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Mostrando postagens de setembro, 2009

Reações amorosas

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Zeca era daqueles sujeitos que acreditava na vitória da esperança sobre a experiência. Já tinha casado e descasado três vezes, mas ainda buscava a mulher ideal. Sempre se julgara um romântico. E era mesmo. Além de romântico era um bom observador e, diferentemente de outros homens que costumam ter expedientes repetitivos de cantadas, ele desenvolvia uma específica para cada mulher e para cada situação. Na maioria das vezes fora bem sucedido. Em outras entrou pelo cano, quando algumas não gostaram desse excesso de observação e se sentiram invadidas nas suas privacidades. Quando a situação lhe foi favorável ele experimentou as mais diversas reações. Espanto, surpresa, emoção, largos sorrisos e debulhar de lágrimas. Assim como as mulheres eram diferentes, também o eram suas reações. Algum tempo depois da terceira separação ele conheceu Sara. Uma mulher bonita, da mesma geração dele, valores e gostos muito parecidos. Começaram a namorar. Cada dia que passava eles estavam mais apaixonados, m

Poemeto acadêmico

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Ele era um amante De tudo e de nada Paixão latu senso Sua namorada Ela era metódica Uma meta definida Paixão strictu senso Era dela preferida No discurso frio De uma monografia Tropeçaram no outro Em plena academia Propuseram teses Questionaram filosofia Só no amor encontraram Uma nova taxonomia

Fredsen não reprocharia

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O prásino fora encontrado à alea por dois escoteiros que desciam de iuá tomando porongo. Os meninos, ainda rarípilos, o colocaram no puceiro e chamaram os colegas ao som da harmoniflauta. Junto à aceca do lameirão vieram todos observar e pedra coberta de lismo. O chefe a colocou num cacim e guardou na cimalha da tapera onde estavam. No dia seguinte, todos de fatiota aerínea fizeram seus exercícios amínticos para o esplênio, tiraram a jóia da padieira, subindo pelos taipais e rumaram para a urbe. O mais morrudo de todos matava tentredos nas vergônteas como se fora um centímano. O chefe, nefalista e coercivo o enchia de aporemas. De repente, formou-se um mistifórnio. Ouvindo o cantar do cnute, o empachado derruiu a ribanceira. Sentido a alêntese pela vante, outro áscio levantou os gadanhos num gesto fescenino. Ameaçou o colega de evirar-lhe pelo pavoneio disponente. Esse fingiu uma cofose, com se ouvisse um landuá. Foi uma efialta. Voaram corrumes no ptérion, parâmeses secernentes e até

Hipótese nula

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Mariana, talvez pelo próprio nome, tinha a mania de ficar citando Vinicius de Moraes para todos os seus namorados. Infinito enquanto dure, repetia sempre ela. Alguns achavam piegas, outros romântico. E enquanto achavam isso, passavam um após o outro. Um deles, ao romper o namoro, mandou apenas um bilhete que dizia: "posto que é chama..." Um dia Mariana conheceu Alfredo que era estatístico de uma seguradora. Apesar de ter o raciocínio lógico nas alturas, Alfredo era um sentimental. Ouviu Mariana citar o poema e se incomodou. Ouviu a segunda, a terceira... Até que não resistiu mais e resolveu dar uma aula de estatística para a amada. Explicou que não existia infinito limitado. Nem no tempo nem no espaço. Que seu amor é para sempre. A chance dele deixar de amá-la era nenhuma. Por mais que a estatística clássica negasse as probabilidades extremas, ele sabia que, afinal das contas, sua profissão era a mais inexata das ciências exatas. Deixar de amar, explicou ele, era uma hipótese

