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Mostrando postagens de 2008

Estamos em férias

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O ano de 2008 foi cheio de idéias que se espalharam em todos os meus blogs. Durante 366 dias foram 447 publicações sendo 310 textos aqui no Mens Insana 61 textos no Calvinistas, graças a Deus 39 textos no Inclusão: ampla, geral e irrestrita (além de mais uma coleção de textos escritos por convidados) 37 textos no Espicaçando o Marketing ( além dos textos do Volney e de outros escritos por convidados) Acredito que você possa aproveitar as minhas férias para colocar suas leituras em dia....risos Um abraço aos meus leitores e comentaristas. Volto no final de janeiro. Fábio Adiron

Nosso cartão de Natal

O povo que andava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz. Isaías 9:2 Muita gente confunde reverência com mau humor. Ao invés de demonstrar sua alegria pela vinda do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores acabam por transmitir a idéia de que nós, crentes, somos apenas um monte de gente chata e triste. Graças a Deus, ainda podemos comemorar o Natal de um forma alegre e bem humorada, porque Cristo veio para ser a nossa paz. Por isso proclamamos a alegria para o mundo, certos de que aquele que tem o governo sobre os seus ombros. E Ele reinará para sempre. Que essa alegria possa encher o seu coração. Não deixe de ver (ou ouvir) até o fim. Feliz Natal

Um lance de dados

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Un coup de dés jamais n'abolira le hasard. Stephanne Mallarmé Mesmo que eu quisesse eu não poderia fazer nada. Apenas olhar atentamente dentro dos seus olhos, às vezes, desviar a atenção do fogo lento que me consumia. Poemas sobre a mesa. Vinho. Você falando, sem medo, sobre inspiração. Eu revivendo, sem medo, a inspiração. O limite do medo é a coragem absoluta. A vida correndo sobre a margem dos limites. Chuva de primavera. Gotas de oportunidade, escorriam o desejo sem planos, pintando em telas internas um quadro imprevisto. Surrealista. Crescimento e despertar do desejo líquido. Límpido. Anseios subconscientes, surrealistas, mais fortes que medos reais. Corações se derramando. Você falava me olhando. Certeza se derramando em gotas de primavera. O ambiente cobrando de nós uma decisão. Um lance de dados. Sem chances, ganha-se ou perde-se. Um lance de dados é apenas outro lance. Por mais que se possa prever. Mesmo sendo as mesmas mãos. Sejam os mesmos dados e a mesma superfície onde

O ingênuo e o cafajeste

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Não se sabe se por criação ou por timidez inata Marcelo era um moleque ingênuo. O que não o impedia de ser um romântico fora de época, mesmo na sua época. Como tantos outros, amava os Beatles mais que os Rolling Stones e decorava poemas do Vinicius e do Neruda. Puedo escribir los versos más tristes esta noche, às vezes se pegava falando sozinho no quarto. Apaixonava-se amiúde. Inevitavelmente era rejeitado. Curtia as suas fossas que duravam o exato tempo de se apaixonar pela próxima. Nada muito diferente de outros adolescentes. Não que deixasse de participar das atividades dos outros meninos. Jogava bola, pulava muros, participava arduamente das guerras de mamona. E mais de uma vez sua mãe o pegou na praça em frente à escola no meio de uma briga, no melhor estilo "te espero lá fora..." Mas era mais sensível que os demais e, diferentemente dos colegas, tinhas mais amigas que amigos. No colegial mudou de escola. A distância o afastou de algumas amigas, mas trouxe outras. Assim

Desaforismos insanoqüentes

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As máscaras, por melhor que estejam fixadas, uma hora caem. Que tem carpete não consegue esconder o lixo debaixo do tapete. Muita semântica, pouco significado. Bater na mesma tecla só serve para machucar os dedos. Além de egoísmo, querer o melhor de dois mundos me soa meio esquizofrênico. Uma nova praga assola as ciências e os negócios, atende pelo nome de maisdomesmismo. Podem reclamar da linguagem chula do presidente. Mas todo mundo que vota e paga imposto sabe o que significa aquele expressão. No brilho dos olhos se revela toda uma cosmogonia. Talvez essa seja uma das últimas chances que terei de usar o trema.

