Envelhecendo com classe



Sempre que viajo para fora do Brasil vou atrás de discos de músicos locais. Foi assim que descobri Los prisioneiros no Chile, Lask na Alemanha e Lavay Smith em New Orleans.

Em 1987 fui para a Argentina e voltei com dois LP´s de um cara que começava a fazer sucesso por lá. Um se chamava Giros e o outro Corazón Clandestino. O sujeito era um pouco mais novo que eu, alguém da minha geração.

Tentei acompanhá-lo por um tempo mas, já nessa época, nossas lojas de discos ignoravam solenemente a América Latina e foi só quando os Paralamas do Sucesso começaram a fazer um intercâmbio com os nosso amigos del Sur que os seus trabalhos começaram a chegar por aqui, assim como os de Charly Garcia, bem mais velho que ele.

Ele tem uma coleção de sucessos que vão do rock explícito a baladas românticas. Era fã de uma Gibson Les Paul e tinha uma aparência que lembrava uma mistura de rockeiro com jogador de futebol argentino da década de 70.

Eu fui envelhecendo. Ele também. Suas músicas não deixaram de ser alegres e agitadas, mas começaram a ganhar um componente que não tinham, maturidade.

Maturidade nas melodias, nas letras, nos arranjos e nos temas. No seu penúltimo disco "El mundo cabe en una cancion" isso é evidente. Ele não fala mais como membro da juventude transviada, mas como um homem caseiro e como pai.

Outro dia descobri que seu último disco tinha saído no Brasil. É de um show que fez em Madri no ano passado. Comprei.

O disco não traz músicas inéditas, mas é como se fossem. A abordagem dos seus grandes sucessos é tão diferente das gravações originais (talvez com exceção de Un vestido y una flor) que parece outro músico.

Da primeira à última música ele se debruça sobre o que parece ser um Steinway com uma delicadeza incomum para quem já tinha cantado La naturaleza Sangre. É acompanhados por violoncello, por trompete , claro, por excelente guitarras acústicas.

Além disso, não se envergonha de trazer convidados que tem vozes muito melhores que a dele. Gente do quilate de Joaquin Sabina, Pablo Milanes e Gala Evora.

No sé si es Baires o Madrid é o novo disco de Fito Paez. Compre o disco, o DVD, faça download para o seu iPod, ouça no You Tube. Vale qualquer coisa, mas não perca o passeio pela roda mágica.

Ah...a aparência dele também mudou. Agora já tem cara de ser um senhor.

E eu só trocaria "11 y 6" por "13 y 5", mas cada um gosta mais de alguns números que outros.

Comentários

Anônimo disse…
Seu gosto para música é no mínimo diferente.Ando procurando músicas novas e às vezes nem sei por onde começar.Deve ser a idade rs.A canção é linda e de muito bom gosto.

Beijos de quinta

Vilma
O Tempo Passa disse…
Com classe, sem dúvida! Espero que eu também tenha um "poquito" de classe ao envelhecer...
Tua lembrança me fez lembrar-me de Silvio Rodriguez, outro autor daqueles tempos...
Juliana disse…
Amor que mata não morre nunca, que coisa mais linda.
Anônimo disse…
Linda música! lembrou-me Neruda...
...Talvez não ser é ser sem que tu sejas...estou também ficando velhinha.
beijos
clau disse…
Pois é...
Para algumas pessoas emvelhecer faz um bem danado e em todos os sentidos!
Mas o fato é que, infelizmente, tem um monte delas em que isto nao resolve nada e ao contrario, sò piora as coisas...rss
Menos mal nao ser este um destes casos...!

Bjs!
Paulo de Tarso disse…
Fábio, "Un vestido y una flor" é um dos grandes exemplos (outro seria "Caça da raposa, de Bosco/Blac) de músicas que, depois de uma grande gravação de outrem, o autor não deveria jamais cantá-la, para não apequenar-se. Depois de ouvir "A Caça" cantada por Elis e "Un vestido", por Caetano, é constrangedor desconfiar que Bosco e Fito não entenderam a marcação e a densidade de suas próprias músicas.
Principalmente com músicas tão grandes!!
Quem compõe tão bem deveria entregar a outros mais talentosos a tarefa de cantá-las.
Empero... Fito e João são maravilhosos e até mesmo cantam muito bem a maioria de suas próprias músicas.

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