Conticulóides cremosos

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Consistência Quando Ana, sem querer, esbarrou na mão de Mário durante a reunião, ela sentiu algo lhe subir pela espinha. Nunca tivera aquela sensação antes e, olhando para a mão do colega, não conseguia imaginar o porquê, uma mão tão parecida com qualquer outra. Com o tempo descobriu que era muito mais que isso. Aparência Carlos era um esteta. Admirava as pessoas pelas suas feições, pouco importava o que elas pudessem ser, desde que fossem bonitas. Casou-se com Raquel, a mulher mais bonita que jamais tinha visto. Ela o maltratou e espezinhou durante toda a vida, mas ele só a abandonou quando concluiu que ela perdera sua beleza. Aderência Ele sempre dizia que a sentia penetrando nos seus poros. Ela achava engraçada a expressão mas, ao mesmo tempo, mais uma das cantadas baratas que ele insistia em lhe passar. Quando ficou grávida pela primeira vez descobriu que não. O exames pré-natais acusaram presença do DNA dela, no sangue dele. Hidratação Rosana sempre achou que banheira era coisa de

Reprodução assexuada

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Entrei na fase da educação sexual. Sinal dos tempos modernos o assunto aparecer no livro de ciências de um moleque de 10 anos. Se assim é a realidade, vamos a ela. Era a matéria que o Samuel tinha de estudar para a prova de ciências. O livro começava pelo básico. Aparelho reprodutor masculino, com os nomes oficiais daqueles penduricalhos que ele tem entre as pernas. Aparelho reprodutor feminino, contando sobre órgãos que as meninas tem, mas ninguém vê. Tudo muito bonitinho, Testículos produzem espermatozóides. Ovário liberam óvulos. Espermatozóides são ejaculados. Óvulos caminham em direção ao útero movido por cílios. Viro a página do livro e... surge, do nada, um óvulo fecundado. E o tema passa a ser o desenvolvimento do bebê no útero. Tudo bem, talvez a escola ainda não queira falar da parte mais divertida da coisa. De repente, não mais que de repente, o assunto muda de novo. Entram em cena a camisinha e a pílula anticoncepcional. Para que serve saber o que é uma camisinha (sim, eu

Inda hei de ouvir cantar...

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Passou a noite sem dormir. Virou de um lado para o outro da cama e não conseguia pensar em nenhuma outra coisa. Tinha cometido mais uma de suas gafes e magoado Inês. Justo Inês, a mulher pela qual esperou a vida inteira sem acreditar que existisse. Mulher que o tinha transformado num homem feliz. Tentou se desculpar. Palavras não eram suficientes. Eram apenas palavras. precisava de algo mais. Tentou marcar um encontro. Os horários não batiam. Ela teria um dia cheio de reuniões pela frente e, quando não eram os compromissos dela, eram os dele. Ele não via como resolver o impasse. Resolveu arriscar. Foi para frente do prédio do banco onde ela teria uma das suas reuniões. Parou na frente da entrada da garagem e ficou esperando. Quando ela o viu levou um susto. Parou o carro perto dele e disse que depois conversariam, precisava de tranquilidade para a reunião. Ele deu a volta no prédio e foi para a saída da garagem. Ia esperar até que ela saísse. Postou-se ao lado de uma árvore. De repente

Tango trágico

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Geraldo já passara dos 50 e. como todo bom cinquentão, queria realizar seu sonho de adolescência e comprar uma motocicleta. Não havia nada que impedisse, a mulher já estava conformada com o fato e ele tinha dinheiro suficiente para não acabar num crediário. O único problema de Geraldo era que ele não sabia dirigir uma moto. Matriculou-se na moto escola, onde ia duas vezes por semana no final do dia. Começou com as instruções básicas. Primeiro aprendeu a fazer o oito, sem perder a cadência nem cair na rede. Em poucas semanas já dava a volta no quarteirão, sem nenhuma arrastada. Manuseava o freio sem sem enganchar em nenhuma fresta. Começou a sofisticar sua técnica quando teve de fazer uma meia lua em volta da bolinha sacada pelo instrutor. Com apenas uma empurradela colocava a máquina para planear, e nem deixava cair a cadeirinha. Comprou uma Harley. Resolveu estreiá-la numa noite de lua cheia. Saiu pelas ruas da cidade com a mulher na garupa. Encaixou-se como um sanduíche entre os carr

