Le Beaujolais Nouveau est arrivé



Em uma de suas cartas à igreja de Corinto, o apóstolo Paulo escreve: "Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem desisti das coisas próprias de menino" (Carta de Paulo aos Coríntios capítulo 13, versículo 11). Todos os anos, quando é lançada mais uma safra do Beaujolais Nouveau, me vem à mente esse texto. Quando eu era menino, enologicamente falando, eu gostava de um vinho levíssimo, frutado, um pouco mais do que um suco de uva. Quando eu deixei de ser menino, ele passou a ser apenas um grande sucesso de marketing.

Todo mês de novembro é lançada a nova versão do Beaujolais Nouveau, um vinho que surgiu da ansiedade que os vinicultores da região do Beaujolais (extremo sul da Borgonha) tinham para experimentar os seus vinhos recém-colhidos e produzidos. Acabou se tornando um vinho cheio de regras para a sua produção: a única uva que pode ser utilizada é a gamay (gamay noir à jus blanc, uma variedade diferente da que conhecemos como gamay beaujolais) e precisa, obrigatoriamente, ser colhida à mão.

Além disso, têm de ser uvas exclusivamente das regiões controladas de Beaujolais e Beaujolais-Villages. O processo de vinificação, chamado de maceração carbônica, deixa a uva fermentando por pouco tempo para que o suco não receba a influência da casca da uva e tenha quase nenhum e, preferencialmente, nenhum tanino - para saber qual o teor de tanino de um vinho, basta passar a língua no céu da boca: quanto mais áspera for a sensação, maior a intensidade dos taninos.

A regra final é que o Beaujolais Nouveau - por lei - deve ser lançado exatamente na terceira quinta-feira de novembro - ou seja, hoje ! (nem antes, nem depois) de cada ano - o que significa, aproximadamente dois meses depois de colhido. Muitas vezes, os vinicultores se apressam exageradamente para tê-lo pronto nessa data e, já chegaram a ser acusados de chaptalizar o vinho (adicionar açúcar ao mosto para atingir mais rapidamente o teor alcóolico necessário).

O seu lançamento anual tornou-se o maior sucesso de marketing do mundo dos vinhos. É a maior fonte de renda da região e a que permite a entrada de dinheiro imediato no fluxo de caixa dos produtores. Os restaurantes do mundo inteiro colocam cartazes sobre a chegada do primeiro vinho da safra e, principalmente durante o auge da geração yuppie, era um diferencial de status quem já havia conseguido beber o primeiro gole do Nouveau.

Para quem já se acostumou a beber vinhos de verdade, o Beaujolais Nouveau pode ser divertido, mas não é um vinho sério. É um vinho para quem está recém entrando no universo dos vinhos tintos. É tão leve que chega a ser mais suave que alguns brancos secos, é muito frutado, quase uma sangria, e é um vinho para ser consumido rapidamente. A recomendação dos próprios produtores é que não se guarde o vinho além de maio do ano seguinte.

Se você é uma pessoa acostumada a beber vinhos tintos, nem passe perto de uma garrafa de nouveau. Se, ao contrário, você ainda é um "menino" nessa experiência, não deixe de prová-lo, daqui a alguns anos você vai se lembrar dele como se lembra hoje da sua primeira cartilha.

Comentários

Volney Faustini disse…
Hoje, pensando e bebendo como homem, deixo um brinde a você e a seus leitores.

E aproveito para deixar no ar:

Quando abriremos nossa próxima garrafa?

Prefiro os italianos, e às vezes o siciliano Corvo.
Anônimo disse…
Falando nisso, por motivo de força maior, passei várias vezes em frente à uma casa de vinhos, alí na Dr. Arnaldo, que você deve conhecer bem e tive grande dificuldade em não parar para ver o pessoal comprando vinhos bons. Nem que fosse para vê-los comprar um Beaujolais. A sugestão do Volney, embora em causa própria, não é desprezível. Corvo Duca di Salaparuta, uau! Voilá!
Anônimo disse…
Tô de vinho tinto suave em garrafões de 5 lts telados... tradição de gente pobre...

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