Os bestsellers mais não lidos do mundo
Não poucos livros da história foram tecnicamente definidos como bestsellers, até porque a quantidade necessária para receber esse nome é bastante baixa, cerca de 10 mil exemplares (em mercados editoriais mais pobres como o nosso, 5 mil já é um bestseller).
1. O nome da rosa: lembro que umas das coisas que me vieram à cabeça quando li o livro, foi me surpreender como nossa população sabia latim (se você leu o livro já entendeu o porquê) e como tinha interesse em grandes debates teológicos como o nominalismo. Para piorar, como muitos viram o filme sem ter lido o livro, comentavam a história como se ela se resumisse a um conto da Agatha Christie.
2. Ulysses: injustamente considerado como um dos livros mais difíceis da história, a epopeia de Stephen Dedalus exige um pouco de conhecimento histórico, artístico e filosófico, mas não é algo ilegível. A trama é bastante simples e os diálogos, não poucas vezes, espetaculares. Mas como leva a fama de ilegível, todo mundo tem uma boa desculpa para não ter lido.
3. O capital: é impressionante a quantidade de bobagens que se colocam na boca de Marx, alegando que ele falou isso nessa obra. Apesar de ser um livro obrigatório para quem estuda economia e sociologia, muitas vezes tenho a impressão que as pessoas só leram um resumo (mal) feito por algum colega de classe.
4. Ilíada, Odisseia, Eneida e outra epopeias clássicas: é verdade que assim como não teríamos lutas sem que antes doze auroras raiassem, e provavelmente não teremos leituras dessas obras tão cedo. O que fazer, todo mundo tem seu calcanhar de Aquiles.
5. Em busca do tempo perdido: quem não gosta de uma madeleine? Provavelmente o bolinho doce deve ser o único personagem relevante para quem nunca se atreveu a enfrentar os sete volumes da obra. Nesse ponto sou obrigado a concordar com aqueles que tentaram em vão, o texto de Proust é melífluo e arrastado.
6. Rápido e devagar: o campeão de slides de powerpoint das redes sociais, provavelmente o maior gerador do viés da pseudocitação. Compete par e passo com o Capital como o livro mais distorcido da história da literatura. Com o agravante de que muitas vezes é usado erroneamente em tomadas de decisão.
7. A divina comédia. Alguém já ouviu alguém falar do céu de Dante? Ou do seu purgatório? Todas citações são infernais, a ponto do adjetivo dantesco ser sinônimo da morada de Cérbero. Será que ele realmente encontrou Beatriz? Será que Virgílio (autor da Eneida mencionada acima) lhe transmitiu a praga de livro não lido? Ah, apesar do título e contrariando alguns que pensam assim, o livro não é uma comédia.
8. Shakespeare em geral. Como poderia me esquecer do bardo? Criador da dupla caipira Omelete e McBete, para quem existem tantas coisas entre o céu e a terra que não vale a pena perder tempo lendo a sua vã filosofia. Você pode até me acusar de estar aqui fazendo muito barulho por nada, mas se a conversa acabar bem, tudo bem.
9. Nietzsche em geral: se Kahneman é o rei dos slides de powerpoint, o velho Frederico tornou-se o rei do copy paste do site de frase “O pensador”. Que Übermensch que nada, o legal mesmo é um deus que saiba dançar. Se visse o que fizeram com ele, ele teria de chamar o super-homem para salvá-lo da loucura.
10. Bíblia: os bestseller dos bestsellers, especialmente depois que Lutero defendeu que cada um deveria fazer sua própria leitura e interpretação. Toda casa tem uma, geralmente enfeitando algum cômodo da sala e aberta em algum versículo motivacional. No entanto a prática de muitos dos seus defensores não tem nada a ver com o que consta do texto (e nem precisa de muita interpretação para entender a diferença).
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