A morte dos amantes

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Tudo bem que o homem não era um exemplo de conduta. O que esperar de alguém que escreve sobre as flores do mal ? O que não significa que não tenha escrito algumas das mais belas páginas da poesia francesa. Essa já foi vítima de várias traições (traduções). A minha é apenas mais uma : Deitaremos em lençois perfumados No mausoléu profundo de um sofá No mármore uma flor que já não há Aberta sob céus embelezados A fogueira arde quente inda por lá Nas brasas de corações inflamados Inúmeros beijos cristalizados Espelho ardente a iluminará Aquela tarde mística, envolvente Acesa num relâmpago fremente Depois um incontido e breve adeus. Depois virá um anjo abrir a porta Reavivando todos sonhos meus Reacendendo a chama quase morta Para quem prefere os originais, o texto é : La Mort des Amants Nous aurons des lits pleins d'odeurs légères, Des divans profonds comme des tombeaux, Et d'étranges fleurs sur des étagères, Ecloses pour nous sous des cieux plus beaux. Usant à l'envi leurs ch

Sexta-feira 13

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Tudo bem, eu sei que hoje é sábado e não sexta-feira, mas a data a que me refiro caiu numa sexta-feira e não poderia ser mais sombria que o mito das sextas-feiras 13 de terror. Há 40 anos, na calada da noite, o presidente Costa e Silva assinou o Ato Institucional nº 5 , que deu a ele poderes absolutos e suspendeu garantias constitucionais. O Congresso Nacional foi fechado por que se recusava permitir que o Deputado Márcio Moreira Alves fosse processado. O marechal Costa e Silva, no rádio do carro que o conduzia do aeroporto ao Palácio Laranjeiras, ouviu, atônito, a notícia da votação na Câmara. No palácio, trancafiou-se em companhia dos generais Garrastazu Médici, chefe do Serviço Nacional de Informações; Orlando Geisel, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas; e Lyra Tavares, ministro do Exército. Estava convocada para o dia seguinte importante reunião do Conselho de Segurança Nacional. Ela marcaria o fim da “crise dos 100 dias” e o início do “ano zero da revolução”. O que aconteceu

Concorrência desleal

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Enquanto eu me esfalfo cotidianamente para escrever, publicar e divulgar os meus textos, meus filhos me passaram a perna e já foram editados. Que geração.... Recebi ontem o meu exemplar do livro "Poetas do Batista" (no caso, o Colégio Batista Brasileiro onde eles estudam) editado pela e-Leva Cultural. Pior que não é a primeira vez... Quando publiquei um poema dadaísta do Samuel ele bateu todos os recordes de leitura do blog... O leão Letícia Ribeiro - 2o ano Lá na escola eu vi um leão no chão Seu rosto tinha um bocão Estava comendo macarrão e feijão com pão Que era o lanche do João. O lobo e o filhote de homem Samuel Adiron Ribeiro - 4o ano Era uma vez um lobo Cuidando do seu filhote de homem Enquanto Mogli viu a pantera Ele viu o urso, o macaco e o elefante Ele estava cantando tão forte Que o chefe disse meia volta volver Quando ficou muito escuro Ele viu o tigre, o urubu e a cobra O mato cresceu ao redor.

Contículo sinestésico

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"Os carinhos de Godofredo não tinham mais o gosto dos primeiros tempos." (Autran Dourado) Raquel mirou-me com o seu olhar frio, desesperador. Eu senti um áspero sabor de indiferença na sua voz que sempre fora repleta de colorido. Uma melodia cinzenta tomou conta da sala. Acordes menores de cromatismos e perfumes. Sua voz, que nos primeiros tempos, era macia, agora soava como um verde azedo. Apenas luz crua da manhã que invadia os meus ouvidos. O olhar não era mais doce, nem tinha mais o sabor vermelho da fruta. Senti saudades amargas de indefiníveis músicas, supremas harmonias de cores e odores. Do tempo em que o seu cheiro verde combinava com a sua beleza áspera. Tempo do delicioso aroma do amor. O perfume agora tinha um cheiro doce, mas sua voz áspera era intimidadora. Olores gritantes, nem de longe lembravam o brilho macio dos seus cetins, nem seu doce afago maternal. Chegaram as horas do ocaso, trêmulas, extremas, como o réquiem do sol que a dor da luz resume. Sinestesi

Tia Jovita

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Não tem nada que me escape, costumava dizer tia Jovita todas as vezes que a família se reunia para o almoço de domingo. Solteirona, morava com a irmã que tinha uma coleção de filhos e netos, o que sempre proporcionava um bom público para as suas descobertas. Sempre que começava atraía a audiência. Afinal, todos gostavam da percepção da velhinha a respeito de fatos prosaicos que ninguém notara antes. Era como se estivessem ouvindo uma Miss Marple engraçada. Identificava cortes de cabelo quase imperceptíveis, sabia quando as sobrinhas estavam na TPM ou quando o time de futebol dos sobrinhos tinha ganho ou perdido. Semanas antes do time de um deles ser rebaixado ela vaticinou : avisa o Fernando para não confiar nesse time senão ele vai ter um enfarte. O que ninguém nunca esperara é que ela começasse a identificar questões mais sérias. Um dia, no meio de macarronada, ela perguntou : "- Quando é que nasce o bebê da Verinha ?". Márcio, o pai da Verinha engasgou de uma forma que q

