O hemófobo
Olhando em retrospectiva, os pais de João começaram a entender uma série de atitudes dele durante a sua infância e adolescência.
A começar do seu nascimento. Os médicos da maternidade tinham falado que nunca um bebê tinha chorado daquela forma, mesmo antes de sair da barriga da mãe. E que nunca tinham visto um bebê parar de chorar tão imediatamente quanto quando ele acabou de ser lavado.
E continuou chorando lancinantemente a cada vez que se machucava, mesmo que fosse a mais leve arranhada. Os pais lembram quando foram chamados às pressas na escola pois João estava passando muito mal. Ficaram perplexos ao descobrir que o menino tinha começado a vomitar ao ver um colega se cortar com uma tesoura.
Em casa João se isolava. Não mexia numa série de objetos e, mesmo à mesa, tinha dificuldades em usar o garfo e a faca. Dificilmente assistia e televisão e saia correndo se a película tivesse alguma cena de violência.
Foi no princípio da adolescência que, finalmente, a família descobriu qual era o seu problema. O médico pediu uma série de exames para checar se os hormônios estavam se comportando bem e João desmaiou durante o exame de sangue.
Levaram-no a um psicólogo que depois de muito explorar a mente de João diagnosticou: o menino é hemófobo! A única cura seria fazer análise por tempo indeterminado. A família não tinha verba para isso, o jeito era administrar a situação da forma que desse.
E foi dando. Com alguns episódios de crise, como quando a irmã mais nova teve a primeira menstruação e, ouvindo a explicação, João resolveu que jamais se casaria, um ser sangrando em casa todos os meses seria intolerável.
O único custo que a família foi obrigada a carregar foi o da anestesia geral cada vez que João precisava fazer algum exame de sangue.
Já na juventude João descobriu os efeitos da vitamina K, e começou a comer verduras verdes em doses cavalares. Mais tarde passou a tomar suplementos da vitamina.
Chegou a tentar resolver o problema frequentando um grupo de apoio, os Fóbicos Anônimos. Não passou do primeiro encontro. Quando disse que era hemofóbico foi expulso da sala pelo mediador do grupo que o escorraçou gritando que hemofobia não era transtorno psicológico, era discriminação. João não teve tempo de explicar.
Continuou convivendo com seu medo e, além da vitamina K, começou a tomar medicamentos para hemofilia.
Morreu aos 30 anos com trombose generalizada, provocada por overdose de coagulantes.
A começar do seu nascimento. Os médicos da maternidade tinham falado que nunca um bebê tinha chorado daquela forma, mesmo antes de sair da barriga da mãe. E que nunca tinham visto um bebê parar de chorar tão imediatamente quanto quando ele acabou de ser lavado.
E continuou chorando lancinantemente a cada vez que se machucava, mesmo que fosse a mais leve arranhada. Os pais lembram quando foram chamados às pressas na escola pois João estava passando muito mal. Ficaram perplexos ao descobrir que o menino tinha começado a vomitar ao ver um colega se cortar com uma tesoura.
Em casa João se isolava. Não mexia numa série de objetos e, mesmo à mesa, tinha dificuldades em usar o garfo e a faca. Dificilmente assistia e televisão e saia correndo se a película tivesse alguma cena de violência.
Foi no princípio da adolescência que, finalmente, a família descobriu qual era o seu problema. O médico pediu uma série de exames para checar se os hormônios estavam se comportando bem e João desmaiou durante o exame de sangue.
Levaram-no a um psicólogo que depois de muito explorar a mente de João diagnosticou: o menino é hemófobo! A única cura seria fazer análise por tempo indeterminado. A família não tinha verba para isso, o jeito era administrar a situação da forma que desse.
E foi dando. Com alguns episódios de crise, como quando a irmã mais nova teve a primeira menstruação e, ouvindo a explicação, João resolveu que jamais se casaria, um ser sangrando em casa todos os meses seria intolerável.
O único custo que a família foi obrigada a carregar foi o da anestesia geral cada vez que João precisava fazer algum exame de sangue.
Já na juventude João descobriu os efeitos da vitamina K, e começou a comer verduras verdes em doses cavalares. Mais tarde passou a tomar suplementos da vitamina.
Chegou a tentar resolver o problema frequentando um grupo de apoio, os Fóbicos Anônimos. Não passou do primeiro encontro. Quando disse que era hemofóbico foi expulso da sala pelo mediador do grupo que o escorraçou gritando que hemofobia não era transtorno psicológico, era discriminação. João não teve tempo de explicar.
Continuou convivendo com seu medo e, além da vitamina K, começou a tomar medicamentos para hemofilia.
Morreu aos 30 anos com trombose generalizada, provocada por overdose de coagulantes.
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