Primavera outra vez

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Eu nasci no fim do inverno, pouco dias antes do início da primavera. Talvez, por isso mesmo, são as duas estações que mais me agradam. Se, por um lado, o inverno me traz temperaturas que eu considero mais toleráveis que a canícula do verão, por outro a primavera é a estação que alegra os espíritos mais abatidos. Não deixa de ser, já dizia Eliot, um momento cruel. Quando as flores rompem dolorosamente o solo em direção ao renascimento. Tempo de memórias e de desejos. Sempre comemorei a chegada da primavera e, mesmo hoje, quando ela volta num dia frio, chuvoso e sombrio, é um momento de festa. Cada dia mais cheia de flores. Flores, cada dia, mais lindas e perfumadas. A sensação do amor brotando, em cada canto, com todo o seu esplendor. Amor que aparece das mais diversas formas. Num passo de dança, num tempero incomum, num copo de leite, numa canção antiga e, até mesmo, numa prosaica xícara de café. Essa primavera que me nutre todos os dias, povoa de sonhos as minhas noites. Primavera de

O bobo e a rainha

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Era uma vez, numa terra muito muito distante, um bobo da corte que andava enfastiado de trabalhar para um rei ranzinza e mal humorado. Seu amo nunca ria de suas piadas, ainda que toda corte o achasse muito divertido. Chegou à conclusão que estava na hora de procurar um emprego que lhe desse mais prazer. Pela estrada afora ele foi bem sozinho, e nem doces tinha para consumir. Até que, ao longe, divisou um castelo no alto de uma montanha. Conforme se aproximava do castelo foi encontrando alguns moradores locais, a quem perguntou sobre o rei do pedaço. Era uma rainha solitária e sobrecarregada pelas demandas de seus súditos. Apesar das perspectivas não serem das melhores ele resolveu arriscar e pediu uma audiência à soberana. Quando o recebeu, a rainha estava acompanhada do primeiro ministro que, educadamente, lhe ofereceu uma taça de vinho. Contou algumas piadas, arrancou alguns sorrisos contidos da monarca. Mais que isso, ele notou que os seus olhos sorriam mais que seus lábios. Ao sair

Por uma cozinha poética

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Algumas vezes eu gosto de inventar jantares diferentes para alguma comemoração. Outras, porque vou receber visitas. Na maioria das vezes eu gosto de ir para a frente do fogão apenas pelo prazer de cozinhar. Ainda que o exercício da culinária seja um prazer, muitas vezes, solitário ele só se completa quando se tem em mente alguém para quem se cozinha. Especialmente quando o momento é de invenção. Cada tempero tem uma intenção específica, que vai muito além de dar sabor ou aroma ao prato. Resolvi brincar com ingredientes e temperos marcantes. Misturar sabores como se fosse uma paleta cromática. Acertar temperos como quem ajusta a métrica de um poema. Contrastar dissonâncias harmônicas. Os pratos que se seguem são fáceis de fazer, o toque de sentimentos, depende de você. Quiche de roquefort Para a massa, junte 8 colheres cheias de farinha de trigo, 1 tablete de margarina (100 g), 1 pitada de sal, 1 colher de chá de fermento em pó e 1 gema. Misture e amasse bem os ingredientes. Caso a mass

Torturando analogias

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Tema: A fome é a melhor cozinheira Variações: A sede não requer bebedeira Roupa suja, prá lavadeira Sem chuveiro, só banheira Sol na praia, só na esteira Novo amor e tremedeira Quem matou o Zé Pereira? Chega de tanta besteira

