Diferenças
Mário e Elena se amavam como nunca nenhum dos dois amara antes. Como nenhum outro ser humano amara antes e, mesmo se existissem seres em outros cantos do universo, eles também não conseguiriam chegar perto do sentimento que os unia.
Não eram almas gêmeas, eram um só. Unidade que não vinha das milhares de características que tinham em comum, mas principalmente da união das suas diferenças. E não eram poucas as diferenças, nem se concentravam em coisas sem importância, algumas delas aconteciam em questões muito sérias.
Mário valorizava muito o impacto do que fazia em todo o seu entorno. Elena não. Para ela poucas pessoas importavam de verdade e só essas eram objeto do seu cuidado e da sua preocupação. Se outros se escandalizassem com o que ela fazia, ela não ligava. Mário sim.
Mário também era mais sensível aos problemas que enfrentava. Cada um, por menor que fosse, o incomodava sinceramente. Além do que, ele acreditava que não existiam questões que fossem insolúveis. Se, na forma, ele, às vezes, parecia ser pessimista, de fato, ele é que era o otimista do casal.
Elena enfrentava as situações problemáticas com um certo desdém. Já batera muito a cabeça na vida e se tornara uma pessoa cética. Se, de um lado ela era militante de grandes ideais utópicos, de outro achava que muitas coisas não mereciam o desgaste que provocavam.
Era difícil para Mário aceitar essa visão. Era tão ou mais difícil para Elena. Por isso mesmo, esse era o ponto onde, de tempos em tempos, os dois trocavam faíscas.
Como na noite anterior. Mário comentara sobre um aborrecimento que tivera numa conversa com um colega de trabalho. Elena, que já tinha restrições pessoais a respeito desse colega respondeu que isso não era nada mais que o comportamento habitual dele.
Foi o que bastou para a diferença voltar à tona, com direito a recordações de todas as situações similares anteriores. Elena tentava explicar seu raciocínio. Mário se exaltava ainda mais com as explicações dela. Até o momento em que Mário falou que era por isso que ele já não contava tudo para ela. Elena sentiu como se um punhal tivesse sido enterrado no seu peito. Como assim? Ele estava deixando de falar sobre os assuntos polêmicos?
Ela teve de lembrá-lo que ela era a pessoa que, no passado, escondia os seus sentimentos. Fora justamente ele que a ensinara que amor de verdade não omite nada, nem para poupar o outro. Ele a convencera que transparência era o fundamento de tudo que eles construiam.
Mário ficou sem saber bem o que responder. Seu coração sabia que não poderiam existir abismos ou cortinas, mas a sua cabeça ainda sentia a dor que a indiferença de Elena tinha provocado e isso o fazia pensar em não falar mais.
Para piorar a situação, Mário confessou que vinha omitindo sistematicamente suas preocupações a Elena. Ela começou a chorar. Sentia-se a pior mulher da face da Terra. Percebeu o quanto era culpada da situação. Justo ela que tinha ensinado Mário a não sentir culpas. Concluiu que ela era um lixo por ter feito seu amor sofrer.
Elena dormiu muito mal aquela noite. No dia seguinte levantou cedo e deixou Mário dormindo. Resolveu o que precisava fazer na rua e, do meio do caminho, lhe mandou uma mensagem de bom dia. Todos os dias ela lhe dava bom dia apaixonadamente e não seria por causa de uma discussão que ela deixaria de fazer isso.
No caminho de volta para casa Elena parou diante do mar. O dia estava encoberto como os seus pensamentos mas, na linha do horizonte, o mar estava azul da forma como Mário gostava de descrevê-lo em seus poemas. Estacionou o carro, tirou as sandálias e caminhou na areia até molhar os pés.
Chrou de novo. Dessa vez o choro era de esperança e de alegria. A água a envolvia como o abraço firme e carinhoso de Mário. Sabia que não existiam pessoas, fatos, circunstâncias que os pudessem separar. Foi com essa certeza que ela ligou para ele. Mário respondeu que ela era o ar que ele respirava, quem o fazia vivo. Ela era sua paz. A queria num abraço que durasse para sempre. Elena, pela terceira vez, se debulhou em lágrimas e o agradeceu demais. Precisava muito ouvir aquilo naquele momento.
Durante o resto do dia Elena refletiu sobre o ocorrido. O da noite anterior e os do passado que sempre voltavam. Era preciso mudar aquilo. Eles não precisavam mais passar por esse tipo de situação e, mesmo que a diferença continuasse presente, ela não podia gerar desentendimentos. Ela sabia que precisava olhar as coisas com os olhos do coração. Mário também precisava entender a cabeça de Elena. Caso uma fala não agradasse o outro isso precisava ser dito na hora, sem mágoas nem ressentimentos.
Precisavam sinceramente esquecer os episódios do passado, não podiam ficar como feridas mal curadas que só serviam para infeccionar o cotidiano. Mário não poderia omitir nada. Ela não poderia desvalorizar nenhum sentimento dele. Nenhum deles poderia deixar de falar o que pensava, nem para poupar o outro. Era uma ilusão achar que isso poderia proteger o amor. Até porque amor que precisa ser protegido de contrariedades ou de momentos difíceis não é amor de verdade. O deles era.
O caminho era só um. A vida só uma. A felicidade uma sensação permanente. Na fusão das diferenças.
