Manias

Carlos estava longe de ser um sujeito ingênuo ou do tipo que se chocava com o inusitado.

Durante toda a sua vida profissional conhecera pessoas com os mais diversos tipos de taras e fetiches, alguns deles tão insólitos que sequer apareciam nas ferramentas de busca da internet.


Quando foi chamado pelos parentes de Edileuza achou que seria apenas mais um caso corriqueiro. A família estava desesperada com a idéia fixa da mulher.


Carlos logo lembrou quee havia uma ligação direta entre a ansiedade e as idéias fixas por causa do que Jung postulou no passado.


Chegou à casa de Edileuza e tocou a campainha. O som era diferente, parecia um conjunto de barras metálicas se chocando umas às outras.


Ela abriu a porta. Logo no hall de entrada havia um modelo sanfonado de parede. Abertura de mais de 60cm ela falou, mesmo antes de dizer boa tarde.


No teto um modelo bi plastificado pendia perigosamente sobre a sua cabeça, ele desviou, mas não percebeu que no chão havia um giratório eletrostático. Derrubou tudo.


Edileuza soltou um grito de desespero. Aquele era a sua jóia da coroa, por isso mesmo enfeitava o centro da sala.


Pela casa foi encontrando outro, minis, com abas, sem abas e até mesmo um torre perfeitamente anodizado.


As paredes, ao invés de quadros, tinham versões de encaixe, extensíveis, modulares e dobráveis.


Perguntou a Edileuza se poderiam sentar e conversar um pouco sobre o tema.


Ela discorreu longamente sobre a história do objeto, desde os tempos remotos em que era denominado estendal até a idade moderna.


Carlos percebeu que havia um desejo incutido naquele devir. Perguntou se Edileuza sentia prazer em lavar roupas.


Ela enrubesceu, mas disse que odiava lavar roupas, assim como detestava passar roupas.


Ele não perdeu tempo e foi direto ao ponto: " - por que, então, aquela fixação por varais? E por que tantos modelos de varais vazios pela casa toda?"


Edileuza explicou que era uma compulsão inexplicável. Morava ao lado da casa dos varais. Cada vez que que via um modelo novo na vitrine precisava comprá-lo.


" - Algumas mulheres compram sapatos, outras chocolate. Eu compro varais."


Carlos saiu pensativo. Concluiu que não havia nada que pudesse ser feito e iria recomendar que não a privassem dos seus estendais. Isso poderia causar um profunda depressão por abstinência.


Já na rua, viu a loja que provocava toda essa tentação em Edileuza. Na vitrine um varal íntimo de banheiro. Comprou um e voltou até a porta de Edileuza.


" - Acho que você ainda não tem esse, comprei para a sua coleção."


Ela o encarou com um olhar maroto.


" - Não mesmo, você não quer instalá-lo para mim?"


Ao anoitecer as peças de roupas espalhavam-se penduradas desde o hall até o quarto.

Comentários

Jô Bibas disse…
O melhor do texto é o tempo que a gente leva para descobrir do que você está falando. Muito bom. Também tenho mania. Mas não conto.
Taty disse…
Viajei neste texto.....lembrei de filmes antigos com varais d roupas pelo banheiro, casa de ciganos, pessoas com manias de colecionar bibelots....Que viagem gostosa. Beijos
O Tempo Passa disse…
Edileuza, sua safadinha!
clau disse…
Mas um caso daqueles "pindurados"...
Hihihi!
Bjs!
Bel disse…
Uia! Menino esperto esse Carlos...
Aposto que resolveu o problema de Edileuza!!!

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