Minhas lágrimas por Mary

Meu dia hoje não começou bem. Olhando as notícias na Internet me deparei com o anúncio da morte de Mary Travers . Aos 72 anos, ela morreu de leucemia. Essa senhora foi uma das pessoas importantes da minha vida. Junto com Peter Yarrow e Noel Paul Stoker ajudou a construir a minha consciência a respeito dos direitos civis. Cantaram pelos direitos dos negros, dos judeus. Cantaram contra as guerras dos anos 60 e 70. Mais do que cantar, eles iam para as ruas. Marchavam ao lado dos líderes cívis, apanharam da polícia, foram presos. Um dia, num dos grupos de discussão sobre Síndrome de Down que eu participo, alguém perguntou se existia alguma música sobre pessoas com SD. Existia, quem cantava eram eles. A música, chamada, Danny´s Down, falava de uma mãe a quem era oferecida a chance de deixar o filho com deficiência, recém nascido, morrer. É um libelo em defesa da vida. Se, de um lado, eles eram contundentes na defesa de direitos, por outro, podiam cantar as músicas mais ingênuas e delicadas

Réu confesso

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No começo Sérgio não deu a menor bola para o fato. Parecia uma coisa natural e, de certa forma, quando Fernanda o culpava de algo, ela tinha alguma razão. Ele sempre fora um pouco atabalhoado e distraído, era normal que cometesse suas gafes e pisasse na bola, de tempos em tempos. Começou a prestar mais atenção no que fazia, tentando errar menos, o que, de fato, conseguiu. Não que tivesse se tornado infalível, mas melhorara muito. Nesse momento que começou a perceber que havia um padrão no discurso de Fernanda. Mesmo ele não fazendo nada de errado, a culpa de qualquer coisa era sempre dele. Como sempre fora um sujeito bem humorado, achava melhor rir do que se incomodar. Até porque as suas culpas beiravam o ridículo. Num dia foi culpado por tê-la beijado ao chegar em casa, o que a distraiu e o arroz queimou. Em outra ocasião ele acabou sendo o responsável por terem chegado atrasados ao casamento de um primo de Fernanda. Quem tinha mandado ele fazer aquele caminho onde havia um prego para

Recarga total

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Baterias são seres muito variáveis, algumas duram mais que as outras. Umas são recarregáveis, outras não e, mesmo entre as recarregáveis, nem todas funcionam da mesma forma. Quando eu preciso recarregar as minhas baterias, sempre pego meu manual básico de funcionamento para saber que método usar. Em algumas situações, uso a corrente constante por tempo definido, deve ser usado somente em situações em que uma eventual sobrecarga pode ser prejudicial. É o mais recomendável, especialmente nos casos de cargas alimentares. Existem momentos que não dá para escapar da tensão constante. Alguns alegam que, como o tempo de carga é elevadíssimo isso pode aumentar o risco de curtos circuitos, especialmente se as grades internas se tocarem em momentos inadequados. Por outro lado, não dá para negar que é o melhor método para manter a energia em patamares elevados. Para quem precisa de carga constante, mas não está disposto a correr riscos, é possível usar a tensão constante com limitação de corrente

Tristeza

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Existem momentos em que eu gostaria de ser esse poeta e recolher qualquer lágrima na palma da minha mão e confortá-la no meu peito. Como nem sempre tenho essa capacidade. Eu traio o poeta que o fazia. Tristeza da lua Noite. sonhava a lua preguiçosa Como a bela, deitada, sem receios, A mão acaricia silenciosa, O contorno perfeito dos seus seios Entre o cetim macio das avalanchas Se entrega desmaiando em estertores Passeando os olhos sobre brancas manchas Desabrocham azuis, como fossem flores Quando, às vezes, no mundo de prazer Uma lágrima secreta correr, O bom poeta ao sono nada afeito Com mãos abertas pega a gota rala Reflexos coloridos tal opala Longe do sol, a recebe em seu peito. O original é o seguinte: Tristesses de la lune Ce soir, la lune rêve avec plus de paresse; Ainsi qu'une beauté, sur de nombreux coussins, Qui d'une main distraite et légère caresse Avant de s'endormir le contour de ses seins, Sur le dos satiné des molles avalanches, Mourante, elle se livre aux

