Borralheira
Nelly abriu a porta ainda sem fôlego. Jogou a bolsa e suas coisas em cima da mesa da sala, sentou-se um pouco e pensou em tomar um banho. Concluiu que não era de relaxamento que ela precisava, nunca estivera tão disposta e estava cheia de energia.
Foi para a cozinha. Separou ingredientes e começou a trabalhar.
Mexendo a comida nas panelas ela mexia nos cabelos dele. Cada tempero lembrava o seu sabor. Aromas, gostos, texturas. Era como se suas mãos implorassem por um toque que lembrassem os momentos em que tocara o corpo do amado. Ora trêmulo, ora firme. Ora ardendo, ora tépido. Seco, úmido, molhado, ensopado de suor e das gotas do chuveiro. Em todas as situações sempre delirante e apaixonado.
Cozinhando ela o amava.
O calor da cozinha aumentava à medida que as panelas soltavam vapores. Os ingredientes passando por mudanças químicas, mudavam de cor, de consistência. Tudo fervendo, tudo ardendo. Mesmo assim Nelly ainda aumentava a potência da chama para sentir o calor grudar na sua pele, tocar seu rosto, penetrar nas suas entranhas. Muito calor. Fusão de alimentos como fusão de corpos.
Esquentando a comida ela o amava.
Ela sempre soube que a cozinha era o lugar mais sensual da casa, onde tudo acontecia e todos os sentidos era estimulados. Nem no quarto ela sentia o mesmo. Sonhava com o momento em que dividiria com ele a sua cozinha.
Arrancando o avental ela o amava.
A água quente escorria pelas suas mãos, por entre seus dedos, acariciando e envolvendo-a. A espuma do detergente se formando, leve aroma cítrico, frescor oportuno, corrente de água límpida que remove impurezas, tudo brilha, tudo reluz.
Lavando a louça ela o amava.
Pia limpa, mesa do café da manhã arrumada. Nelly passou pano no chão, fechou os olhos e se sentiu a borralheira que, no dia seguinte, voltaria a viver seu sonho de princesa.
Foi para a cozinha. Separou ingredientes e começou a trabalhar.
Mexendo a comida nas panelas ela mexia nos cabelos dele. Cada tempero lembrava o seu sabor. Aromas, gostos, texturas. Era como se suas mãos implorassem por um toque que lembrassem os momentos em que tocara o corpo do amado. Ora trêmulo, ora firme. Ora ardendo, ora tépido. Seco, úmido, molhado, ensopado de suor e das gotas do chuveiro. Em todas as situações sempre delirante e apaixonado.
Cozinhando ela o amava.
O calor da cozinha aumentava à medida que as panelas soltavam vapores. Os ingredientes passando por mudanças químicas, mudavam de cor, de consistência. Tudo fervendo, tudo ardendo. Mesmo assim Nelly ainda aumentava a potência da chama para sentir o calor grudar na sua pele, tocar seu rosto, penetrar nas suas entranhas. Muito calor. Fusão de alimentos como fusão de corpos.
Esquentando a comida ela o amava.
Ela sempre soube que a cozinha era o lugar mais sensual da casa, onde tudo acontecia e todos os sentidos era estimulados. Nem no quarto ela sentia o mesmo. Sonhava com o momento em que dividiria com ele a sua cozinha.
Arrancando o avental ela o amava.
A água quente escorria pelas suas mãos, por entre seus dedos, acariciando e envolvendo-a. A espuma do detergente se formando, leve aroma cítrico, frescor oportuno, corrente de água límpida que remove impurezas, tudo brilha, tudo reluz.
Lavando a louça ela o amava.
Pia limpa, mesa do café da manhã arrumada. Nelly passou pano no chão, fechou os olhos e se sentiu a borralheira que, no dia seguinte, voltaria a viver seu sonho de princesa.
Comentários
beijos de quinta feira
O texto é lindo, como sempre, mas quanto ao contexto, desculpe, mas amo minha lavadora de pratos.
Não quero criar polêmicas, mas não há nada mais sublime do que você colocar os pratos e talheres engordurados dentro da máquina. Fechá-la, e ficar observando aquela maravilhosa movimentação das águas ( lembram a Pororoca) ao som que remete a um bailado cigano, e enfim:
Louça limpa e brilhante.
Nem uma gota de sabão ou água no chão, nem um pano molhado, nem um ralo com restos, nem um avental sujo de ovo.
Apenas o olhar, refletir e pensar: Minha avó nem imagina o que perdeu.
Beijos.
Fiquei tão empolgada falando da lavalouça que nem assinei.
Beijos. Arimar