Esopiana - parte I

Estava linda Inês posta em sossego, na rede da casa de praia, colhendo coquinhos, quando avistou no muro de hera uma lagartixa caminhando em direção a uma barata.

Certa de presenciaria mais uma cena de documentário sobre a cadeia alimentar, ficou perplexa ao ouvir as duas conversando:

"- Bom dia comadre geconídia - saudou a inseta - como andam seus passeios noturnos pelos tetos e paredes?"

"- Bom dia neóptera colega. Os passeios andam cada vez mais longos e cansativos. Especialmente nessa nossa casa."

"- É verdade gélida amiga, a vida não anda fácil não. Eu que esperava mais sobras com a chegada dos veranistas, também ando me arrastando de fome".

"- Eles estão ficando cada vez piores. Antigamente se protegiam só nos ambientes internos, agora nem nosso quintal escapou."

"- Acho que o monstro barrigudo deve ter se convertido a uma nova seita zoroástrica. Todas as noites acende aquela espiral fumarenta aqui na varanda. Se aquilo ainda matasse algum bichinho eu poderia aproveitar os cadáveres, mas nada, só serve para atacar os meus pulmões..."

"- Exatamente... minha dieta de pernilongos foi muito prejudicada, ando com uma carência brutal de proteínas...daqui a pouco vou ter de comer baratas...

Ao ouvir isso, a artrópode levantou as antenas e, sem dizer mais nenhuma palavra, saiu voando e gritando :

"- Comadre, fique longe das baratas, elas são um veneno para o seu colesterol."

Moral : Um pedaço de pernilongo comido em paz é melhor do que uma barata com gordura trans.

Comentários

Maria disse…
Almocei no sítio da minha irmã no domingo e ela que do manequim 40 está no 36, discursou sobre a tal gordura trans. Agora até a pobre barata tem, onde vamos parar????
:)
Boa!
Anônimo disse…
Descobri o motivo pelo qual eu nunca gostei de baratas... :P
Anônimo disse…
Já ouvi dizer que existem lagartixas criando baratas na versão light.
Lou H. Mello disse…
Mesmo sendo meio trash, o fundo moral é ótimo, nos dois sentidos.

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