Baudrillard, Platão e Aristóteles
Ainda que não haja uma relação direta, é impossível não sentir uma certa aproximação entre os simulacros de Baudrillard e a mimesis de Platão (e a contraposição de Aristóteles sobre o mesmo tema).
Baudrillard fala em estágios da simulação, partindo da reflexão do real, para a perversão do real, daí para a ausência da realidade básica e finalmente a completa disjunção entre o que se mostra e qualquer realidade possível.
Platão, do seu lado fala da realidade una e perfeita (primeiro nível), das cópias imperfeitas feitas pelo homem (segundo nível) e da reprodução artística como a mimese do que já era imperfeito (terceiro nível). Em A República, ele usa a expressão de três graus de separação entre a verdade e a simulação.
Já Aristóteles, na sua Poética, era um defensor da mimética artística que, segundo ele, tinha quatro funções: a primeira antropológica, uma vez que mimetizar é inato à natureza humana, a segunda paidêutica (educacional), pois é pela mimesis que o homem adquire seus primeiros conhecimentos, a terceira estética, pelo prazer humano de contemplar e admirar as mimetizações e, finalmente, a gnosiológica (aquela que relativa ao conhecimento), já que ao nos depararmos com a mimesis podemos aprender e concluir o que são as coisas.
A esses argumentos ainda propõe que a mimética tem o valor elevado de dizer o que aconteceu e falar do que poderia acontecer.
O questionamento, e aí caminhando na linha de Baudrillard, é a nossa crescente incapacidade de diferenciar realidade de simulação e, especialmente a simulação que sequer tem uma realidade associada a ela (simulacro).
Não pretendo cair no psicologismo barato que se refere a essas simulações com uma fuga da realidade. Existe aqui um ponto que pode ser melhor explorado por psicólogos sérios. Eu não sou psicólogo e, nem sempre, muito sério.
A realidade, percebida, até porque tudo o que definimos como realidade não passa da nossa percepção subjetiva, como já se sabe desde os tempos de Lao-Tzu, não é exatamente um campo florido. Ela é muitas vezes feia, sempre incerta e sujeita e emergências e raramente lógica. O que não significa que passamos a vida nos escondendo dela.
Você que agora está me lendo mediado por um recurso digital, por mais “realista” que ele possa parecer, está diante de uma distorção da realidade. O mais próximo que poderia estar dela seria conversando pessoalmente comigo (e mesmo nessa situação, eu não seria um ser real, mas aquele que você estaria percebendo).
Você está lendo o que eu represento, não o que eu sou. De qualquer forma, espero que essa representação me permita provocar seus neurônios.
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