Carregado pelo zonda
Zonda é o nome que se dá a um vento
argentino do lado oriental da cordilheira do Andes que, diz a lenda, ocorre
quando alguém desobedece a Pachamama, a mãe natureza da mitologia inca.
Também é o
nome original do filme de 2015 de Carlos Saura que está em carta na Reserva
Cultural com o nome de “Argentina”.
Desde a sua
trilogia flamenca, Saura se dedica, de tempos em tempos a retornar à música.
Fados é um belíssimo filme sobre a alma portuguesa. Tango, explora a fundo a
essência portenha.
De volta à
Argentina faz um mapa extenso e detalhado dos ritmos folclóricos dos hermanos.
E é um filme
fabuloso, ou melhor, é mais um filme fabuloso de Saura.
Praticamente
nenhuma fala. Música do começo ao fim de sua quase hora e meia de duração.
Tomas Lipan,
Luis Salinas, Pedro Aznar, Jaime Torres, Chaqueño Palavecino, Mariana Carrizo,
são apenas alguns dos muitos intérpretes. Além de homenagens emocionantes a Mercedes
Sosa e a Atahualpa Yupanqui.
O filme
ganhou prêmios como documentário. Mas não é um documentário na melhor acepção
da palavra.
Não existe
um discurso explícito e, exceto por alguns segundos iniciais em que um texto fala
das origens dos diversos ritmos folclóricos argentinos, não temos mais nenhuma
orientação histórica ou didática a respeito do que vamos ver.
Dentro de um
espaço teatral, três paredes translúcidas dentro de um galpão, acontece uma
sucessão de apresentações musicais (zamba,
cuyo, baguala, chamame, chacarera, malambo, cueca, gato, carnavalito) que
dão uma bela amostra de todas as regiões do país.
Ainda que
alguns mais puristas possam reclamar a falta de um loncomeo.
Muitas das
apresentações têm a participação de uma companhia de ballet moderno que
estiliza as danças com uma cara inconfundível do Saura das danças flamencas.
Não espere um galpón criollo. Você
não vai ver as prendas de tranças, nem gauchos
de botinas (ainda que a dança com as boleadeiras seja, plasticamente, um dos
pontos altos do filme.
Some-se a
tudo isso a fortíssima paleta de cores de Saura e a experiência sensorial está
completa.
Aos amigos
brasileiros que sejam realmente fascinados por música, eu recomendo muito. Aos
que conhecem nada ou muito pouco da música argentina, eu recomendo mais.
Com a
ressalva de que não vai ouvir nenhum tango, nem nenhuma milonga. Tão pouco vai
assistir bailarinos acrobáticos dos shows de turistas.
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