Saudades do Caudas Aulete*

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- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino. (Manuel Bandeira) Sinhama se contorcia com sua hiperestesia. Entre um iridocinésia e um antorismo até mesmo o triságio a trateava. A família temia por sua alodialidade. Chamaram o polímata que chegou numa reda cheia de rizes. Este logo questionou se a situação era semelincidente ou se chegava a teteté. Constatou que o mal não provocava eupnéias. Por epagoge supôs um inoma sinistrogírico. Pegou o cibório ao lado da cama e lançou nele tufos de coerana e ásaro, além de uma pitada de melanocerita. Inseriu a mistura por uma rímula, como quem executava uma epêntese. Mandou alimentá-la com cibos e apterigianos que trazia em sua fáretra. Nada funcionou. Mandou chamar os tamaracá para executar a zarzuela. Tudo que restava era o encomendamento. * Francisco Júlio de Caldas Aulete (Lisboa, 1826 — Lisboa, 23 de Maio de 1878) foi um professor, lexicógrafo e político português, autor de di

Velhas bicicletas, outra traição

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Tom Waits é um daqueles compositores/cantores considerados malditos, mas que todo mundo adora gravar. Não é para menos. Suas músicas são sempre jóias a serem guardadas com cuidado. Broken Bycicles é uma delas. Velhas bicicletas Velhas bicicletas, correntes no chão Guidão enferrujado, tudo ao relento Alguém deveria ter um orfanato Para tudo que ninguém mais quer Setembro me lembra o calor É hora de dizer adeus Foi-se o verão, ficou a paixão Velhas bicicletas esquecidas na chuva Velhas bicicletas, não fale não Papeleta de barulho, aros ao vento No jardim, são apenas esqueletos Uma roda não anda sem o seu par Estações mudam num pensamento Eu sempre me esqueço, alienação, O que você me deu ficará, sentimento Quebrado, mas sempre no coração. O original é Broken bycicles - Tom Waits Broken bicycles, old busted chains With rusted handle bars, out in the rain Somebody must have an orphanage for All these things that nobody wants any more September's reminding July It's time to be sayi

Pequeno poema em prosa

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Entre luas, luvas e carpetes ela me olhava como se tudo tivesse sentido sem ter razão Tinha os óculos largos, as lentes grossas e rosto de menina. Tudo olhava, como se captasse alucinações. As pernas eram finas, pálidos gambitos. Corpo de mulher, que me provocava e convocava, quase sem querer. Mesmo não querendo. Um dia chegou cedo. Saiu tarde. Dominou o tempo como quem aspira dálias perfumadas. Me levou. Me deixou. Como um passatempo.

Por que blogam?

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Eu pensei, pelo menos, em três textos diferentes que justificassem usar essa imagem. Não gostei de nenhum deles. Nem a versão séria, nem a bem-humorada e, muito menos a insana, chegaram aos pés do humor do cartoon. De qualquer forma, a piada me trouxe à mente muitos dos blogs que eu leio (no conceito, no conceito...você e essa sua mente suja) e a convicção de que é exatamente esse tipo de blogueiro que eu não quero ser quando crescer.

Desanalogias

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À noite todos os gatos são pardos À tarde todos os patos são sapos (ou será o inverso ?) À sopa todos os caldos são pratos À popa todas as ondas são altas À tona todos os corpos são rotos À cama todos os sonhos são natos À caserna todos aspiram generalato Se não é ximango, é maragato Naturalista prefere o mulato No blog todo texto é abstrato

O ralo

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O ralo é um buraco escuro ,feio e fedido que fica no fundo da pia. Geralmente é usado como referência pejorativa : "algo foi pelo ralo", "fulano entrou pelo cano (depois do ralo)" e, mesmo nas artes, o cheiro de ralo não era exatamente elogioso (por melhor que fosse o filme). O que poucos sabem é a origem histórica dos ralos, os melhores amigos das torneiras e das pias, cuja função é escorrer a água para dentro das fossas e dos esgotos. As primeiras referências sobre o ralo datam dos tempos das termas romanas. A idéia de algum tipo de coletor de água suja surgiu entre os escravos que tinham de carregar a água usada nos banhos em baldes de água até os esgotodutos romanos. Além de cansativa, essa prática provocava a deterioração gradativa das narinas. O mecanismo ainda não tinha sido criado quando a queda do império romano do ocidente interrompeu bruscamente os desenvolvimento tecnológico. Nessa época, Ovídio já questionava : " ralidae tradis ovile lupae? ",

