Na transversal
Seria um abuso da minha parte alegar que o poeta John Donne era um sujeito sem imaginação. muito pelo contrário, sua obra é notável por seu estilo sensual e realista, incluindo-se sonetos, poesia amorosa, poemas religiosos, traduções do latim, epigramas, elegias, canções, sátiras e sermões.
Comparado a seus contemporâneos ele só pode ser considerado inferior ao bardo de Stratford.
Porém, e em tudo há sempre um porém, tenho de admitir que o nosso amigo sofresse de uma certa falta de conhecimento a respeito da geometria, especialmente quando se referia à mulher amada.
Numa das suas mais conhecidas elegias (a de número XX) ele pede licença para uma exploração anatômica dizendo:
Licence my roving hands, and let them go
Before, behind, between, above, below.
Os irmãos Campos, conhecidos tradutores de poesia, assim trairam o texto de Donne
Deixe que minha mão errante
Adentre atrás, na frente,
Em cima, em baixo, entre.
E aí eu me pergunto, porque o João se limitou apenas a essas direções ?
Por que deixou de lado a exploração ortogonal, uma vez que num hiperplano de tantas dimensões como o corpo humano existem tantas projeções e intersecções dignas de maior análise e exploração?
Também deixou de pensar nas grandes e pequenas diagonais da topografia feminina. Certamente um desperdício amoroso e sinestésico.
O mais grave, no entanto, me parece ter sido a sua omissão em relação às tranversais da amada. Se as usasse poderia percorrer vários patamares, planos, níveis, traços e devires de uma só vez.
São as transversais que permitem o deslizamento em vários esquemas e modelos, uns sobre os outros, ou seja, a consecução suprema de todas as possibilidades sensuais.
E ainda tem gente que acha que a poesia é mais romântica que a matemática.
Comentários
Boa semana ai para vcs!
Bjs!