Walden, a vida como um projeto de tédio



Depois de um tempo de interrupção, hoje acabei de ler Walden, considerado o texto clássico de David Henry Thoreau.

O enredo do livro é muito simples. O autor retira-se em 1845 para a floresta da Nova Inglaterra, próxima à cidade de Concord, onde constrói com as próprias mãos, sua casa e seus móveis, passando a viver com o mínimo necessário e em intenso contato com a natureza.

Isola-se da sociedade, não por misantropia - ele recebe visitas e as retribui - mas com o propósito de obter uma maior compreensão da sociedade e de descobrir as verdadeiras necessidades essenciais da vida

Sob o risco de ser execrado pelos fãs do autor, julgo ter sido um dos livros mais entediantes e chatos que li na minha vida.

Thoreau, que é um excelente poeta e, na maioria dos seus textos, um bom ensaísta, se tornou um mito pelas suas posições anarquistas e pacifistas e, especialmente, pelo fato de ter sido preso ao se recusar a pagar impostos a um governo escravagista e também porque se recusava a financiar a guerra com o México.

Seu ato de desobediência civil, gerou um excelente ensaio, por sinal.

O ensaio “Life without principle” deveria ser lido por todos aqueles que apregoam uma vida com propósito nas suas carreiras profissionais.

Infelizmente não é o que ocorre com Walden.

O texto é melífluo, as descrições abusam de detalhes irrelevantes e a linguagem beira o infantil. Um relato de dois anos que só podem ser úteis para quem tem objetivos monásticos de vida.

Para completar, a conclusão do livro soa como um manual de auto ajuda de má qualidade (perdão pelo pleonasmo, é uma ênfase desnecessária).

Eu recomendo muito a leitura de Thoreau. Ao mesmo tempo recomendo distância de Walden.


Comentários

O Tempo Passa disse…
Fabio, vc pensou que o tédio causado pelo texto pode ter sido pelo contexto no qual vc vive: a sociedade pós-industrial da comunicação, onde tudo é rápido, raso e transitório? Quando o texto tem, como pano de fundo, a vida lenta de uma Concord do século XVIII? Será que sentiríamos esse tédio lendo-o em 1845?
Fábio Adiron disse…
Não é de hoje que eu tenho problemas com os "românticos", eu gosto de textos longos e complexos, mas que caminham, não precisam correr, mas pelo menos caminham. O problema dos românticos é esse negócio de falar, falar, falar e não sair do mesmo lugar. 5 páginas descrevendo o barulho do trem passando à distância é sonífero...risos

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