Receitas de verão
Se você é um enólogo sofisticado ou faz parte da legião dos puristas de plantão, por favor, clique no "voltar" do seu navegador e leia outro artigo. A menos que você esteja querendo se escandalizar, o assunto deste texto são os refrescos de vinho. Dois clássicos de origens diferentes, mas com alguma coisa em comum: a sangria e o clericot.
A sangria vem da Espanha, de raízes humildes e populares, provavelmente da região da Andaluzia, onde se tornou comum e daí partiu para o mundo. Como tantas outras misturas e receitas clássicas, cada barman ou restaurante tem a sua receita "original", mas que basicamente se resume a vinho tinto, frutas picadas, açúcar e gelo. Por outro lado, é um dos refrescos de vinho que permite a cada pessoa criar um no seu próprio estilo, com as frutas que preferir ou estiverem mais à mão.
O ideal é prepará-la e bebê-la ouvindo Albeniz ou De Falla, com vinhos tintos encorpados de boa estirpe. O vinho precisa ser encorpado para resistir à mistura. Nunca use vinhos leves demais, nem vinhos de má qualidade, achando que já que vai ser misturado tanto faz - lembre-se, você vai bebê-la e a qualidade do vinho pode impactar diretamente no seu fígado. Em alguns lugares, se faz a sangria com vinho branco, em outros eventualmente usam-se espumantes, mas as melhores receitas são aquelas que usam riojas legítimos. Como esses nem sempre estão disponíveis, procure um malbec ou um tannat de boa qualidade.
Muitas frutas podem ser usadas. As mais tradicionais são laranja, pêssego , melão e morangos. Não comprometem a receita as cerejas e outras frutas temperadas. Evite frutas tropicais, como abacaxi e manga, e também as uvas de mesa, que não vão combinar com as uvas viníferas. Açúcar a gosto, mas sem exageros - é melhor ser austero do que generoso. Deixe passar a noite na geladeira e, na hora de servir, coloque a jarra em um recipiente cheio de cubos de gelo.
Como é um refresco de grande efeito visual, escolha bem a jarra na qual vai ser servida, transparente ou colorida. Ponha uma mesa na varanda (não tem uma ? pode ser no quintal...) e sirva com frutas frescas.
Já o clericot não é um refresco qualquer de vinho e frutas que se combinam para beber nas festinhas de novos ricos. É um costume rural inglês de grande tradição, ao contrário da festiva sangria. Quando for prepará-lo, saiba o que está fazendo. Quando for servi-lo, faça-o com dignidade.
Seu verdadeiro nome é "claret cup" e, segundo George Watt, foi inventada por funcionários ingleses do Raj (administração colonial inglesa na Índia) na região de Punjab, que sofriam com o calor, as moscas e o tédio. No Punjab, a estação quente começa em 15 de março, às 4 horas da tarde, e só acaba com a chegada das fortes chuvas de monções em meados de junho. Durante esses três meses, em que tem-se a impressão de que o tempo não anda e que o sol vai derreter até a alma, os ingleses se entregavam ao bridge, aos romances de verão e ao "claret cup".
O Clericot pode ser feito com vinho branco seco (riesling ), rosé ou, para manter a tradição, com um tinto clarete. Para cada garrafa de vinho, se adicionam 12 cubos de gelo, rodelas de laranja, uma pêra picada, oito morangos, uma dose de Maraschino, outra de Grand Marnier e um pouco de água mineral com gás. Está pronto. O primeiro brinde sempre deve ser à Rainha da Inglaterra, os demais ao que der na telha.
Bom verão !
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