Muito mais que uma fase

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Lua nova convida Descobrir seus segredos Fingindo se esconder Crescente meu desejo Fulgura dentre as trevas Luz terna dos teus olhos Quando cheia de amor Coração ilumina Plena felicidade Mesmo surgindo em fases Meu amor não apaga Não será mais minguante

Aforismos envelhescentes

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Quem não procura, também acha É mais fácil aprender a conviver com as falhas do que não falhar nunca. Por que os ateus se preocupam tanto com um Deus que eles dizem não existir? A lei é para todos. A fiscalização só para os inimigos. Às vezes me faltam as palavras, mas nunca as idéias. A idade não me deixa mais sábio, mas certamente mais realista

49

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Tenho de admitir que eu sou um privilegiado. Em vários aspectos, diga-se de passagem. Hoje, analisando o calendário, descobri que eu vou passar o meu aniversário em ótima companhia. Comemoram mais um aniversário nesse dia alguns bons amigos.De 1831 é Álvares de Azevedo, o único poeta que eu conheço que dedicou um soneto a uma lagartixa antecipando o movimento dos insanos. De 1880, H.L. Mencken, um dos melhores aforistas que eu conheço. De 1888 o delicioso Maurice Chevalier que até hoje me visita nos seus filmes. Dentre os ainda vivos, aniversariam hoje: Ian Holm (o Bilbo do Senhor dos Anéis e um dos personagens das Carruagens de Fogo) completa 78 anos. Geraldo Vandré, 74 e Neil Pert (baterista do Rush), 57. Também tenho a companhia de algumas beldades. Tânia Alves, Malu Mader, Amy Yasbeck e Rachel Ward, cujas idades eu, educadamente, não irei revelar. No entanto, muito melhor do que a companhia de todas essas celebridades, o que mais me deixa feliz a cada ano, é a companhia (presencia

A insustentável lightfastness do ser

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Parece ser um regra imutável. Cores quentes são menos resistentes à luz. Cores frias podem durar muito mais. Seja a luz do sol, seja à de uma anódina luminária de museu, todas absorvem luz ao invés de refleti-la. Quanto mais luz absorvem, menos sobrevivem os pigmentos, a energia luminosa os vai degradando, molécula por molécula. A essa durabilidade da cor, os especialistas deram o nome de lightfastness , ou o grau de resistência à luz. Por isso é que os pintorcantropus* erectus faziam sua arte rupestre em cavernas, para ter a certeza que as futuras gerações teriam a chance de conhecê-la.O único problema é que as melhores pinturas estavam nas cavernas mais escuras. Intactas, mas impossíveis de serem vistas. Quando os artistas da idade média inventaram a tempera (no qual os pigmentos de terra eram misturados a um "colante", uma emulsão de água e gemas de ovo ou ovos inteiro) eles começaram a perder na durabilidade dos quadros. Uns por excesso de luz. Outros, por falta de quali

Contículo adverbial localizado

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Existem horas em que eu me sinto completamente perdido. Não sei se fico aqui, vou até ali ou, num arroubo de ousadia me transporto acolá. Tenho a impressão de estar nenhures. Não enxergo o que está atrás, nem adiante, quanto mais o que, em volta me cerca. Olho em cima, à esquerda, à direita e é como se estivesse dentro de um quarto escuro. Acredito que lá fora, o sol, algures, me iluminaria os passos onde eu andasse. Sinto o medo por detrás e o pavor defronte. Nuvens sombrias ao longe indicam que estou ainda aquém de uma saída. Dou um passo além. Se o cenário externamente não me favorece, melhor viajar adentro de mim mesmo. Cá, algures, encontrarei o que não vislumbro fora. Aonde estará a saída? Vagarei mundo afora em busca da resposta? Seja longe, seja perto, não desistirei da busca, em que pese a distância. Sei que estou aquém do que busco. Mas quando chegar lá, alhures repousarei.

