Uma frustração genial
A vida é uma comédia
escrita por um comediante sádico (Bobby Dorfman, personagem principal)
Café Society é um filme frustrante.
E é genial justamente por isso, um filme cujo desenrolar vai
frustrando cada uma das nossas expectativas sobre os desfechos da trama
principal e de cada uma das subtramas.
Inclusive os desfechos que o próprio Woody Allen nos ensinou
a esperar em outros filmes seus.
Alguns vão dizer que é um filme menor. Talvez seja mesmo. De
qualquer forma, um filme menor de Allen ainda é melhor do que a grande maioria
das tranqueiras que são exibidas nas telonas e telinhas.
O argumento do filme é bastante simples. Não tem nenhum ator
saltando da tela nem nenhum personagem viajando no tempo. Nem camaleões.
Os personagens são seres críveis que vivem situações
corriqueiras e têm sentimentos comuns a qualquer outro ser humano. Até os
bandidos são bandidos comuns.
Não há nenhum ator ou atriz de beleza estonteante.
Os atores dão a impressão de serem seus próprios personagens
na vida real. Nenhuma careta, nenhum exagero, nenhuma lágrima derramada para
provocar reações melodramáticas.
A narrativa é linear. Nenhum flash back que obrigue o espectador
a realizar sinapses complexas para entender.
Os diálogos, como sempre, são geniais. Especialmente os
travados entre o pai e a mãe do personagem principal.
A mãe, não poderia deixar de ser a típica yiddishe mama,
senão não seria um filme de Woody Allen.
A cinematografia é fabulosa, seja nos grandes planos, seja
nos closes finais. A fotografia é deslumbrante, especialmente os jogos de cor da
ensolarada Califórnia (a cena azulada da abertura do filme é emocionante).
E ninguém ainda conseguiu mostrar Manhattan como Woody
Allen.
E ninguém consegue melhores trilhas sonoras do que ele.
Há humor? Claro, se você é daqueles que entende o humor de
Allen.
Há romance? Sim, o filme é um grande romance.
Assim como há drama e há a eterna discussão ética sobre a
culpa.
Se você gosta de Woody Allen, não perca. Vai se encantar.
Se não gosta, não perca seu tempo. Você vai se frustrar.
Imagem: Allen, Vittorio Storaro e Eisenberg (e um
fotógrafo não identificado)
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