Ditados impopulares

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A cordilheira engendrou um murídeo A indolência é genitora de todos os pústulas A lábia é argêntea, mas a quietude é aurífera Discurso insano tímpano inano Traje dessasseado purga-se domiciliarmente Melhor ermo que entre maus acólitos Permanece a saburra revezam-se os dípteros Caninas açodadas geram sabujos oblíquos Infortúnio na peleja, ventura no afeto Líquidos pretéritos não fomentam moagens

A parafernálica antologia de Novembro

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Essa é a minha escolha pessoal dos melhores comentários do mês passado. Se você é novo por aqui, a intenção é ler as frases fora dos seus contextos e, a partir delas, imaginar suas próprias histórias: Tive uma portátil, laranja... Pô, cadê o glossário obrigatório para esse caliconto??? Vou procurar meu caliléxico para tentar desvendar esses calimistérios!! ..prescrevo: banho de lua diário e café extra forte. Que desperdício de munição. E os tubarões vem até mesmo antes dos arrecifes. Na média: vinagre balsâmico. Beijos sem ratos... Pelo jeito família de enforcado o merece. Será que vendem em quantidade?Dão nota fiscal? terei que ser socorrida por um dieta enteral.... perdi dois quilos em uma semana comendo amêndoas... O telefone que fugiu, já voltou? temos um prefeito que acabou de ser eleito e já está cassado Acho que moro na anti-Itu Só uma correção pra mór de perfeiçoá o qui já tava bunitu

A hermenêutica da seta

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Como é de conhecimento do vulgo, a hermenêutica é a ciência filosófica voltada para o meio de interpretação de um objeto. Depois de quase 30 anos de habilitação como motorista, resolvi publicar meus profundos estudos interpretativos filosóficos sobre a seta (em alguns locais chamada de pisca-pisca), aquele aparato dos carros que, segundo se supõe, deveria servir para sinalizar as mudanças de direção. Quando eu aprendi a dirigir, a seta já era de uso comum, ainda assim os instrutores insistiam em nos ensinar a sinalização com o braço que, inclusive, era requerida no exame. Não seria capaz de traçar um paralelo entre a seta e o braço, uma vez que esse caiu em total desuso, especialmente por motivos de segurança - ninguém mais anda com o vidro aberto (é verdade que eu gostaria de saber como é que a sinalização de braço funcionava em dias de chuva). Mas deixemos de lero-lero, aqui vão as conclusões Seta nihilista : os adeptos dessa corrente se recusam a utilizar a mesma. Partem do direit

Baladas no fogão

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Claro, você já percebeu pelo horário das publicações que eu sou coruja mesmo. Funciono melhor de madrugada do que de manhã. Meu sono segue rigorosamente a lei da inércia. Quando estou acordado, tendo a continuar acordado. Em compensação, depois que durmo... costumo dizer que eu me levanto às 7, mas só vou acordar depois das 9. No intervalo sou, literalmente um zumbi. Ultimamente dei para cozinhar de madrugada. Acabo a minha lide virtual e vou para o fogão ou, pelo menos, para a pia temperar algo para o dia seguinte. A família não costuma reclamar, desde que eu não invente de usar o liquidificador. Se bem que outro dia minha mulher levantou dizendo que tinha sonhado com molho de tomate e qual não foi sua surpresa ao encontrá-lo pronto em cima do fogão. Amanhã vai ser dia de fraldinha. E não é dos meus filhos que já passaram dessa fase e agora ao invés de usá-las devoram-nas A carne foi temperada com flor de sal e pimenta do reino. Num recipiente à parte misturei salsa, cebolinha, louro

Hai Kais em Camelot

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Arthur Espada na cinta Amor lançado no chão Inverno real Guinevere Seus cachos dourados contrastando o mar de jaspe Brilham no meu céu Lancelot Nunca fui herói Exceto aos olhos da amada que me é rainha Galahad Só os puros podem lhe alcançar o coração missão natural Excalibur Poderes brutais Levaram-me ao seu dossel Plena primavera * Haikai (Haïku ou Haicai) é um forma poética de origem japonesa, surgida por volta do século XVI, que valoriza a concisão. O haikai é a arte de dizer o máximo com o mínimo. Cada haikai capta um momento de experiência, um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida. O grande mestre haikaista foi Matsuô Bashô (1644-1694). É um poema de três versos, escrito em linguagem simples, sem rima, com dezessete sílabas poéticas (sendo cinco no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro), e com uma referência à natureza expressa por uma palavra (o chamado kigô), que deve re

