Receita luminar
Desafiado que fui a criar uma receita inusitada e sabedor das perorações culinárias dos meus leitores, resolvi fazer uma experiência incomum, seja na escolha dos ingredientes, seja na forma de cozimento.
Inspirado pelos contos de fadas infantis, pesquisei detalhadamente as fórmulas usadas pelas bruxas e fui em busca de uma coruja e de uma borboleta.
Uma vez secas, unte-as com um creme à base de leite e ervas de Provence e sirva com um espumante meio-seco.
A receita serve apenas uma pessoa.
Inspirado pelos contos de fadas infantis, pesquisei detalhadamente as fórmulas usadas pelas bruxas e fui em busca de uma coruja e de uma borboleta.
Admito que não foi fácil. A coruja precisava ser de grande porte e a borboleta leve e delicada, com o maior número de cores possível. Curiosamente fui encontrá-las onde menos esperava, no mercado marítimo da Ilha Negra.
Uma vez de posse das carnes, fui para a cozinha.
Procurei uma panela que fosse larga e funda. Enchi-a de água quente, mas não excessivamente para não queimar as asas da lepidóptera. Misturei à àgua essência de baunilha e de cacau e deixei que dissolvessem, antes de mergulhar as carnes previamente temperadas em flor de sal umedecida e amarradas uma à outra com um fio de seda.
A amarração é fundamental na execução da receita, uma vez que é necessário que, mais do que justapostas, as carnes devem manter uma relação de mútua dependência, como se uma fosse o recheio da outra.
Quando totalmente imersas, deve-se bater a água com uma batedeira de bolo portátil para que as essências fiquem quase efervescentes.
Depois disso deve-se mexer a mistura o tempo todo, alternando movimentos delicados com outros bem enérgicos. Quando qualquer uma das carnes ferver é necessário dar alguns minutos de repouso (sem desligar o fogo, é claro) e, em seguida, começar tudo de novo.
É importante notar que as carnes devem gerar calor de dentro para fora das mesmas, para que a cocção seja perfeita.
Não existe um regra pré-determinada, cada uma das carnes deve ferver algumas vezes antes de se desligar o fogo. Normalmente, depois de um tempo, as asas da borboleta começam a perder tonicidade e a coruja perde sua consistência al dente. Esse é o momento do fim do cozimento.
Retire as carnes da panela e, depois de escorrê-las, seque-as com um pano macio (se for felpudo melhor ainda, pois permite uma secagem mais rápida. O pano não pode soltar fios, senão arruina a receita).
Uma vez secas, unte-as com um creme à base de leite e ervas de Provence e sirva com um espumante meio-seco.
A receita serve apenas uma pessoa.
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