Síndrome de pódio
Em 1972, quando Emerson Fittipaldi ganhou o seu primeiro campeonato mundial de Fórmula 1, as corridas ainda não eram televisionadas ao vivo, o que não impedia alguns jornais televisivos de mostrar a tradicional festa do pódio. Desde então, os brasileiros se acostumaram a ver seus corredores ganhando corridas e, talvez por isso mesmo, tenham adquirido com o passar dos anos a “síndrome de pódio”, ou seja, aquele péssimo hábito de fazer voar as rolhas de champagne espalhando o líquido sobre tudo que há em volta, o que, além de ser bastante brega, é um desperdício brutal desses grandes vinhos.
Vinhos? O champagne nada mais é do que um vinho espumante. Mas também não é um espumante qualquer. Diz a lenda que um certo frade beneditino que se chamava Dom Perignon esqueceu algumas garrafas de vinho branco em sua adega e, por uma conjugação de condições propícias, um belo dia elas começaram a espocar, atirando longe as suas rolhas. Ao verificar o que acontecera, o frade teria exclamado: “Estou bebendo estrelas!”. O vinho tinha sofrido uma segunda fermentação dentro da própria garrafa, fazendo o teor de gás carbônico aumentar sensivelmente – estava inventado o champagne.
O método de produção que foi desenvolvido a partir disso pode parecer simples, mas está longe de sê-lo. Depois de produzido o vinho através dos métodos tradicionais de prensagem (no caso do champagne, são três etapas) é feito o assemblage, utilizando-se três tipos diferentes de uvas: pinot noir, pinot meunier e chardonnay. A partir daí é que se inicia o processo de gaseificação. O vinho é colocado em garrafas muito grossas (capazes de resistir a pressões de até seis atmosferas), recebe uma mistura de açúcar com fermentos que induzem à segunda fermentação e permanecem de cinco a seis semanas gaseificando. Depois disso, passam por um processo de decantação dos restos de leveduras – as garrafas são colocadas de cabeça para baixo e, quando todos os resíduos sólidos se acumularam no gargalo, a garrafa é colocada numa solução a 20 graus negativos, congelada, e os resíduos são extraídos. Está pronto.
Esse é o método “champenoise”, também chamado de método tradicional.Se você pretende tomar um champagne ou qualquer outro espumante nas festas de final de ano ou naquela jantar romântico com a desejada namorada, uma recomendação importante: não saia por aí estourando garrafas – tira muito do gás e, portanto, da qualidade do espumante. Não chacoalhe a garrafa, depois de tirar a armação de metal da rolha segure-a firmemente (se possível com um guardanapo de pano) e desatarraxe aos poucos. Se você pretende saborear a bebida, espere que ela soe no máximo como um “póp” bem suave, e nunca uma explosão barulhenta. Ou seja, ao melhor estilo de T.S. Eliot : "not with a bang, but a whimper".
Por outro lado, se a sua intenção é fazer uma grande bagunça com o espumante, eu recomendo uma garrafa de qualquer sidra vagabunda. Vai explodir e pelo menos você não desperdiçou muito dinheiro – a menos, é claro, que você seja um campeão mundial de fórmula 1.
Comentários
Nunca estourei um champagne, e depois dessa, acho que não o farei mais, sob pena de curtir um imenso sentimento de esperdício!!!
Bjo!
ah! não se desespere, prometo comprar algo de qualidade, claro que a preço justo.
bijim
Obrigada pelas dicas que definitamente serão usadas este fim de ano.
Bjks...