Paixão autrófica

Jean sempre percebeu que Valéria lhe fazia bem. E não era apenas uma questão de retórica ou de pieguismo romântico, a namorada fazia com que ele se sentisse fisicamente melhor quando estava perto dela.

Valéria ficava sem jeito quando ele dizia isso, especialmente na frente dos amigos que sempre davam sorrisos irônicos ou faziam piadas maliciosas. Ela morria de vergonha.

A sensação de paz e de bem estar de Jean era tão marcante que, mesmo contrariando a namorada, ele nunca deixou de tocar no assunto.

Chegou mesmo a perguntar para o seu médico se existia algum caso similar relatado nas pesquisas científicas.

O médico riu e disse que o mal era da idade e para tal menino não existia nenhuma explicação em toda medicina.

Jean não desistiu de tentar descobrir qual era o segredo de Valéria, por mais absurdo que todos os achassem.

Um dia estava vendo um documentário na televisão quando, de um salto, bradou: "Eureka, eureka, eu achei..." Saiu em desabalada corrida em direção à casa de Valéria.

Começou a explicar para ela o que era fotossíntese, a forma como as plantas transformavam gás carbônico em oxigênio e luz em energia.

Era isso, Valéria era uma mulher fotossintetizadora. Ela transformava todas as ansiedades e preocupações de Jean em momentos de alegria e de paz. Fazia com que seu cansaço virasse animação.

Era o ser que enchia suas veias de oxigênio puro.

Valéria suspirou fundo. Só mesmo o amor para chegar a tal explicação, pensou. E que amor.

E nunca mais se envergonhou da paixão de Jean.

Comentários

Esqueceu de dizer que o coração quase salta pela boca... ah eu sei o que é isso...Lindo texto

Beijos de quarta
Raquel disse…
Eu quero uma paixão verde,pra acabar com a minha falta de ar...e logo.
clau disse…
Fabio, a sua estoria capta a essencia da coisa...
Pq sao raras as pessoas que doam energia positiva, assim como nos fazem as plantas.
Pq a grande parte delas se comporta como se fosse um buraco negro, ou um vampiro, como queira. Hihihi.
Bjs!

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