Síncope amorosa

Síncope procuramos procuramos procuramos encontramos infinitos becos apagamos infinitos beijos voamos infinitos brejos precisamos precisamos precisamos desvendamos inocentes votos desdenhamos inclementes vates desenhamos insolentes vácuos choramos gritamos dançamos o tema o lema cinema a prova aprova deplora deflora o sonho parecemos parecemos parecemos brilhantes cores instantes dores amores

Nossa (??) língua portuguesa? O retorno

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João era ladino desde bacuri. Nunca dava trela para panca marrudo nem fazia picuinha por meia-pataca. Mesmo sendo um caboco do cafundó não costumava se estorvá. Na roça era um pé-de-boi, nem fastiava nem se metia em fuá. Punha a fuça na enxada, que não dava para ganhar os tufos. Um dia, avuado, deu um tropicão e se arranjou um unheiro de trincá, quase ficou zambeta. Mas ficar em casa como pata-choca não ornava com ele. Antes que batesse a gastura e acabasse numa sororóca, mandou chamar o boticário da vila, uma mistura de charlatão com curandeiro. O janota chegou desgueio, carregando um emborná e um jacá cheio dos trem. João, acabrunhado, contou que tinha feito uma bestagem pros lado da grota, que parecia um quebranto no cambito. O facultativo do arraiá achou que era xurumela, e começou a relá, entre um trelê e outro, até que mexeu no táio e João soltou os cachorros : "- Quá ! ocê num tá vendo que eu tô escangaiado ? Já vai fincando...módequê ? O farmacêutico se acoitô e quase deu

Conticulóides minimalistas

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Lembrança tênue Quando Fernando chegou em casa naquela noite só encontrou um fio de cabelo no chão do banheiro impecavelmente limpo. Armários, gavetas e penteadeira, tudo estava vazio. Descobriu que, dessa vez, Carolina tinha falado sério. Brilho Henrique nunca deu muita bola para cor de olhos. Oftalmologista, sabia que era apenas uma questão de pigmentação. Até o dia que, enquanto examinava uma das suas pacientes começou sentir tonturas. Dois meses depois estava casado com Íris. Queratina Carla entrou no salão de beleza avisando que precisava de um serviço impecável. Naquela noite seria apresentada à família de Rafael e não podia errar em nenhum detalhe. A manicure, depois de quase duas horas de trabalho recomendou : use sapato fechado, você é a primeira pessoa que eu conheço que rói as unhas do pé. Melanina Antonia gostava de usar roupas que deixassem os seus ombros nus. A pinta redonda e perfeita no ombro esquerdo era o seu orgulho, além do que a usava como instrumento de sedução.

Ao infinito, e além

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Dizem os italianos que "traduttori traditori" - Tradução é traição. Traduzir decassílabos da língua que me acusa de traição é muita petulância : vindo de um insano, tudo é possível. Considerando que o poeta era, ele mesmo, um exímio tradutor/traidor, tenho certeza que não virá me puxar os pés à noite. O infinito Giacomo Leopardi Sempre querido foi o ermo monte Este arbusto, que de todas as partes Do último horizonte, levo aos olhos Sentado, olhando, infindável espaço além dela, sobrehumano silêncio Em calma e paz profunda quietude Finjo que penso, por muito pouco* Não me para o coração. Com o vento Ouvindo o murmurar triste das folhas De infinito silêncio vem a voz Tudo comparo, vejo a eternidade Mortas estações. Viva, esta presente, com os seus ruídos. Face à imensidão meu pensamento suavemente afunda É doce naufragar neste oceano. Versão original L'infinito Giacomo Leopardi Sempre caro mi fu quest'ermo colle, E questa siepe, che da tanta parte Dell'ultimo orizz

Onomatopaixão

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Há algum tempo publiquei um poema dadaísta do Samuel . Seguindo os passos do meu filho, ofereço agora a minha versão pessoal, diferentemente dele, não inclui as legendas que eu deixo por conta da imaginação de cada leitor: Flic, flic, flic...pá ! Flic, flic ? Flic ! Zóóóim. Pum ! Bzzz, bzzz, flic, bzzz Uóck, smóck, uuuóóóck sss...hum, uock, humm ã ã, á , ú, humm, á, á, á Uauauauau. Aúúú uó..ck, uó...ck, uó... zzzzzz

