Risada tem hora

Elvira era uma moça recatada e tímida. Mesmo assim tinha um namorado atrás do outro e ninguém conseguia entender porque seus namoros não davam certo. Era bonita, inteligente e, vencida sua timidez, um papo muito agradável.

Antonio, que era ainda mais tímido, sempre amara Elvira à distância. Se amargurava a cada namorado novo que ela arranjava. Regozijava-se cada vez que sabia de mais uma separação.

Um dia bebeu um pouco demais e, sem perceber, declarou-se a Elvira que o acolheu. Ele comemorou com um misto de alegria e temor, afinal, não sabia porque os namoros de Elvira não funcionavam e morria de medo de ser apenas mais um na lista.

O namoro prosperou, ao contrário da expectativa geral. Eles davam-se bem, tinham gostos similares e eram bastante tolerantes com os defeitos do outro.

Até que Antonio abusou de novo do gin e, num arroubo de coragem, convidou Elvira para ir a um motel. Ela hesitou um pouco, mas Antonio insistiu e ela aceitou.

Foi lá que Antonio descobriu o tão bem guardado segredo de Elvira. Quando estavam no auge do auge, a mulher rompeu num ataque de risos como ele nunca tinha visto antes.

Ele parou imediatamente, ofendidíssimo. Disse que não era nenhum atleta sexual mas que também não chegava a ponto de ser uma comédia.

Elvira desdobrou-se em desculpas e explicações. Falou que não tinha como controlar aquela situação. Que sua risada era a constatação de Antonio fora bem sucedido.

E era verdade.

Antonio era tão apaixonado por ela que, aos poucos, foi se acostumando. As primeiras vezes foram difíceis. Depois correram sem problemas.

Até o ponto em que Antonio ansiava pela gargalhada esdrúxula de Elvira. Sim, esdrúxula porque era diferente de qualquer outro tipo de risada que ela desse em outras situações.

Enfim, depois de algum tempo, eles se casaram. Durante a lua de mel se divertiam com a cara dos demais hóspedes do hotel que os olhavam como se fossem bichos estranhos.

Também se acostumaram com os vizinhos de apartamento. Nem o comentário do vizinho de baixo que, um dia no elevador, disse que a sua mulher era muito alegre, tirou Antonio do sério.

Até o dia em que Antonio ouviu a risada de Elvira enquanto o elevador subia. Desceu no seu andar e ficou parado na porta. Estarrecido. Nunca a ouvira rir daquele jeito.

Pensou em entrar e pegá-la no flagra. Desistiu. Afinal de contas, o que é que ele faria diante de tal cena ? Virou as costas e foi embora. Nunca mais voltou.

Mandou apenas um telegrama onde dizia: "Não achei graça nenhuma".

Comentários

Anônimo disse…
Eu estou rindo do seu texto...hahahaha!

Beijos de terça
Eu estou rindo do seu texto...hahahaha!

Beijos de terça

Vilma
Agora estou rindo de mim...kkkk
Ana disse…
Ai, que triste....
Unknown disse…
Puxa...ele deveria ter entrado. E se ela tivesse descoberto que a vida tem outras coisas legais para rir demasiadamente.

Foi triste.....
O Tempo Passa disse…
Concordo com a Ana. Ele devia ter entrado. Pode ser que ela apenas estivesse experimentando um "brinquedinho" inofensivo...

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Mais ditados impopulares