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Mostrando postagens de março, 2009

Respondendo à amiga

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Minha epistolar e cardiomótica amiga As mudanças ditam o ritmo das nossas vidas, já diria nosso camaleônico e querido Bowie. Ouvir o teu lado confessional me deixou mais convicto desta intensidade estival da nossa amizade Lembrei-me de uma das nossas conversas antigas, quando você me dizia : “ você já sentiu uma sintonia total com alguma outra pessoa ? Interesses culturais , etc...” A minha resposta foi , sem dúvida alguma : Sim - com você !!! e por isso mesmo você complementou a sua frase : “... e sensualidade ? “ É impressionante como você me conhece... mesmo quando não falo... E, não mais que de repente, você encontrou essa pessoa. A pessoa que consegue juntar todos os lados do cubo mágico, cuja solução nós dois nunca conseguimos encontrar juntos Quando a emoção e o sentimento são reprimidos a aparência se torna triste.... e agora, mesmo sem ver o teu rosto, tenho certeza que seus olhos brilham de maneira fulgurante. As vezes nós dois somos muito complexos para quem está de fora, q...

Nova carta da amiga

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Depois de muito tempo, a amiga me escreveu de novo. Cheia de mudanças, me contando o seguinte: Amigo Depois de muito tempo volto a te escrever. Constrangida por te deixar tanto tempo sem notícias desde a nossa última troca de correspondência. Foram tantas as mudanças que eu precisei desse tempo para me recompor. O amor, como você sempre fala, é feito de mudanças. Tudo mudou Encontrei alguém muito diferente de tudo que eu pudesse sequer imaginar. Não, não é o príncipe encantado, nem o sapo barrigudo. Aliás, nem eu mesma sei o que ele é, nem tenho muita certeza de que ele exista mesmo. Você me conhece bem e sabe que eu sempre idealizei a figura do homem ideal. Alguém com quem eu tivesse afinidades de interesses, gosto semelhante e, ao mesmo tempo, que fosse apaixonante. Meu ideal não era um ser perfeito, até porque seria intoleravelmente chato conviver com alguém perfeito, sendo eu mesma imperfeita. Eu ia te dizer que o conheci...mas minha linha de pensamento ficou meio confusa. É uma p...

Desaforismos inconseqüentes

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Os beijos só são bons quando são silenciosos e as bocas não tem outra ocupação. Era uma situação plena de ausência de bom senso. Acabar em pizza pode ter outro significado se a pizza for das boas. Cortar um sinecura é como romper um vício, só com atitudes radicais. Toda história de amor é uma história de mudanças Lobo que uiva não foge. O destino final da neutralidade é o isolamento. Não me tragam respostas quando eu não fiz perguntas. Homens que se acham deuses, não tem competência nem para serem bons diabos. Para visualizar melhor o cartoon, clique sobre o mesmo. Não me censure pelo uso do trema, eu sou um nostálgico.

Fundamentos de beijologia

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O beijo é, aparentemente, uma coisa simples. Uma justaposição anatómica de dois músculos orbiculares da boca em estado de contração. É umas das ações mais fáceis de se aprender. Bebês com poucos meses já beijam. Por outro lado podem até ser classificados em latim . O que eu nunca imaginei é que existisse uma ciência dedicada a estudar o beijo, a filematologia (que eu vou chamar de beijologia que é mais fácil) Descobri isso num beijo literário que recebi recentemente, mas nem a Wikipedia explica mais detalhes da ciência, o que me encheu de dúvidas. A beijologia é uma ciência humana, biológica ou exata ? Existe alguma relação inter ou transdisciplinar entre elas ? Quem estuda isso ? A anatomia (já que assim é definido) ? A físico-química ? A endocrinologia (impossível não citar hormônios quando se fala de beijo)? É comportamental ou atitudinal? Sendo uma ciência deve ser objeto de algum curso superior, o que me provoca mais questões: o vestibular para essa faculdade é prestado em duplas...

