Frugal gourmet


Aquela noite celebravam-se as bodas de ouro da confraria dos gourmets esquizofrênicos da Bessarábia Oriental. Homens que, um dia, tinham se revoltado contra a lei imperial obrigava o uso de flor de sal em todas as carnes de ungulados e foram para as ruas protestar lançando azeite de gengibre nos limiares de todas as casas que não tivessem um lemur primogênito.

Esse movimento foi o suficiente para alçar a ira da turba massa em direção ao palácio e depor Abedzassar LIX, o Ungulófago. Essa história está relatada em detalhes no livros das crônicas dos impérios improváveis, único livro que resistiu à destruição das bibliotecas de Pérgamo e Alexandria, até por ter sido escrito em sânscrito com caracteres ciríacos, o que lhe conferia propriedades apirotécnicas.

O grande jantar realizou-se no salão helicoidal do palácio privé de outono/inverno da Res Pública. Cada um dos remanescentes da confraria (que eram só 6) deveria preparar um prato à base de Ungulata sem sal, em memória da Revolta da Flor de Sal.

Além dos confrades, estavam presentes o presidente do país, os líderes das câmaras alta e baixa, assim como o grão vizir da Câmara Hiperbárica. Não foi permitida a presença de cônjuges de qualquer gênero.

Os pratos foram atribuídos por ordem alfabética :

Entrada fria, por Antonio Abcessoaldro, à base de Perissodactyla. Antonio, um mestre na arte de empanar, preparou mocotó de zebra à milanesa sobre um leito de folhas de baobá, ao molho de óleo de sementes de andiroba (não confundir com o Adiron). Bocas estalaram antes e depois de servido.

Carolíngio De Puis y Hier, foi responsável pela entrada quente de artiodactyla fendida e trouxe à mesa um rocambole de tripas de girafa ao pesto de fígado de rã (uma raridade caríssima contrabandeada dos mangues da Bessarábia Ocidental). A essa altura já se servia uma safra cinquentenária de Château de Dieu M´Exempte.

Para o prato de massas, foi convocado Manuriconix von Befreitt, a quem foi atribuído um artiodactyla quadricarpo. Dele fez um tagliarini a congolesa (com coxão duro de hipopótamo moído) e alhos frescos da Transilvânia. O grão vizir revirava os olhos.

A Паыль Александр изымает coube o prato de resistência, com a incumbência de usar Cetacea na sua receita. Fritou em óleo de linhaça barbatanas de manati acompanhadas de batata agridoce. Seus colegas tiveram espasmos de emoção, Carolingio chegou a derramar lágrimas. O presidente da Res Pública, por suas vez, não continha seus espamos flatulentos.

Veio a sobremesa, à base de Proboscidea, sob a responsabilidade de Degodredt de Koningin. Esse não poupou esforços e serviu uma torta de marfim moído envolta em fios de ovos de avestruz. Abcessoaldro urrava de furor figadal, Maruconix se embebedava e Паыль cantava, sózinho, hinos polifônicos de Palestrina.

Todos ficaram esperando o que Zoroastruxico iria fazer com queijos, sendo obrigado a usar Probathyopsis, uma vez que todos esses seres estavam extintos há milênios. Mas ele não podia decepcionar seus colegas. Serviu um prato de queijos feitos de leites diversos e curados em fungos de esqueletos da besta do deserto de Góbi. Junto uma garrafa de champagne Jemesens Malade. Resultou num orgasmo sensorial coletivo.

No dia seguinte, logo pela manhã foram acordados pelos foguetes. Abedzassar LX marchava triunfalmente pela cidade, de volta do seu exílio. Seus primeiros editos foram de enviar para trabalhos forçados nas salinas todos os participantes do jantar e assinar a lei de abertura dos portos a todas as cadeia de fast-food amigas.

Comentários

Anônimo disse…
Como ignorante que sou, nem me atrevo a comentar...estou sem tempo para o Aurélio...mas vou rindo da minha ignorância, e das poucas frases que consegui entender...kkkkkkkkk.
Meu riso não vai combinar com o trânsito que vou pegar agora a caminho do colégio das crianças ( vão me chamar de maluca),mas fazer o que né... kkkkkkkkk
Unknown disse…
affffffff, que alivio rsrrsrs, vou comentar lá em cima que tá mais facim...

mas mesmo assim, admito essa sua capacidade *camaleonicante de escrever!!!

* entendeu, né?

bijim
Taty disse…
Dicinário a tiracolo! Dá um tempo!

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