Quem não conhece, inventa.
Como diria o mais que conhecido provérbio português: “o
papel aceita tudo”. Já os meios digitais aceitam tudo e mais um pouco (já diria
Umberto Eco, mas há quem se ofenda com essa opinião).
O que pode provocar dores no pâncreas e desconfortos no
astrágalo esquerdo.
Em mim provocaram.
O jornalista que resenhou o show de Sting para um dos
grandes veículos de mídia nacional deve ter nascido quando o Police nem existia
mais. É verdade que, como jornalista, não precisava ter a mesma idade do cantor
e do seu público, bastava ser um pouco mais sério e se informar antes de
escrever.
Ele começa dizendo que o comportamento do público foi morno
e comportado nas cadeiras. Na minha frente estava sentada uma senhora de uns 70
anos (super pop, de calças jeans rasgadas), ele queria o que? Que ela desse
gritinhos e escândalos como a garotada que foi ver o Justin Bieber?
O pessoal que estava na pista dançou bastante. Que estava
nas cadeiras e dançou se preocupou em fazê-lo nas escadas para não atrapalhar a
visão de quem queria ficar sentado (ainda bem que essa geração ainda tem
respeito pelo próximo).
A besteira seguinte foi dizer que as pessoas tiveram de
aguentar músicas desconhecidas para poder ouvir as canções do Police. Quem
desconhece é ele.
Quem gosta
de Sting sabe muito bem (e a maioria cantou junto) coisas como Desert Rose,
Shape of my heart, Fields of gold, I hung my head, Fragile, She´s too good for
me.
E, mais que óbvio, quem é fã conhece as músicas do novo
disco que já está nas prateleiras das lojas (e no Spotfy se você for
moderninho) desde o final do ano passado. Ele bem que poderia ter ouvido um
pouco antes de ir ao show.
De todas as besteiras, a mais genial, foi se referir a The
last bandoleros, a banda que abriu o show e acompanhou Sting durante boa parte
do seu show como um trio. O jornalista acabou de inventar o trio de quatro.
Aliás, muito bons os Bandoleros. Rock´n´roll sem
frescura e de excelente qualidade.
Já os seus comentários sobre Joe Stumner, filho de Sting,
que participou antes e durante o show são, para dizer o mínimo, indelicados. O
cara não tem a qualidade do pai, mas está longe de ser um músico ruim. Ouça
aqui o que eles fazem com Ashes
to ashes, o filme continua com a ótima 50,000, uma das músicas “desconhecidas”
do jornalista e a policealesca Walking on the moon.
No mais, ele se preocupou em comentar a forma física e a
tintura do cabelo do cantor. Imagino que tenha uma longa experiência em
jornalismo de fofocas.
Ah...o show foi uma delícia do começo ao fim. Sting está
mais do que em forma (e aqui me refiro à sua competência musical e não à sua
falta de barriga), o repertório logicamente privilegiou o disco novo (é o tema
da tounée) mas passou por toda a carreira do cantor.
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