A passageira ao lado
Era só mais uma viagem de ônibus, como fazia todos os dias. Ele já estava começando a considerar seriamente a hipótese de mudar de cidade. Essa vida de viajar todos os dias para trabalhar a mais de 100 km de distância já estava cansando. No começo hesitara, não sabia se o emprego seria estável. Depois de dois anos já se sentia seguro. Ainda se sentia preso à casa dos pais. A mãe sempre adoentada era uma preocupação permanente. Qual seria sua reação se ele, filho único, fosse morar em outro lugar ?
Entrou. Sentou no fundo, como era habitual. Abriu o jornal, repleto de notícias velhas que ele não lera pela manhã. Na ida sempre estava dormindo, tentanto completar as horas de sono que lhe faltavam. Quase todos os demais passageiros, que não eram muitos, eram conhecidos de rota, já se cumprimentavam só com um aceno de cabeça. Mal reparou quando ela entrou e sentou na outra janela da mesma fila. Com a cabeça enfurnada na seção de esportes, só percebeu um vulto passando ao lado.
Não havia ninguém sentado ao seu lado. Nem ao lado dela. Mesmo assim demorou para reparar. Estava procurando outro caderno do jornal quando a viu. Ela dormia com o rosto virado na sua direção. Linda, leve e suave. Parecia uma pintura. Cabelos claros, traços finos, lábios rosados. Travou de êxtase. De onde surgira aquela Vênus ? De repente se tocou que ela poderia acordar a qualquer momento e poderia surpreendê-lo. Começou a olhar com o canto de olho. De vez em quando se virava para admirá-la.
Quando entraram na cidade, cheia de buracos no asfalto, ela acordou no primeiro solavanco. Esbugalhou os olhos, se virou para a janela para ver onde estavam. Nem olhou para o lado dele. Ele arriscou mais uma espiada. Que decepção. Onde estava aquela mulher linda que estava dormindo até há pouco ? Acordada não parecia a mesma pessoa. Será que os músculos da face tinham se rearranjado depois do relaxamento do sono ? Não que fosse feia. Mas era uma pessoa comum, nem bonita, nem feia. Comparada à visão anterior, era um desastre.
O pior, no entanto, ainda estava por acontecer. Ela se virou para ele e perguntou se era fácil pegar um táxi na rodoviária. Tinha a voz de uma araponga. Ardida, estridente, como um martelo batendo numa bigorna. Ele demorou alguns segundos para responder, tamanho foi o choque. Foi curto e grosso para não prolongar o papo e ser obrigado a ouví-la novamente. Tentava entender a metamorfose.
Desembarcaram, ela na frente dele. Ele a seguiu de perto. Quando já estavam perto da catraca de saída ele não resistiu e falou : -"se você fizesse um juramento de nunca acordar, eu te pediria em casamento...". E desapareceu no meio da multidão.
Entrou. Sentou no fundo, como era habitual. Abriu o jornal, repleto de notícias velhas que ele não lera pela manhã. Na ida sempre estava dormindo, tentanto completar as horas de sono que lhe faltavam. Quase todos os demais passageiros, que não eram muitos, eram conhecidos de rota, já se cumprimentavam só com um aceno de cabeça. Mal reparou quando ela entrou e sentou na outra janela da mesma fila. Com a cabeça enfurnada na seção de esportes, só percebeu um vulto passando ao lado.
Não havia ninguém sentado ao seu lado. Nem ao lado dela. Mesmo assim demorou para reparar. Estava procurando outro caderno do jornal quando a viu. Ela dormia com o rosto virado na sua direção. Linda, leve e suave. Parecia uma pintura. Cabelos claros, traços finos, lábios rosados. Travou de êxtase. De onde surgira aquela Vênus ? De repente se tocou que ela poderia acordar a qualquer momento e poderia surpreendê-lo. Começou a olhar com o canto de olho. De vez em quando se virava para admirá-la.
Quando entraram na cidade, cheia de buracos no asfalto, ela acordou no primeiro solavanco. Esbugalhou os olhos, se virou para a janela para ver onde estavam. Nem olhou para o lado dele. Ele arriscou mais uma espiada. Que decepção. Onde estava aquela mulher linda que estava dormindo até há pouco ? Acordada não parecia a mesma pessoa. Será que os músculos da face tinham se rearranjado depois do relaxamento do sono ? Não que fosse feia. Mas era uma pessoa comum, nem bonita, nem feia. Comparada à visão anterior, era um desastre.
O pior, no entanto, ainda estava por acontecer. Ela se virou para ele e perguntou se era fácil pegar um táxi na rodoviária. Tinha a voz de uma araponga. Ardida, estridente, como um martelo batendo numa bigorna. Ele demorou alguns segundos para responder, tamanho foi o choque. Foi curto e grosso para não prolongar o papo e ser obrigado a ouví-la novamente. Tentava entender a metamorfose.
Desembarcaram, ela na frente dele. Ele a seguiu de perto. Quando já estavam perto da catraca de saída ele não resistiu e falou : -"se você fizesse um juramento de nunca acordar, eu te pediria em casamento...". E desapareceu no meio da multidão.
Comentários
bijim
"Não acordar" seria uma boa sugestão pra meio mundo!!!
Mas hoje estou tão cansada, que vou apagar agorinha mesmo. Nem tem post!!! (Boa noite!)
A bela adormecida.
Amei!
:))