Nós somos os maiores

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Toda cidade precisa ter algo onde é a maior, para contar isso para os turistas. A referência é sempre quantitativa, nunca qualitativa. Não tem a menor graça dizer que uma atração é a maior da cidade. Maior do estado também não chega a emocionar os guias. No mínimo precisa ser a maior do Brasil. se for da América Latina é um plus a mais adicional. Quando é a maior do mundo é a glória. Em Recife fui apresentado à maior avenida em linha reta da América Latina (sic). Fiquei pensando qual deve ser a maior em linha curva...será a Av Sapopemba ? Imagino que o turista clássico deva adorar esse discurso ainda dizer : ohhhhh. Daí resolvi criar o meu roteiro paulistano: Começaria mostrando o maior canal de esgoto a céu aberto da América, formado pelo eixo Tietê-Pinheiros. Claro que para chegar nele, seria obrigado a passar pela maior concentração de congestionamento da América Latina, pelo menos 100km de vias congestionadas nos dias de trânsito light. O clima mais imprevisível do hemisfério sul

Contículo Prosopopéico

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Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara. Sem uso, Ela nos espia do aparador. Drummond Quando a lua me disse que se recusaria a brilhar naquela noite imaginei que ficaria naquele frio inteligente até o galo cantar. Olhei para o peixinho que, silencioso e levemente melancólico lembrava dos seus rios carregando as queixas do caminho. Ele me olhou com desdém quando o sofá me acolheu e peguei uma antiga versão do Morro dos Ventos Uivantes. Na cabeça a canção, a lua, tal qual a dona de um bordel, pedindo brilhos de aluguel às estrelas desnudadas. No telhado do vizinho, os morcegos faziam a ronda habitual e os grilos, como numa mesa redonda, discutiam os destinos do mundo. O longo braço das nuvens retinham os ventos. E nada de lua. A essa altura da noite apenas os murmúrios do relógio da sala me mantinham acordado. Foi quando o telefone me chamou. Quem poderia ser aquela hora ? Algo importante ou um engano prosaico ? Era ela. O maestro dos grilos levantou a batuta para uma paus

Saindo pelo cano

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Mais de uma vez eu fiz dieta. Todas elas com acompanhamento médico e sempre evitei as bombas químicas que aceleram o processo. Conheço bem o meu metabolismo e o método mais eficiente sempre o foi a dieta do zíper atlético, ou seja, a combinação de boca fechada com atividade física. Conheço pessoas que já fizeram todas as dietas da moda. Passaram dias tomando sopa ou shakes. Em outros momentos tinham cardápios de acordo com a fase da lua (a Cecília Meirelles tinha fases amorosas, essas dieta induz a fases nutricionais). Tentaram aquela de só ingerir proteínas. Depois a outra onde se come tudo, menos proteínas. A do médico americano, a do endocrinologista russo, e até a da nutricionista de Galápagos (também conhecida como dieta Rapa Nui). Nenhuma delas funcionou como a minha nova descoberta dessa semana. Em 6 dias perdi quase 2 kg, sem fazer nenhuma escolha direcionada de alimentação. Foi a dieta do canal. Eu poderia ficar rico com a fórmula, mas como um sujeito generoso, deixo abaixo a

Trucidando analogias

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Tema : Os fins não justificam os meios Variações: Pitanguis reformam os seios Cavalo bravo não aceita arreios Passarins com seus gorjeios Amor, mais que meros galanteios Nem tão bonitos nem tão feios Air bags não dispensam os freios Não tem e-mail use os correios Pessimista não tem anseios

O assassino do biotério

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Para Lucila e seus roedores de estimação Maria e João, professores da universidade, eram os responsáveis pelo biotério. Lá eram os encarregados de reproduzir e manter animais de laboratório destinados às pesquisas da instituição. Apesar do asco de alguns colegas, especialmente aqueles que se dedicavam somente às plantas e levantavam argumentos éticos contra a pesquisa com animais. João e Maria nutriam uma paixão pessoal pelos seus Rattus norvegicus .O nascimento de cada ninhada era uma festa. Mas nos últimos dias, o clima do laboratório era de luto e pavor. Depois de várias manipulações eles já contavam com uma criação de mais de duas centenas de bichinhos e começaram a fase de desmame. Os primos do Mickey eram extremamente ativos e alegres. É verdade que, de vez em quando, alguém acabava deixando um ou outro escapar, e o local virava um verdadeiro caos de caça ao rato. Isso sem contar as eventuais mordidas, nada sério, tirando a dor momentânea, os roedores eram muito bem tratados e nã

Aforismos temáticos

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Do complexo de superioridade Nunca conte uma desgraça para um pernóstico, ele vai sempre ter uma desgraça maior para retribuir Da oximorose do tráfego A forma que a CET encontrou de "melhorar" a fluidez do trânsito é fazendo os carros pararem em mais semáforos (sic) Da relação de poder Levo uma grande vantagem em relação a Proust: eu sei o que ele escreveu e ele nunca vai saber o que eu falo a respeito dele. Do desrespeito à cultura popular Entrou na casa do enforcado gritando "corda". Levou 3 tiros no peito e um na cabeça. Das cosmogonias diversas Muitas pessoas preferem ter um mundo particular todo seu que compartilhar um mundo coletivo que é de todos.

