quase 30 anos. Tinha ido para New Orleans e me esbaldado com as culinárias creole, cajun, italiana e francesa. Um paraíso gastronômico, muito mais do que de jazz (se você quiser ouvir jazz de primeira mesmo, vá para Nova York ou Chicago). Estava nos primórdios da minha educação como piloto de fogão e resolvi fazer um jantar baseado num livro de receitas que trouxera de lá. A jambalaya ficou muito boa, até porque tinha trazido junto alguns ingredientes. Para a sobremesa fui fazer uma mousse de chocolate branco que era a coqueluche de um restaurante chi

Cozinhando com vinho

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Lição nº 1: Riquewhir, um pedaço de fim de mundo na Alsácia, 1994. Entro em um restaurante local para comer o prato mais tradicional da culinária franco-alemã, o chucrute que, ao contrário do que muitos pensam, não é apenas repolho azedo, mas uma combinação de vários tipos de carne suína que são cozidas e depois assadas em uma chapa quente (muito parecida com a parrilla argentina) e servida com batatas cozidas e, é claro, repolho azedo. Na época, tinha recém descoberto um vinho da região, leve de gosto e complicado de nome, o Gewurztraminer, e pedi uma garrafa para o dono do restaurante. Ele me olhou com uma cara de pena e me falou que a carne do chucrute era cozida em vinho Riesling, logo não seria bom que eu tomasse um vinho diferente do que fora usado no cozimento. Claro, bebi o Riesling. Lição nº 2: São Paulo, um pedaço de fim de mundo na América do Sul, 1999. Durante uma aula de culinária no evento Boa Mesa, uma pessoa interrompe o chef Emmanuel Bassoleil que demonstrava um receit

O interrogatório

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A sala escura e a fumaça que se acumulava no teto anunciavam o clima de tensão que pairava no ar , os rostos cansados e abatidos apenas serviam para confirmá-lo. Seu rosto, em particular, demonstrava grande exaustão. Ele fechava os olhos e franzia fortemente a testa cada vez que ouvia o sons vindos da sala ao lado : “ - Mas eu já disse que não sei - gritava irritadamente uma voz feminina - quantas vezes eu vou ter de repetir...” Durante alguns momentos o silêncio era sepulcral, de repente recomeçava : “ - Eu sei... eu sei... não estou negando a minha participação nem a minha culpa... só sei que não sei o que vocês querem saber... eu fui sendo envolvida pela situação... não, não foi uma decisão precipitada, não aconteceu de repente... não, também não foi uma coisa que surgiu do nada... premeditado ? não, não foi premeditado... acho, ou melhor, tenho certeza, que se eu tivesse pensado... é, nestas horas a gente não pensa, ou se pensa a razão não prevalece... “ Sentiu um aperto na alma, s

Antologia de Janeiro

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O mês de janeiro foi mais curto em publicações, o que não significa que os comentários tenham sido menos relevantes. Ou mais irrelevantes, dependendo da óptica do leitor. Aí vai a, sempre fora de contexto, antologia do mês : ...sei que vou encontrar um cara mais de bem com a vida do que eu... ...pena que não deixei que a passassem em minha cabeça... Acho que aí vai uma generosa dose de masoquismo ...programa pra um fim de semana chuvoso! Um dia eu ainda consigo... ...pena que não deixei que a passassem em minha cabeça. esse é meu! tira o olho! pra sobrar espaço pro ego dos meus convidados... você foi desmamado com sopa de letrinhas... De seda à farrapo em uma noite.

Olhares - pequeno poema em prosa

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Olhos verdes. Por algum motivo aqueles olhos me perseguiram por muito tempo. Tempos de idas e voltas, de perdas e de achados. Nunca soube exatamente se estava descobrindo algo ou só me defrontando com algum tipo de enigma. Decifra-nos, eles pediam. Eu não conseguia, e me devorava em incertezas. Mesmo essas, de alguma forma obscura me davam prazer. E eu devolvia as mensagens com olhares que não diziam nada. Nem poderiam. Se não conseguia desvendar o mistério que eles me propunham, o meu olhar era só perplexidade. Paralisado. Nem meus dedos não se permitiam afagos, nem passeios pelas ruas desertas da cidade abandonada. Pedras rasgadas, incolores, sem sequer um pouco de limo. Secura absoluta. E mesmo assim brilhavam. Um misto de ódio e ternura vagava nos meus sonhos. Uma alegria confusa no espaço onírico. Totalmente sem sentido. Nunca soube se brilharam para mim. Eles continuam brilhando e eu continuo sem saber. Um rosto de vertigem. Enquanto isso ela voa com suas asas de ilusão e pousa

Volta

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Como sonho e som antigo Salto o canto e sinto Amigo Tanto conto e tal perigo Tento tudo O mal não sigo Não entendo que se aproxime Instigo desejo por teu crime Fujo aflito do inimigo Como o joio Entrego o trigo Saio então do meu abrigo Como sonho e som antigo Amigo