Não eram almas gêmeas, eram um só. Unidade que não vinha das milhares de características que tinham em comum, mas principalmente da união das suas diferenças. E não eram poucas as diferenças, nem se concentravam em coisas sem importância, algumas delas aconteciam em questões muito sérias.
Mário valorizava muito o impacto do que fazia em todo o seu entorno. Elena não. Para ela poucas pessoas importavam de verdade e só essas eram objeto do seu cuidado e da sua preocupação. Se outros se escandalizassem com o que ela fazia, ela não ligava. Mário sim.
Mário também era mais sensível aos problemas que enfrentava. Cada um, por menor que fosse, o incomodava sinceramente. Além do que, ele acreditava que não existiam questões que fossem insolúveis. Se, na forma, ele, às vezes, parecia ser pessimista, de fato, ele é que era o otimista do casal.
Elena enfrentava as situações problemáticas com um certo desdém. Já batera muito a cabeça na vida e se tornara uma pessoa cética. Se, de um lado ela era militante de grandes ideais utópicos, de outro achava que muitas coisas não mereciam o desgaste que provocavam.
Era difícil para Mário aceitar essa visão. Era tão ou mais difícil para Elena. Por isso mesmo, esse era o ponto onde, de tempos em tempos, os dois trocavam faíscas.
Como na noite anterior. Mário comentara sobre um aborrecimento que tivera numa conversa com um colega de trabalho. Elena, que já tinha restrições pessoais a respeito desse colega respondeu que isso não era nada mais que o comportamento habitual dele.
Foi o que bastou para a diferença voltar à tona, com direito a recordações de todas as situações similares anteriores. Elena tentava explicar seu raciocínio. Mário se exaltava ainda mais com as explicações dela. Até o momento em que Mário falou que era por isso que ele já não contava tudo para ela. Elena sentiu como se um punhal tivesse sido enterrado no seu peito. Como assim? Ele estava deixando de falar sobre os assuntos polêmicos?
Ela teve de lembrá-lo que ela era a pessoa que, no passado, escondia os seus sentimentos. Fora justamente ele que a ensinara que amor de verdade não omite nada, nem para poupar o outro. Ele a convencera que transparência era o fundamento de tudo que eles construiam.
Mário ficou sem saber bem o que responder. Seu coração sabia que não poderiam existir abismos ou cortinas, mas a sua cabeça ainda sentia a dor que a indiferença de Elena tinha provocado e isso o fazia pensar em não falar mais.
Para piorar a situação, Mário confessou que vinha omitindo sistematicamente suas preocupações a Elena. Ela começou a chorar. Sentia-se a pior mulher da face da Terra. Percebeu o quanto era culpada da situação. Justo ela que tinha ensinado Mário a não sentir culpas. Concluiu que ela era um lixo por ter feito seu amor sofrer.
Elena dormiu muito mal aquela noite. No dia seguinte levantou cedo e deixou Mário dormindo. Resolveu o que precisava fazer na rua e, do meio do caminho, lhe mandou uma mensagem de bom dia. Todos os dias ela lhe dava bom dia apaixonadamente e não seria por causa de uma discussão que ela deixaria de fazer isso.
No caminho de volta para casa Elena parou diante do mar. O dia estava encoberto como os seus pensamentos mas, na linha do horizonte, o mar estava azul da forma como Mário gostava de descrevê-lo em seus poemas. Estacionou o carro, tirou as sandálias e caminhou na areia até molhar os pés.
Chrou de novo. Dessa vez o choro era de esperança e de alegria. A água a envolvia como o abraço firme e carinhoso de Mário. Sabia que não existiam pessoas, fatos, circunstâncias que os pudessem separar. Foi com essa certeza que ela ligou para ele. Mário respondeu que ela era o ar que ele respirava, quem o fazia vivo. Ela era sua paz. A queria num abraço que durasse para sempre. Elena, pela terceira vez, se debulhou em lágrimas e o agradeceu demais. Precisava muito ouvir aquilo naquele momento.
Durante o resto do dia Elena refletiu sobre o ocorrido. O da noite anterior e os do passado que sempre voltavam. Era preciso mudar aquilo. Eles não precisavam mais passar por esse tipo de situação e, mesmo que a diferença continuasse presente, ela não podia gerar desentendimentos. Ela sabia que precisava olhar as coisas com os olhos do coração. Mário também precisava entender a cabeça de Elena. Caso uma fala não agradasse o outro isso precisava ser dito na hora, sem mágoas nem ressentimentos.
Precisavam sinceramente esquecer os episódios do passado, não podiam ficar como feridas mal curadas que só serviam para infeccionar o cotidiano. Mário não poderia omitir nada. Ela não poderia desvalorizar nenhum sentimento dele. Nenhum deles poderia deixar de falar o que pensava, nem para poupar o outro. Era uma ilusão achar que isso poderia proteger o amor. Até porque amor que precisa ser protegido de contrariedades ou de momentos difíceis não é amor de verdade. O deles era.
O caminho era só um. A vida só uma. A felicidade uma sensação permanente. Na fusão das diferenças.
Comentários
Quer saber? Lindo demais!!!!!
beijos de quinta
Bjíssimos
A foto é do mesmo mar.
Uma parte bem clara e a outra escura. Bem diferentes...
Mas do mesmo mar.