Traição lunar

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Eu tenho o hábito de trair com freqüência , desde que comecei esse blog já foram quase 20 vezes. Já traí com sofisticação e com simplicidade. Sempre usando a língua como ferramenta. Hoje eu cometo uma traição popular, uma letra de música simples mas, ao mesmo tempo bem elaborada. Alguns talvez a achem piegas. Particularmente eu gosto muito Leve-me prá lua Leve-me prá lua Num romance que não parte Ver a primavera Seja em Júpiter ou Marte Quero dizer, dê-me a mão Quero dizer, te beijar Encha-me a canção Neste canto sempiterno Tudo que eu queria Do teu jeito assim moderno Quero dizer, eu proclamo Quero dizer, eu te amo. O original de Bart Howard é Fly me to the moon Let me play among the stars Let me see what spring is like On a-Jupiter and Mars In other words, hold my hand In other words, baby, kiss me Fill my heart with song And let me sing for ever more You are all I long for All I worship and adore In other words, please be true In other words, I love you

Comendo em Recife e Olinda

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Meus roteiros de viagem sempre passam por restaurantes, não é a toa que eu peso o quanto peso (se valesse quanto peso estaria rico). A mais recente foi para Recife onde falei duas vezes num evento do GAPP - Grupo de Apoio Psico-Pedagógico, uma no Centro de Estudo Inclusivos da UFPe e ainda numa reunião da ASPAD (a associação de Síndrome de Down). Depois tem gente que diz que eu só passeio... A vantagem é que sempre existe um tempo para se almoçar e jantar. Eu comecei jantando, na noite que cheguei, num boteco ao lado do hotel, cujo nome era Boteco . Um bom arroz de camarão que, senão estava excepcional, era saboroso e bem servido. No dia seguinte o almoço foi no hotel do evento (uma tristeza) e fui compensar meu estômago de noite num restaurante português (não são poucos por lá) : a Tasca . Aí sim, o local era muito agradável, as donas e os garçons simpáticos e o lombo de bacalhau com crosta de alho estava supimpa, a batata ao murro estava no ponto. Poderiam ter um pouco mais de capri

Notas recifenses

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Eu aproveitei muito minha estada de 4 dias em Recife há duas semanas: trabalhei bastante, comi bem e passeei um pouco. E, claro, como bom insano, observei com atenção algumas coisas do comportamento local: Que a praia (estava de frente para uma) até o sábado é de quase ninguém. No domingo é praia é do povo, assim como a Praça Castro Alves. As pessoas descem em grandes blocos da avenida onde devem passar os ônibus em direção ao mar. Se a praia é do povo, o mar é dos tubarões. Fui alertado mais de uma vez sobre isso : não passe dos arrecifes. Se não tivessem me avisado as placas na praia não deixam dúvidas a esse respeito. Por que isso acontece exatamente em Recife ninguém soube me explicar. Deve ser algo no tempero do pernambucano que atrai os selaquimorfos. Nunca deixe de colocar agasalhos na mala se for para Recife. Eu não coloquei e passei frio várias vezes. O clima pode ser tropical nas ruas, nos demais locais (incluindo os carros) o ar condicionado é programado para congelar os os

Historinha vulgar

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Joana estava desempregada há quase seis meses quando viu o anúncio : precisa-se de recepcionista, não é necessária experiência. Pegou a bolsa, ajeitou o cabelo e foi para a agência de empregos. A entrevistadora gostou dela, mas fez questão de ressaltar que o emprego exigia absoluta discrição, independentemente do que ela pudesse presenciar. Joana concluiu que isso seria fácil. Era tímida e detestava qualquer tipo de fofoca. Foi aprovada e encaminhada diretamente ao local de trabalho para acertar os detalhes. Ao chegar tomou um susto : era um motel. Justo ela, a recatada e pudica. Pensou em desistir e ir embora. Mas lembrou da conta de luz atrasada, mais um mês seria cortada. Tinha também o carnê dos tênis das crianças. Ficou. Mas não contou para ninguém o que era o trabalho. A quem perguntava dizia que era um escritório de contabilidade. O chefe avisou que ia ver coisas estranhas, mas que ela só podia se manifestar se aparecesse algum menor de idade. Esses, disse ele, de jeito nenhum,