Expectativas dúbias

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Naquela noite Marcelo mal conseguiu dormir de tanta emoção. Tudo porque Renata, aquele mulherão que estudava na mesma classe que ele, e que era a desejada de todos os meninos, lhe dissera, ao saírem da escola, que não poderia ir com ele na festa de sábado porque ele era muito anafrodisíaco. Nunca alguém tinha dito algo tão forte para ele. Sua imaginação transportou-o para lugares onde nunca estivera antes. O que será que Renata sentia quando pensava nele? Afinal, nem todo mundo era anafrodisíaco como ele. Será que as outras meninas da classe achavam a mesma coisa? Será que se contorciam nos seus leitos pensando nele? Imaginou Renata sonhando. Imaginou-se sonhando com Renata. Estava feliz, finalmente a vida lhe sorrira. Até se conformou com o fato de Renata ter recusado o seu convite. Afinal, quem poderia saber o que aconteceria se estivessem juntos e ele transmitisse seus poderes anafrodisíacos? Quando chegou na escola, no dia seguinte, foi conversar com Renata assim que a viu. Ousado

Minha família

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Minha família é engraçada. Tem o papai, ele funga de montão. A mamãe é demais, ela até fez um fotoblog, ai, ai... eu mereço. O Samu doido que só, queria ser igual. E eu, com a minha fama de bagunceira. Um dia tentei arrumar e não funcionou. Essa é a minha família, a mais engraçada do mundo. Letícia Ribeiro (8 anos) Obs: no original grafado como "minha familha". Para quem não sabe, Letícia é a minha filha.

Amor mecânico

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André sentou-se no quarto para mais um domingo de estudos. Não tinha escapatória, o final do ano estava chegando e, com ele, o temido vestibular. Não conseguia se concentrar nas matérias, só pensava em Cássia, a namorada. Além de tudo não estava conseguindo encontrá-la o tanto que gostaria, em função dos estudos. Olhava para as apostilas. Olhava para o teto. Olhava pela janela e só via a imagem da garota. Pegou o livro de física. Justo física que ele odiava. Mecânica era a matéria. Precisava decorar as definições para o simulado no dia seguinte. Começou a copiar o texto, era a sua forma de memorização. Força isso, força aquilo...e Cássia em seus olhos : ...força centrípeta é a força resultante que puxa o corpo para o centro do seu coração, como se nossos corpos gravitassem permanentemente um em volta do outro. Algumas vezes essa atração é tão forte que vem perpendicularmente em direção ao meu coração, como uma pseudo força de Coriolis. Já a força centrífuga impulsiona tudo para fora, a

Tango

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Rodolfo chegou em casa com cara de poucos amigos. Na verdade, estava completamente arrasado. Arsinoé, a empregada que trabalhava para ele há anos percebeu logo que alguma coisa estava errada. Muito errada. "- Posso ajudar em alguma coisa seu Rodolfo?" Ele esboçou um sorriso sem graça e respondeu "- Dessa vez eu acho que não..." "- Mas o que foi que aconteceu?" " - Lembra que eu te falei a respeito da Marília?" "- Sim, a moça que trabalha com o senhor. E que o senhor está apaixonado por ela." "- Mas eu nunca disse que estava apaixonado!" "- E precisava dizer?" Não precisava. A empregada sabia mais da vida dele que ele mesmo. Sempre discreta, prestava atenção em tudo e percebia tudo. Rodolfo continuou: "- Pois é... o que acontece é o seguinte, daqui a um mês, na festa de final de ano da empresa, resolveram fazer um baile..." "- E o senhor não sabe dançar?" "- Pior que isso, além de não saber da

