Ética, nos olhos dos outros, é refresco


O idealismo é interessante, mas, quando ele se defronta com a realidade,
seu custo se torna proibitivo.
William F. Buckley Jr (jornalista americano)


Ética é o ramo do conhecimento que estuda o comportamento humano, estabelecendo os conceitos de bem e de mal. O debate a respeito de conceitos éticos sempre provoca discussões acaloradas. A começar pelo fato de que a ética de uns não é a mesma dos outros, ética sempre foi um conceito relativo no espaço, no tempo e nas diversas culturas. O que é bom ou aceitável na cultura ocidental não é , obrigatoriamente, tão bom nas culturas orientais. Queimar hereges na fogueira, algo absolutamente ético em tempos de inquisição é inaceitável no século da pós-modernidade.

No entanto, ultimamente, temos sido bombardeados, de um lado, pelos apelos de ética na política, no trabalho, na escola e, do outro por uma série de posturas e mensagens que invalidam esses mesmos apelos. É claro que a Internet não deixa de ser um tremendo canal para esses bombardeios, tanto de um lado como de outro. Com isso eu acabei descobrindo mais um ponto de relativização da ética, a saber, ética sempre é muito bom desde que praticada pelos outros a meu favor.

Mais de uma vez eu recebi a lista dos radares de velocidade espalhados pela cidade de São Paulo – uma aula prática de como burlar a lei sem ser punido. Como é do meu interesse andar em alta velocidade e não ser multado, isso pode ser uma norma de comportamento aceitável. Ou não ? Será que isso não significa que a ética é apenas a capacidade de cada um de não ser pego em delito ? Como diria o “filósofo” grego Aristóteles Onassis : “não ser descoberto em uma mentira é o mesmo que dizer a verdade”.

Há poucos dias recebi outro e-mail, me convocando para protestar contra a proteção anticópia dos CDs modernos, como dizia a mensagem: “Discos com proteção anticópia restringem os direitos dos consumidores e são uma grande ameaça à memória da cultura nacional. Esta é uma convocação de boicote aos produtos culturais com limitações anticópia”. Quer dizer então que liberou geral ? Se a ética se restringe apenas à defesa da memória da cultura nacional eu posso copiar e distribuir ilegalmente qualquer produto cultural.

É claro que vou definir como produto cultural aquilo que me interessa o que inclui além de CDs e livros, todos os softwares que eu preciso, os video-games dos meus sobrinhos e, quem sabe, até os selos postais, afinal filatelia também é cultura. Será que emissão de moeda também não é cultura ? Afinal tem umas pinturas interessantes nas notas, particularmente a de 100 reais me parece muito cultural, o dinheiro americano são verdadeiras aulas de história. Posso reproduzir livremente ?

Poderia desfiar uma série de outras posturas bastantes éticas como sonegar impostos, subornar guardas de trânsito e fiscais, mentir para evitar encontros ou telefonemas indesejados, mas deixo a cada um a escolha da sua própria ética, ou melhor, a ética que cada gostaria que os outros praticassem desde que não fossem obrigados a agir da mesma forma.

No final das contas, assim como pimenta, ética, nos olhos dos outros, é refresco.

Comentários

Anônimo disse…
Interessante é ver como surgem listas de adesão a "lutas" que são defendidas, nos e-mails, como sendo de todos. Lembrei-me de um texto em que citei uma lista contra a decisão do Governo em isentar de IPI somente carros "até" 60 mil reais, comprados por pessoas com deficiência. Tenho minhas dúvidas quanto à ética de quem quer tirar "vantagens" da própria deficiência, afinal, se queremos ser tratados como cidadãos comuns deveríamos lutar contra "vantagens" e não exigí-las.

Beijo
Anônimo disse…
Taí um problema de macro-ética, ou seja, os parâmetros da própria ética. Mas gosto muito de andar com pessoas éticas, embora isso não seja muito ético de minha parte...
Anônimo disse…
Fabio tu tem um blog e eu não sabia... E a Tchela está aqui, o que é fantástico pois ela é uma das minhas amigas antigas dos blogs...
Ética, ser ética, ter ética estou aprendendo cada dia mais Fabio. E como tudo que tu escrevu no post, muitas coisas "com o jeitinho brasileiro" faço e nem percebo, ou finjo que não percebo. Mas tenho vontade de ser ética, de ter, então vou aprendendo. O professor é maravilhoso.
Abr5açãooooooo.
Anônimo disse…
Oi, Fábio!
Sabe aquela história antiga de "não fazer ao próximo o que não gostaria que fizessem com vc"? Pois é assim que eu entendo a ética. Ao longo da minha vida, tenho procurado agir dentro dos princípios da ética e da honestidade, ensinando sempre para a minha filha que este é o melhor caminho, que este é o único caminho correto. É bem verdade que fico bastante preocupada quando minha filha percebe que eu, que me recuso a levar vantagem em tudo, vivo apertada de grana e às voltas com conflitos dos quais saem ilesos meus amigos adeptos do "jeitinho". Tenho medo de que, com tantas exemplos contrários aos meus, minha filha pense que o outro caminho é o melhor...
Unknown disse…
Bem dito, ética varia de acordo com as culturas, mas nos casos que vc citou , acredito que em qualquer cultura seria moralmente errado...
e ainda, no meu caso me basta agir de maneira que nomeio, moralmente correta e receber por isso vários títulos que não vem ao caso dizer aqui.
mas sempre com muitos erros, claro
tenho tb algumas insanidades.

bijok
Braulio França disse…
Ética! Eis a questão? Ter ou não ter, sábia decisão...
Anônimo disse…
Ética e moral são gêmeas siamesas na subjetividade, mas às vezes se tornam completas desconhecidas no dia a dia.

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