Adolescentices

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Muitas pessoas se queixam da adolescência (mais da dos filhos do que das suas próprias), eu não posso reclamar da minha. Claro que foi um período de emoções em altos e baixos, acompanhando as flutuações hormonais do período. Também tive meus momentos de choque de gerações. Tudo muito comum. Já naquela época escrevia loucamente e, como seria de se esperar, com muito pouca qualidade. Especialmente poemas apaixonados. Como me apaixonava com frequência, a produção era alta. De tempos em tempos releio algumas coisas que eu escrevi e, ocasionalmente, encontro alguma que tinha uma idéia razoável e uma execução ruim e tento recuperá-la. Aí vai uma delas : Namorados Na praia, sós, o feio e a descabelada Ele louco e repleto de anseio por encontrar a bela amada A descabelada e o feio. Vinha de orgulho assim tão cheio, de amor vinha tão carregada Olhavam-se assim de permeio A descabelada e o feio. Assim se beijaram por nada, um do outro eram o esteio Ela, bela, tímida e descabelada Ele, louco, ap

A volátil antologia de Outubro

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Meus leitores/comentaristas andam insuperáveis. Cada mês é mais difícil escolher as frases para essa antologia. Se você é novo por aqui, a intenção é ler as frases fora dos seus contextos e, a partir delas, imaginar suas próprias histórias: ...não jogaria um lustre em um ignorante... ...só não foi presa porque ainda não pegou gosto pela bebida... Mês que vem eu recebo alta... ahuahuahuahua! E o tempero tem um gosto de indigesto mesmo antes que se prove a mistura... ...rezando para que meus ácidos estomacais consigam digerir logo... Bestial", como diria meu amigo Portuense! só não serve pra quem tem companheiro ciumento... e metionina você sabe o que é? O cara acorda no meio da noite e manda a secretária...trazer o penico Acho que vou comprar a merenda lá na venda onde tem uma moenda. ...eu seria uma montanha feliz. Já pensou em incluir blogueiros? Oba, até que enfim ela vai perder o barrigão. E eu que nem sabia que sucupira era uma árvore... pai de uma o quê? nosinhoradosmeuspeca

Caliconto insanopígio

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A primeira vez que ele a chamou de calipígia* ela não sabia se sorria, se lhe dava um beijo ou uma bofetada bem estalada. Como ele parecia falar sério e num tom romântico, ela fingiu entender. E correu para o dicionário logo que chegou em casa. Descobriu que era um elogio ousado. Mas um elogio. Resolveu retrucar no encontro seguinte. - "...é bom você saber que, além de calipígia, também sou calimérica e calipódica..." Foi a vez dele ficar com cara de tacho...mais ainda quando ela completou : -"...e, cá entre nós, acho que você é sensualmente calistomático e calichêirico !" Nunca mais ele se deixou pegar no contrapé. Um dia na praia revelou que descobrira que ela também era caliafálica**, além de caliauquênica, o que ele já sabia há muito tempo. Ela nem piscou, mas gostou. Não demorou muito para ele constatar que ela também era calimástica e calihelêica, o que a deixou embevecida. Um dia se arriscou a dizer que estava louco para saber se ela era caliquética. Ela deu

Cantada inesquecível

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Eu nunca fiz o gênero machista. Nem nos tempos de moleque adolescente me agradava o papo furado dos colegas que arrotavam conquistas com detalhes absolutamente inverossímeis. Já sabia que as meninas detestavam ser "faladas" (ainda que gostem até hoje de falar...). Descobri que cão que ladra não morde, o que me foi muito favorável na minha juventude. Nunca fui ciumento, o que incomodou uma ou outra namorada. Nunca dei ordens, nunca levantei a voz para mulher nenhuma (se bem que duas vezes fui obrigado a ouvir gritos). Abandonei e fui abandonado em namoros, em quantidades equilibradamente proporcionais. Não posso negar que fui criado numa sociedade machista e alguns resquícios me acompanharam. Sempre tive o hábito de pagar as contas dos programas (poderia ter feito umas economias...risos), ainda dou a mão para mulheres para ajudá-las sair do carro (e, claro, já fiquei com a mão abanando algumas vezes) e até hoje gosto de comprar flores (inclusive para mim mesmo). Mas a situaçã