A volta de Humhummer

A notícia se alastrou rapidamente no vilarejo. Humhummer estava de volta à região.

As mães saíram pelas ruas em busca dos filhos e, com eles, se trancavam nas casas. Os homens voltaram do campo e se reuniram na casa do burgomestre.

Na sua última passagem pela vila, o terrível ogro tinha provocado grandes estragos. Atacava as pessoas, os rebanhos, aterrorizava a todos. Poucos tentaram enfrentá-lo. Os que voltaram tinham feridas na jugular. Sobreviveram, mas nunca perderam as cicatrizes.

Dessa vez não havia mais nenhum valente disposto a confrontar o monstro. Pensaram em já separar parte do rebanho e deixar no caminho, de forma que ele se afastasse saciado. O problema é que nenhum criador estava disposto a ceder parte dos seus animais. Cada um só pensava no seu próprio umbigo.

O debate na casa do burgomestre só silenciava cada vez que o urro de Humhummer ecoava na floresta perto da vila.

Já passava da meia noite e os urros pareciam cada vez mais próximos quando alguém bateu na porta. A mulher do burgomestre, receosa, abriu a porta. Para surpresa de todos quem surgiu atrás da porta foi Juliana, a bailarina cigana do circo, conhecida como a "mulher que flutuava".

Ela entrou dizendo que ia encontrar o monstro. O burgomestre tentou impedí-la, mas os demais homens, plenos de covardia, a incentivaram a ir logo, mesmo sabendo que poderiam perder a mais bela jugular que já tinham conhecido.

Ela perguntou à mulher do burgomestre se tinha um pedaço de carne em casa. A mulher disse que só o bife ancho do marido que ainda estava no forno e que ele ainda não tinha tido tempo de comer. Contrariado, o chefe da vila abriu mão do seu jantar e entregou a carne perfumada de tomilho para a bailarina.

Quando a porta a porta se fechou atrás dela, todos respiraram aliviados, torcendo para que o ogro se satisfizesse com a jugular de Juliana e com o bife do burgomestre. Ninguém demonstrou nenhuma preocupação com a moça.

Não demorou muito para que os urros aumentassem de frequência e de intensidade. Em silêncio todos esperavam ouvir os gritos de Juliana. Já perto do amanhecer, quando Humhummer parou de gritar é que, ao longe, se ouviu um som que misturava gemidos e ais. Imaginaram Juliana despedaçada pelo monstro.

O sol começou a iluminar o dia e todos foram para fora. Nenhum sinal do ogro, nem de Juliana. Alguns homens resolveram ir até a floresta para recuperar os restos mortais daquela que tinha se sacrificado pela vila.

Qual não foi a surpresa deles, ao chegarem perto do grande carvalho, ao ver Juliana dormindo apoiada só pelos pés em um dos grandes troncos. Além de não acreditarem que ela estivesse viva, ainda descobriram que sua flutuação não era um truque de circo.

Ao ouvir a aproximação dos homens, ela abriu o olho, deu um sorriso maroto, e falou alto: "- Humhummer, pode vir que o café da manhã chegou".

Comentários

Bel disse…
Não subestime uma mulher desconsiderada.
;)
clau disse…
Nossa Fabio!
Adoro estes contos com seus ogros, gnomos, fadas e ninfas, todos!
E até comprei, esta semana mm, em um sebo, uns livros dos Grimm e tb de Andersen.
Mas esta doninha flutuante bate qq Quimerazinha ou Cuca da vida!! rss
Bjs!
Unknown disse…
Excelente!!!! Amei!!!!
Beijos na jugular.
Bela maneira de começar o dia,

beijos no ogro

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