Alguém

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Maria sentou-se ao piano e começou a tocar. Seus dedos estavam na música, sua cabeça não. Sentia um misto de surpresa e de encantamento. Depois de tantos anos de procura, ela, finalmente, tinha encontrado a pessoa. Alguém com quem ela podia realmente ser ela mesmo. Falar do que quisesse, na hora que quisesse. Sem medos, nem culpas. Alguém que se alegrava com suas alegrias, vibrava com suas conquistas. Alguém com quem dividisse seus medos e fraquezas. Alguém que procurava dissipar seus medos, ao invés de recriminá-los. Alguém que compreendia suas fraquezas, ao invés de desprezá-las. Alguém com quem ela, mais do que despir o corpo, podia despir sua alma. A vergonha dos outros, que sempre a acompanhara, desaparecera por completo. Pelo menos quando estava com ele. E ele estava com ela o tempo todo, mesmo ausente, não havia momento em que ela não o tivesse dentro de si. Em pensamento, em sonhos, frente à frente. Fazia parte dela. Maria acabou a música e percebeu que nunca tinha tocado tão b

A deontológica antologia de Agosto

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Mais um mês de comentários antológicos. Todo mérito para meus insanos e insanas leitores: Essas são as caminhadas que mais gosto. São, digamos, um tesão!!! ...pela minha obnóxia participação... Também fiquei curiosa com o sexo no porão. ...vai passear com o vestido novo! vai que encontra outro mais interessante. ...visões de um apocalipse privado. além dos mosquitos, as baratas e as formigas também restarão ... ...ao menos comigo, sò acontecem com pernilongos e mosquitos... Até meu pai já tem um iPod!!! Tá atrasadinho, né? Essa combinação...menta com chocolate...é uma das minhas preferidas... ...morar aqui na Capitania tem suas desvantagens... Pelo bem de todos e felicidade geral dos esfomeados. Nem te conto(ou conto?) Meu vizinho também é bom de cama Mandei via e-mail pra namorado, que nem estava procurando... Este blogue é um saco. ...diria Jânio Quadros, acompanha-lo-ei... ...bem melhor lançar mão da circulação extra corpórea! ...um carrapato de diamante, eu também queria Cheguei at

Uma questão elétrica

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Logo que vi o produto anunciado eu fui comprar. Realmente era uma coisa absolutamente inédita e eu não podia perder uma oportunidade dessas. Além do que, reconheci a genialidade do seu inventor. Quem mais poderia pensar em fabricar um massageador de Id? Massageadores de ego já se tornaram commodities, já o superego é tão rígido e autoritário que não requer massagem. O vendedor me explicou detalhadamente o produto que, além de massagear tinha um reservatório de pulsões para momentos que se fizessem necessárias. O aparelho é bivolt e poderia ser usado instintivamente em qualquer lugar, se assim me aprouvesse. Segundo o vendedor, também poderia ser utilizado em qualquer tipo de tomada e vinha com um conjunto de pinos adaptadores para uso em tomadas de pino chato, redondo, trifásicas. Sai da loja desejoso de usar imediatamente a maquininha. Nunca tinha massageado meu Id e não sabia exatamente quais serias as consequências de curto prazo. Conectei na primeira tomada que encontrei e nada. Pe

Conticulóides morfosiológicos

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Funcionamento Renata adorava comprar roupas, mas detestava ir a alguma loja acompanhada. Naquele dia teve de carregar Gilberto a tiracolo. Ele ficava o tempo todo sentado com cara de tédio. Ela fingia que nem via. De repente tomou um susto, a cortina do provador se abriu, ele entrou, beijou-a longamente e saiu. Nunca mais ela foi às compras sozinha. Consistência Andréia entrou na loja de colchões com um problema. Ela gostava de colchão de espuma, duro. Marcos queria um colchão de molas, mole. Passaram horas experimentando os produtos sem que chegassem a um acordo. Desistiram do casamento. O romance não resistiria a problemas de coluna. Detritos Todas as semanas Carolina fazia uma faxina geral nos ralos da casa, a contragosto de Carlos que não queria que ela se desgastasse com esse tipo de serviço. Nenhum dos seus argumentos funcionou, para ela era uma questão metafísica, antes a sujeira do que a vida pelo ralo. Cubista Rafael estava empolgado, acabara de projetar um casa incomum onde c