Banquete frugal

Muitas vezes passo a impressão, pelas receitas que publico aqui, que meu mundo gourmet se resume a pratos sofisticados e complexos. Não é verdade.

Se, de um lado, gosto dos temperos, ingredientes e combinações incomuns, de outro sou fã da boa e velha culinária do cotidiano.

Hoje, por exemplo, tive um banquete no meu almoço : língua e jiló. (se você torceu o nariz para um ou para outro, ou para ambos, não sabe o que está perdendo)

A língua do boi (podia ser vaca também, mas o açougue não fornece dados a respeito do gênero do bicho) é uma das partes mais saborosas do bovino. Usada na culinária de várias origens, especialmente na cozinha judaica, é muito rica em nutrientes.

Tem apenas o defeito de ser de digestão lenta, ou seja, não é um prato para comer antes de dormir. Nesse ponto que entra o jiló como acompanhamento

Muitos costumam dar a desculpa de que o nobre fruto (o jiló não é um legume) é amargo. Amargas também são as chiquérrimas endívias e o colorido radicchio, nem por isso são alvos de queixas dos paladares pedantes.

O jiló não chega a ser exatamente rico em nutrientes mas o é em ácidos que estimulam a produção do suco gástrico, ajudando a digestão (talvez por isso muito receitado em dietas).

Pode ser refogado com azeite, alho, sal e pimenta do reino, ou apenas frito no azeite. Um acepipe indispensável.

Luiz Gonzaga cantava que a saudade é amarga "que nem jiló", o que não deixa de ser uma verdade. O que não significa que, de tempos em tempos, a saudade possa fazer muito bem.



Comentários

Maria disse…
Língua de boi eu gostava, depois que comi num restaurante (não lembro onde) e o molho era grosso e sem sabor não tive mais vontade de provar. Na verdade já não gostava muito, mas como era feito por minha avó que entendia tudo de temperos, aquela carne estranha, meio tipo "esponja" ficava boa...
Agora ´jiló por acaso é aquele que tem uma gosma? Se for aquele eu adooooooro e não tem amargo nenhum (por isso não pode ser, então o que é aquilo meu pai do céu????), se não for nunca cheguei perto de um jiló. Vou aguardar a resposta se é ou não "com gosma", se não vou vou procurar no mercado e fazer, gostei daquele refogado descrito.
Até. Boa noite, Fabio.
Fábio Adiron disse…
Mariazinha : aquela da gosma (que a gente aqui chama de baba) é o quiabo. Que aliás fica perfeito com frango ensopado e polenta.
Anônimo disse…
Jiló, quiabo, língua. Daqui a pouco você vai dar uma receita de dobradinha com berinjela! Afff!
Maria disse…
isso mesmo, quiabo. frango ensopado com polenta lembrou meu pai (padrasto) Pedro, ele fazia a polenta e eu o frango. Isso quando eu tinha uns 12, 13 anos e ficava fantástico. não conhecia ainda o quiabo, hoje já não posso juntar os três e comer, polenta ficou na lembrança...
beijo com gostinho de saudade.
clau disse…
Gozado...eu como quase nada de carne, nunca fui fanatica, mas uma lingua bem limpa e bem feita, é um prato que nao tem igual!
E minha mae a faz com muita maestria!
E nao sabia tudo isto do jilo, nao, que sò me aventurei a comer feito batata chips e achei muito bom!
Refogado eu nao fui muito com a cara, mas terei que repensar depois das suas informaçoes...
Valeu!
Elis Zampieri disse…
Não como nada que saia da boca do animal, e antes que me sugira...também não como ovos. :-)

Beijos
Anônimo disse…
O jiló eu realmente passo, mas o quiabo (com ou sem frango, com ou sem baba), a língua, o fígado, a moela do frango e outras "cositas" eu gosto!! Mas eu deixo o jiló para o Guga, que gosta dele, de berinjela, de abobrinha, de mexilhões...
Beijos culinários
Rejane Martins disse…
Não, não sou pedante! Mas jiló? Eca!Língua é difícil encarar porque dificilmente se alcança o ponto ótimo da coisa... Saudade de minha avó e de meu pai que faziam línguas dos deuses! Não é uma saudade amarga e nem estou me sentindo um jiló como sugeriria Chico Buarque. Mas vou ficar com suas incursões gastronômicas menos radicais. Língua e jiló podem se equilibrar digestivamente. Que sejam felizes, mas eu tô fora! Hehehe! Beijo.

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Embriaga-te de Baudelaire