Por uma cozinha romântica
Nas casas dos descendentes de portugueses e italianos é o local onde se reúne a família para conversar e tomar decisões (portanto o local mais importante da casa). Como sou descendente tanto de uns quanto de outros (além de outras misturas como francês, índio e sabe-se lá mais o que), sempre prezei muito esse espaço.
Além desses motivos hereditários, eu também gosto de cozinhar (modéstia às favas, até que bem). Enfrentar pia, fogão e outros equipamentos sempre me é fonte de prazer e a cozinha um espaço muito romântico - eu acredito que cozinhar sempre foi um ato e demonstração de amor - não existe nada mais sem graça do que cozinhar só para você mesmo (tudo bem, se você for um ególatra faz sentido).
Mas nada disso quer dizer muito. As cozinhas nunca foram exatamente as queridinhas da literatura, nem da cinematografia. Apesar de alguns poucos filmes onde o fogão era importante (Chocolate, Festa de Babette), os pratos eram as estrelas e não a cozinha em si. Ninguém nunca escreveu a ode à cozinha, nem um pífio soneto de pé quebrado. De novo, a culinária tem até poemas, mas não o espaço onde a praticamos.
Além disso, ela é considerada um espaço frio. Sempre em cores claras, branca muitas vezes. Chão de piso frio, sujeito a ataques de todos os tipos de molhos, óleos, café, só para mencionar os mais comuns. Só esquenta quando o forno está ligado, mas não deixa de ter a contraposição da geladeira e do freezer. Chega a ser impensável aquecê-la com um carpete (e depois quem é que vai limpar ?)
Fico pensando, se é um espaço da prática amorosa da culinária, porque nunca é retratada em outras possíveis cenas de amor ? Por que nunca é objeto de metáforas ? Já li sobre os quartos interiores, sobre as salas interiores, sobre as bibliotecas (quem tem biblioteca ?) interiores. Mas ninguém fala da cozinha interior que tem dentro de si mesmo.
Que fique registrado aqui o meu manifesto a favor da cozinha, minha expectativa que seus usuários possam usufruí-las com outros tipos de frituras e de refogados. Que os poetas possam exaltar suas propriedades sensuais. Que a música cante seus encantos. Que a arte, em geral, mostre mais azulejos, cerâmicas e pias de granito.
Que a paixão não seja colocada num tupperware no freezer. E que o fogão do amor nunca se apague.
Além desses motivos hereditários, eu também gosto de cozinhar (modéstia às favas, até que bem). Enfrentar pia, fogão e outros equipamentos sempre me é fonte de prazer e a cozinha um espaço muito romântico - eu acredito que cozinhar sempre foi um ato e demonstração de amor - não existe nada mais sem graça do que cozinhar só para você mesmo (tudo bem, se você for um ególatra faz sentido).
Mas nada disso quer dizer muito. As cozinhas nunca foram exatamente as queridinhas da literatura, nem da cinematografia. Apesar de alguns poucos filmes onde o fogão era importante (Chocolate, Festa de Babette), os pratos eram as estrelas e não a cozinha em si. Ninguém nunca escreveu a ode à cozinha, nem um pífio soneto de pé quebrado. De novo, a culinária tem até poemas, mas não o espaço onde a praticamos.
Além disso, ela é considerada um espaço frio. Sempre em cores claras, branca muitas vezes. Chão de piso frio, sujeito a ataques de todos os tipos de molhos, óleos, café, só para mencionar os mais comuns. Só esquenta quando o forno está ligado, mas não deixa de ter a contraposição da geladeira e do freezer. Chega a ser impensável aquecê-la com um carpete (e depois quem é que vai limpar ?)
Fico pensando, se é um espaço da prática amorosa da culinária, porque nunca é retratada em outras possíveis cenas de amor ? Por que nunca é objeto de metáforas ? Já li sobre os quartos interiores, sobre as salas interiores, sobre as bibliotecas (quem tem biblioteca ?) interiores. Mas ninguém fala da cozinha interior que tem dentro de si mesmo.
Que fique registrado aqui o meu manifesto a favor da cozinha, minha expectativa que seus usuários possam usufruí-las com outros tipos de frituras e de refogados. Que os poetas possam exaltar suas propriedades sensuais. Que a música cante seus encantos. Que a arte, em geral, mostre mais azulejos, cerâmicas e pias de granito.
Que a paixão não seja colocada num tupperware no freezer. E que o fogão do amor nunca se apague.
Comentários
Os cheiros, sabores, experimentos, são embriagantes e, também, sedutores.
É uma arte! E porque o cenário não poderia ser a própria cozinha, né?
“De perto ninguém é normal” e isso me consola...
Bijo, rindo, mas pensando em possibilidades.
malmal
Mas quem já experimentou quitutes preparadas pelo Fábio quer mais - mesmo que isso demore para voltar a contecer ... he he he.
Creio que a cozinha - como outras atividades com pitadas de arte, amor, e dedicação revelam bem o caráter da pessoa e o significado que elas dão à vida. Se non é vero é beno trovatto.
Curioso como a foto de cozinha q vc colocou é exatamente a minha cozinha ideal - com pizo de tabuleiro e cheia de utensílios pendurados (trauma de infância, para a minha mãe, qualquer enfeite na cozinha é anti-higiênico).
Anônimo Corradi Astolfi