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Mostrando postagens de 2013

Aparições

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A foto parecia ser apenas mais uma daquelas tantas que se encontram em exposições. Preto e branco. Composição geométrica alternando curvas e retas. Um ser vivo aparentemente perdido em meio a um contexto domiciliar comum. Bem ao estilo casual de Marina.   O que a diferenciava de outras não era o espelho no meio da imagem, mas o fato de Marina ter se deixado aparecer nele. E, definitivamente, não tinha sido nem um acidente, nem uma distração pois, mesmo entrecortada, a imagem dela ocupava um lugar nobre na foto.   Exatamente por isso é que Audálio se transtornou ao passar diante daquele painel. Sua vontade foi de falar imediatamente com ela e exigir que a foto fosse retirada da exposição. Aquilo era uma indecência.   No entanto, ao ir em direção da namorada percebeu que ela estava cercada de gente. Amigos, colegas de trabalho do jornal e até algumas pessoas da empresa que patrocinavam a mostra. Audálio tinha o estopim curto mas, ao mesmo tempo, detesta

Prato do dia

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Hermógenes sempre gostou de cozinhar. Não era um super chef do Cordon Bleu mas seus pratos sempre fizeram sucesso entre os parentes e os amigos. Um dia, cansado de trabalhar para os outros, resolveu dar seu grito de independência e abrir o seu restaurante. Não era um restaurante qualquer, Hermógenes não queria uma multidão de funcionários nem tinha a pretensão de enriquecer com o negócio. Para ele bastava fazer o que gostava e receber o suficiente para viver de forma confortável. Seu restaurante tinha apenas 6 mesas e não tinha cardápio. Hermógenes se alternava entre o salão e a cozinha. Em cada um tinha um auxiliar para executar as tarefas mais operacionais. O próprio Hermógenes atendia os clientes e, durante a conversa com eles, oferecia os pratos que mais se adequassem a necessidade de cada um. O cliente está faminto? Hermógenes servia uma farta macarronada. Não tinha um estômago muito resistente? Servia a sopa do dia. Queria uma experiência gastronômica única? Hermógenes entregav

Auto escola paulistana

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Você é um motorista à moda antiga? Venha descobrir regras de trânsito que você desconhecia. Você é um neófito? Bem vindo à vida selvagem. Se você é de fora de São Paulo, abaixo seguem umas dicas de como exercer suas habilidades sinesíforas na metróple. Aqui nós temos uma instituição chamada CET, a companhia de engarrafamento do tráfego que, diferentemente do Tiririca (pior do que está não fica), tem como lema: "não há nada tão ruim que não possa ser piorado". Caso você aviste os carros da CET organizando alguma coisa, pode ter certeza que o trânsito na região vai piorar muito. Se você avistar seres vestidos de uniforme marrom, prepare-se, vai ser multado. Se estiver dirigindo à noite, com chuva e os semáforos estiverem quebrados, pode ficar tranquilo, você não vai ver nenhum ser de uniforme marrom. Em relação às práticas dos motoristas locais: Caso você se depare com um radar limitando a velocidade a 60 km/h lembre que o carro na sua frente vai reduzir bruscam

Tzarice

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Piratas piravam em Piracaia paravam em Paraíba pulavam em Paulinía Sobre as ondas Sombras fundas Sobrancelhas Carrapetas pululavam Carrapatos e ósculos ciciavam. Piratas pairavam em Paris açodando em tapires mumificados o adeus dos pintassilgos.

O samba do taitiano doido

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Corria o ano de 1968 (aquele que dizem que não acabou) e o genial Lalau* colocava nas paradas de sucesso o “ Samba do Crioulo Doido ” , uma paródia para ironizar a obrigatoriedade imposta às escolas de samba de retratarem nos seus sambas de enredo somente fatos históricos. Eu soube que depois de tomarem 24 gols em uma semana e, mesmo assim, comemorarem e distribuírem loas aos brasileiros, os jogadores do Taiti (o Taití é aqui?) um tanto zonzos dos gols e do noticiário nacional, sairam cantando coisas do tipo: Um tal de ato médico Agora obriga a cura gay Por médicos cubanos Que pedem ao paciente Que repicta** 37 Ou desconte 20 centavos A nossa salada coitada Ficou mal temperada Vinagre foi proibido E a pimenta exagerada De sobremesa éclair Pois a bomba era imoral. Nas histórias em quadrinhos O herói é mascarado O batman dessas plagas Não é nem nascituro E já está condenado Olerê, olará, squidum... Esse samba não rima E muito menos solução Olerê, olará, squid

