Conticulóides a óleo

Azul ultramar

Durante anos trabalharam na mesma empresa quase sem se notar. Até que André teve de ir ao oftalmologista e descobriu ter um astigmatismo violento. No dia que começou a usar óculos, os olhos de Vera pareceram brilhar como nunca. Se apaixonou na hora e nunca mais tirou os óculos.

Verde Hooker

Jordão nunca se conformara com o fato de ter deixado Anita se casar com outro homem, mesmo sabendo que fora culpado do encontro dos dois. Desde então caminhava todos os dias pela rua onde moravam, na esperança de vê-la, sem saber que a entrada da garagem era pelos fundos do prédio.

Branco de titânio.

Karina era obrigada a ouvir todos os dias a patroa reclamando que a geladeira nunca estava limpa. Ela alegava que a próximidade ao fogão deixava a geladeira sempre engordurada, mas a patroa não aceitava a desculpa. Chamaram um técnico de manutenção para resolver o problema. O cara não apareceu o que obrigou Karina a pedir demissão.

Gris de Payne

Todos os dias Januário passava na cafeteria depois do trabalho. Pedia um café puro e curto que tomava, sem açúcar, de um gole só. Durante anos. Até que um dia pediu um café extra-forte duplo, o dono da cafeteria estranhou e ficou de olho nele. Januário bebeu com calma e vagar, cheio de suspiros, pensando: o que é que uma paixão não faz?

Vermelho da China

Raquel era muito tímida. Corava praticamente em qualquer situação mas, especialmente, quando alguém lhe elogiava. Foi parar no hospital, com uma crise de hiperemia no dia que Gilberto a pediu em casamento.

Amarelo limão

Mário nunca perdia a oportunidade de fazer alguma piada. Muitas vezes chegava a ser inconveniente, a ponto de Sílvia ameaçar abandoná-lo se ele não parasse com aquele hábito que ela definia como ridículo. Ele sofreu muito mas se comportou. Até o dia que um cachorro arrancou um pedaço da saia de Sílvia no meio da rua. Perdeu a amante, mas nunca mais deixou de contar a cena a todos que encontrava.

Laranja de cádmio

Débora era fascinada por roupas coloridas, mas nunca gostou das cores cítricas que, segundo ela, lhe caíam mal. Para mal dos seus pecados, se enamorou de um holandês, fanático por futebol, que a obrigava a usar o uniforme de sua seleção todas as vezes que tinha jogo. Um dia, como se fosse sem querer, derrubou cândida no tanque e disse para o namorado que, apesar do acidente, continuaria a usar a mesma camiseta que fora a primeira que ele lhe dera.

Azul da Prússia

Naquela noite o mar estava agitado, ventava forte e as ondas batiam contra os rochedos, iluminadas pela lua cheia. Mesmo assim, Noêmia passeava pela praia, só pelo prazer dos pés descalços na areia. De longe, Carlos admirava a cena e perguntava de onde surgira aquela sereia na sua vida. Ela só respondeu que sereias não existem e o beijou longamente.

Comentários

Anônimo disse…
As cores da vida sempre são apaixonantes.
clau disse…
Dificil dizer de qual cor eu que gostei mais...
Mas creio, tenha sido a da hiperemia, hihihi.
Bjs!
Bel disse…
Eu até gosto dos contículos, mas desta vez vc me lembrou o ex-marido, que pintava a óleo, e esses nomes das cores não me trouxeram boas lembranças. Ficou tudo PRETO. Humpf.
Fábio Adiron disse…
Ju : as cores da vida sempre são lindas.

Clau: faz sentido para quem tem uma formação médica

Bel: Sorry...nem podia imaginar, mas quase não se usa preto em pintura a óleo
Rejane Martins disse…
Roxo insano

Fábio escrevia com destreza, malícia e paixão. Seu texto era delicioso. Escrevia todo o dia. O deleite de Jane era total. Aguardava o aviso de um novo post em meio aos inúmeros recados, e-mails e rotina de trabalho. Um dia não veio aviso. Jane não sorriu. Suspirava triste á espera das novidades do amigo. Não sabia que Fábio tinha sido captado como spam e ficou na saudade.
Arimar disse…
Fábio.
Olha, o caso do "Laranja de cádmio"
é verdadeiro. Certa vez me ensinaram a por cândida na roupa colorida, torcer bem e por no varal para secar. Sei que é uma técnica, mas esqueci o nome.
Não é qua a tal blusinha ficou bonitinha?
Bom domingo.
Beijos.

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