Inútil paisagem

Jorge passeava pelo shopping quando passou em frente a uma agência de viagens. Nem estava prestando muita atenção mas, subitamente, seus olhos foram atraídos por um dos quadros que estava na parede.

Qualquer outra pessoa que visse as fotos iria somente ver uma paisagem bonita. Ele nem viu as paisagens, apenas uma chamou sua atenção.

Jorge não sabia exatamente que lugar era aquele e, ao mesmo tempo sabia perfeitamente para o que estava olhando. Ficou extático, parado, olhando pela vitrine. Sonhando acordado.

Era o brilho dos cabelos dela que estava ali. As nuvens que o encobriam eram os reflexos que ela aplicava cuidadosamente em alguns fios.

Lá estava também a água dos seus olhos. A encosta dos seios. A planície do ventre. Até mesmo a vegetação da sua púbis estava lá.

Entrou na loja e perguntou quanto custava o quadro. A atendente lhe explicou que aquela era uma agência de viagens, que eles não vendiam os quadros, mas poderia lhe oferecer uma excursão para aquele destino.

Jorge não queria viajar e tentou subornar a balconista. Ofendida, ela pediu que ele fosse embora, senão ia tocar o alarme e chamar a segurança.

Ele saiu, mas continuou parado na frente da loja. Não demorou muito para que um dos guardas do shopping lhe pedisse que não ficasse ali.

Ele olhou para os lados, perguntou ao guarda se era com ele mesmo. Era. Foi em direção à saída.

Entrou de novo por outra porta e foi diretamente até o banheiro mais próximo. Certificou-se de que ninguém o vira entrar lá.

Na manhã seguinte, quando os primeiros funcionários do shopping entraram para trabalhar encontraram o vidro da agência despedaçado.

Em sua casa Jorge olhava para a foto. Se ela não pudesse ser sua, pelo menos teria essa eterna lembrança.

Comentários

Bela maneira de começar a terça

beijos
Bel disse…
Tenho certeza que a paisagem era de uma das praias de Ilhéus...
Juliana disse…
O crime compensa?
Raquel disse…
Pra que simplificar,se complicando dá o mesmo resultado...cara teimoso sô..

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