Reflexões sobre a 5a feira 13

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É sintomático que depois de 4 rodadas de manifestações em São Paulo (e a eclosão de outras no Rio, Porto Alegre, Maceió, Manaus, Belo Horizonte, Brasília)) nenhum, ou melhor, para ser mais exato NENHUM vereador, deputado, senador de NENHUM partido tenha se posicionado sobre o tema. Nem o Suplicy que adora carregar faixas em manifestações para aparecer na capa dos jornais, nem o proto-partido da Marina que se autodenomina como nova forma de fazer política, nem a esquerda pseudo-radical do PSOL, nem a direita, nem o centro...todos de rabo preso com o status quo que está sendo questionado (se você acredita que a manifestação é por R$0,20 é melhor começar a se informar melhor). Com a opinião pública dividida e a mídia, depois de apanhar na rua, começando a tender para a defesa das manifestações, estão todos esperando para ver de que lado eles ganham (ou perdem menos) votos. Aqueles que se dizem representantes do povo não representam ninguém, não se colocam ao lado de ninguém, não se com

Dia notável

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Hoje é o centésimo quinquagésimo dia do ano. Não é um dia como outro qualquer.   É o dia em que Tito cercou Jerusalém e o dia em que Joana D´Arc ardeu um chamas.   É o aniversário de nascimento de Dante Alighieri e o de morte de Voltaire e de Peter Paul Rubens.   Para o bem do swing, também é o aniversário de Benny Goodman.   Para o bem da humanidade é o aniversário de Bakunin.   Para o meu bem e minha felicidade é o dia quem nasceu o meu amor.   E quando eu comemoro o aniversário da mulher que transformou a minha vida pouco me importa se Jerusalém caiu ou se a Joana cremou-se.   A divina comédia pouco significa e Cândido não passa de um ingênuo. Nenhumas das 3 graças tem a graça que só ela tem.   A anarquia se organiza e nem Sing, sing, sing é capaz de superar a voz que é música para meus ouvidos.   Em mais um dos seus aniversários que passamos juntos eu agradeço pela sua existência.   E pela certeza que

Autômato

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Ligue seus botões. Deixe a energia elétrica correr dentro dos seus transístores. Deixe óleo escorrer Nas sua engrenagens. Mecanicamente raciocina Reflexos são condicionados Automatizados. Passos são medidos Milimétricamente iguais. O homem-máquina não se percebe não se sente não se manifesta. Desobediência - não tem registro Ele não é programado para viver Mas para produzir E, quando a máquina falha, Não há problemas É artigo de consumo Usa-se e joga-se fora No ferro-velho de nós mesmos.

Uma mulher cabal

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"...o que quero dizer é que deixei uma boa parte de mim mesma inacabada porque desperdicei demais meu tempo. Não  obstante..." (Lillian Hellman) Quando Amanda acabou de ler essas linhas sentiu-se arrasada. Como uma mulher daquelas poderia se dizer inacabada. Era uma afirmação totalmente descabida. Tomou uma decisão para a sua própria vida. Ela seria uma mulher cabal, jamais inacabada. Iria ao fim e ao cabo de todas as coisas. Na manhã seguinte começou a levar a cabo seu intento. Fez uma faxina geral na casa e recolheu todos os cabos existentes dentro do imóvel. Eram tantos que achou que nunca acabaria, mas acabou com uma caixa de fios emaranhados em cima da mesa da sala. Começou a separá-los por tipo. Cabos de força, cabos paralelos e seriais, cabos de som, cabos USB...cabos e cabos. Dentro de cada tipo passou a separá-los por calibre, por potência, por categoria e, finalmente, por cores. Ao final do dia tinha todos os seus cabos classificados, etiquetados e guardados em ca

Contículo parequêmico, com algumas colisões

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Foi num 31 de dezembro, em plena véspera do ano novo que Paulo Loupa carregou um cone negro de corpo poroso certo de que enfrentaria um crepúsculo longo. Pensou consigo mesmo, é bom que seja já que se manifeste a erótica cacofonia da garota taluda, aquela imaculada dama, vestida de grife feminina. Sabia que poderia criar um impasse sensual diante da possível gafe feminina e, como um pato tonto, desceu o fosso social e fez o ataque que queria na natureza. A infame menina, de roupa parda, não resistiu ao menino nostálgico. Era uma malhada das cores, admiradora do sintagma masculino sem regra gramatical. Tinha noção de que aquela era uma faca cara para pouco coco e, se esperasse segundos mais ele, sendo muito tolo, se enroscaria num tabu burocrático como se fora gado doente. Não perderia a oportunidade de nenhuma maneira. Dançou um samba baiano de importante tempo e guardou a tenra rama de lembranças num saco colorido. Saiu convicto de viver uma matemáti