Nossa (???) língua portuguesa na zona sul

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Depois de sentar no aisfalto com a quentinha cheia de joelho, ficou goiabando os filés que iam para a praia. Pensou em passar no botequim e tomar um mel, mas estava sem um conto furado, além do que tinha voltar para a repartição e aguentar aquele péla-saco do Agostinho e, se bebesse, ia acabar perdendo a linha. O cara era uma bucha mas se desse um sacode ele perdia o gás, mas sabia que não era o momento de chatubar. Ficou pensando numa forma mais irada de resolver a parada. "Amanhã queimo a largada", pensou, "e deixo o mané bolado". No dia seguinte chamou o prego e disse : " Olha só mermão, eu preciso tratar de um lance aí com uma maluca e só volto quando estiver zero-bala. Sei que tu não é pipoqueiro e pode guentar". O prego , que de sangue não tinha nada, ficou na mão do palhaço e redarguiu : "Péraí vacilaum, coé ?" "É o seguinte, tenho de pegar o bonde e encontrar uma popozuda que está dando bobeira. Como eu não sou nem arroz, nem arame l

30 anos depois

A tatuagem não tem o mesmo viço

Por falar em tatuagem

Oh Lydia, Oh Lydia Now have you met Lydia Lydia the tattooed lady She has muscles men adore-so And a torso even more-so Oh, Lydia, Oh Lydia Now have you met Lydia Lydia the queen of tattoo On her back is the battle of Waterloo Beside it the wreck of the Hesperus too and proudly above waves the red white and blue You can learn a lot from Lydia There's Grover Walen unveilin' the Trylon Over on the West Coast we have Treasure Island There's Captain Spaulding exploring the Amazon And Lady Godiva--but with her pajamas on She can give you a view of the world in tattoo If you step up and tell her where Mon Paree, Kankakee, even Perth by the sea Or of Washington crossing the Delaware. Oh Lydia, Oh Lydia, now have you met Lydia Lydia the queen of them all She has a view of Niagara which nobody has And Basin Street known as the birthplace of jazz And on a clear day you can see Alcatraz! You can learn a lot from Lydia! --Lydia the queen of tattoo! Lydia, oh Lydia, have you met Lydia,

Facticius

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A artificialidade é uma condição positiva dos fatos . Bruno Latour Ele costumava perder o fôlego com frequência. Deixava-se arrebatar por imagens fátuas e embebia-se delas. Nem sempre a distância permitia que fosse muito além disso. Seu estilo de vida implicava numa série de limitações com as quais aprendera a conviver. Ficção por ficção, começou a se dedicar a fetiches. Não só os usava numa forma de compensação como passou a estudá-los, o mesmo estilo de vida lhe fornecia tempo suficiente para esse tipo de atividade. Estudou os fetiches dos cultos africanos. Chegou ao limite de adotar as idéias de Marx (o sociólogo, não o comediante) sobre a influência fetichista da mercadoria e do seu valor de troca. Começou a perder amigos, em todos seus encontros sociais discutia a respeito do simbolismo da falsidade dos fatos. Tornou-se o modelo perfeito do chato. Só não sabia se sua atitude era real ou um fetiche de si próprio. Não demorou muito para chegar à parafilia. Constatou isso na exposiçã

Um gato chamado Frankenstein ?

O original é do grande Sam Cooke, mas não existe nenhum disponível com a "lenda" Ah...eu sei que hoje não é domingo mas, como a música se refere ao sábado, antecipei a publicação.

À guisa de cartão

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Floração. Um canto de pintassilgos. Roxos pintarroxos silvavam no ar escuro da mata. Tico-ticos ticoticavam as amoras recém nascidas que, em vão, tentavam amadurecer. Maturação. A floresta florida feria os olhos azuis de gatos modorrentos lagarteando à sombra dos cinamomos. Tudo som e vida. Vida em paz. Confusão. O cantos das sirenes anunciavam o fim de mais um dia de trabalho. Sindicalistas classistas e analistas piqueteavam uma nova greve reinvindicando o fim de ano com trimestralidade. Ano novo sem aflição e abono de felicidade. Enquanto isto , mais um pacote decretava a retenção na fonte dos fins-de-semana prolongados e empréstimo compulsório da Páscoa , com devolução, sem correção, de outros carnavais. Coração. A jovem apaixonada escrevia confidências no diário sentimental, jurando inconfidências. Tudo, tudo tão banal. Cartas enamoradas gastavam selos de Natal que poderiam ser pagos em três vezes, sem acréscimo, em qualquer liquidação. Mas só até sábado. O comércio vendia uma ilu

O Amor da Raça

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Luz ! Câmera ! Ação ! Roda, roda, roda o filme da vida Sem idade Sem espaço Do infinito nada Ao eterno algo Entre a sensação e a emoção Tomba a sombra. Film noir? A mente reage à paranóia da tua insensibilidade. Tua pele na minha Amor fugaz. Será absurdo? Surrealista? Amor estilo Cinema novo. Poema escrito alguns dias depois da morte de Glauber Rocha