O hemófobo

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Olhando em retrospectiva, os pais de João começaram a entender uma série de atitudes dele durante a sua infância e adolescência. A começar do seu nascimento. Os médicos da maternidade tinham falado que nunca um bebê tinha chorado daquela forma, mesmo antes de sair da barriga da mãe. E que nunca tinham visto um bebê parar de chorar tão imediatamente quanto quando ele acabou de ser lavado. E continuou chorando lancinantemente a cada vez que se machucava, mesmo que fosse a mais leve arranhada. Os pais lembram quando foram chamados às pressas na escola pois João estava passando muito mal. Ficaram perplexos ao descobrir que o menino tinha começado a vomitar ao ver um colega se cortar com uma tesoura. Em casa João se isolava. Não mexia numa série de objetos e, mesmo à mesa, tinha dificuldades em usar o garfo e a faca. Dificilmente assistia e televisão e saia correndo se a película tivesse alguma cena de violência. Foi no princípio da adolescência que, finalmente, a família descobri

A calcinha da discórdia

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Jerônimo era o tipo de sujeito quadrado até o último milímetro da pele. Criado de forma espartana e com separação clara a respeito das “coisas de homem” e “coisas de mulher” nunca se sentiu confortável em situações em que precisava atravessar a linha divisória. No salão de beleza que a mulher frequentava ele sempre esperava do lado de fora, mesmo que estivesse chovendo cântaros e moringas. Passava ao largo das portas de vestiários e banheiros femininos e, obviamente, jamais entrara em uma loja de lingerie. Amélie, sua esposa, conhecedora das idiossincrasias do marido, quando precisava renovar o estoque de calcinhas e sutiãs ou ia sozinha ou, caso estivem juntos em algum shopping mandava-o ir dar uma olhada na loja de sapatos masculinos. Ele já sabia o que ela ia fazer. Quando estavam prestes a comemorar a primeira década de casamento Jerônimo resolveu que era a hora de surpreender Amélie e não seria com mais um anel ou brinco caro que conseguiria isso. Entrou no shopping, re

Tifalentices

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Panacópios entosados polpatavam as crídias remacorentes dos bregórdios da curbina. Caticantes e plínicos os grantetos se aclainaram nas simálias. Piricintos e culticalos abrosaram os sespos enquanto tripentes divratavam os grutis jenesilados. Inestiladamente Netente mesodou: "- Poriva bladatinto!" Os quecos lizodaram as módinas e os telafânios abridiram as nalosidias. Tões e destonos se mundiram palcotiquilantes nacontindo as chátanas. E a sedona omarrou as madolivas.

Contículo diacópico

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Amargo, o inefável chá amargo que me fora servido entre tantas e outros tantas beberragens caíram-me no esôfago, meu pobre esôfago, como se fossem litros de ácido, sulfuroso ácido. Eu que, camonianamente cantava o amor, tão puro amor, comecei a retorcer-me em convulsões atrozes, mais que atrozes, formidandas. Olhava-me no espelho, um deteriorado espelho que colocaram diante dos olhos, meus castanhos olhos e só via minhas rugas se multiplicando em mais rugas. Debalde buscava um paliativo de boldo, ou algo similar a boldo mas só me esbaldava em gemidos. Reminiscências álacres, reminiscências márcidas, reminiscências estranhas açodavam minha memória, cada dia mais fraca memória. Subitamente ela entrou. Subitamente lançou sobre mim seu olhar, delicioso olhar e, como num passe de mágica, fez-se a mágica da regeneração completa do meu ser. Nunca mais amargo chá. Nunca mais amargo boldo. Nunca mais amarga vida. Diácope é uma figura de linguagem que consiste na repetição da m

Mistério na frente de caixa

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Um domingo, quando ele chegou para o café da manhã ela perguntou onde ele tinha colocado as bananas. Automaticamente ele respondeu que não sabia, afinal era ela que guardava as frutas e verduras. Durante a semana ele passou na feira perto do trabalho e trouxe uma dúzia de bananas erradas (eles comiam banana ouro e ele comprou prata, pois só lembrara que era algum metal precioso) . Coincidentemente, ou não, no domingo seguinte ele ouviu uma pergunta similar. Onde estavam os ovos? Repetiram a busca na casa e no carro. Nada dos megalécitos. Ela chegou inclusive a conferir a nota do supermercado e constatou que tinham sido cobrados. Ele se sentiu culpado, afinal era o responsável por embalar as compras e, provavelmente esquecera os ovos no balcão do caixa. De qualquer forma, ficou com uma pulga atrás da orelha, não era um homem que acreditava em coincidências. Na semana seguinte prestou atenção redobrada ao empacotar e, depois de colocar caixas e sacolas no carrin