Sexta Feira 13

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Era treze a sexta feira Dia de tal sortilégio Dizia a lenda caseira Negá-la, um sacrilégio Lhe soava zombeteira a vida, um decreto régio, que negasse o privilégio de fazê-la brincadeira. No entanto, quantas risadas Quantas bolhas de sabão, Uma canção obtusa Que não soava confusa. Corpos e almas lavadas Lembranças de uma emoção.

Camarão conquetivé

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Sábado passado tirei do freezer um pacote de camarões. Sem saber exatamente o que iria fazer com eles no domingo. Como o meu dia acabou ocupado por outras atividades que mereciam mais atenção que os crustáceos e, no domingo de manhã fui para a Igreja, encontrei os decapódes me esperando na pia. A primeira idéia foi fazê-los à dorê. Mas eram de tamanho médio e estavam sem cauda. Desisti. E fui fazer uma pesquisa na minha caixa de temperos e na geladeira. Temperei os malocostráqueos com flor de sal e pimenta do reino. A Letícia veio me ajudar e pedi que ela misturasse uma colher de chá de curry em meia xícara de café de azeite que derramamos nos bichinhos. Com um pouco mais de azeite e flocos de alho eu refoguei os artrópodes numa caçarola. Quando já estavam cozidos coloquei uma meia garrafinha de leite de côco que estava perdida na geladeira. Deixei reduzir, chequei o sal do caldo. Aí cozinhei um pacote de rottele (aquele macarrão que parece uma roda de carroça), adicionei o molho de c...

Andando nas faixas

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O melhor ainda estava por vir e Daniel não sabia disso quando conheceu Roberta. Achava que poucas coisas iriam superar aquele primeiro encontro e todo o turbilhão de paixão que acontecera entre eles. Tudo muito intenso, tudo muito rápido. Achava que era a perfeição e que, a partir daquilo suas vidas seriam fundadas nas lembranças do primeiro encontro. É melhor que seja essa noite ela afirmou. Ele não entendeu bem o por que, mas não estava em posição de questionar nada naquele momento. Não poderia perder a oportunidade filosofando. Que as dúvidas existenciais ficassem para qualquer outra hora, menos aquela. Eu e a Sra Jones, foi o que ele imaginou - ela deve ser comprometida. Poderia ser a primeira e última vez que a veria. Poderia ser a única chance que Daniel desfrutaria de um amor tão intenso. A frase lhe martelava a cabeça : o amor que acontece uma vez na vida. Mergulhou com tudo. Sou o seu homem. Naquela hora e naquele momento ele tinha essa certeza. Ela também. Mais que isso, sem...

Torturando analogias

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Tema: Mais vale um pássaro na mão do que dois voando Variações: Mais vale uma sopa no fogo que o arroz queimando Se as patas estão no chão, não está galopando Gota a gota a moringa esvaziando Gostar de brega nem sempre é ouvir Wando Mais que três juntos, para mim é bando Não tem brilho nos olhos, não está amando Cantou a cotovia, depois o curiango Essa insanidade está acabando

Conticulóides a óleo

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Azul ultramar Durante anos trabalharam na mesma empresa quase sem se notar. Até que André teve de ir ao oftalmologista e descobriu ter um astigmatismo violento. No dia que começou a usar óculos, os olhos de Vera pareceram brilhar como nunca. Se apaixonou na hora e nunca mais tirou os óculos. Verde Hooker Jordão nunca se conformara com o fato de ter deixado Anita se casar com outro homem, mesmo sabendo que fora culpado do encontro dos dois. Desde então caminhava todos os dias pela rua onde moravam, na esperança de vê-la, sem saber que a entrada da garagem era pelos fundos do prédio. Branco de titânio. Karina era obrigada a ouvir todos os dias a patroa reclamando que a geladeira nunca estava limpa. Ela alegava que a próximidade ao fogão deixava a geladeira sempre engordurada, mas a patroa não aceitava a desculpa. Chamaram um técnico de manutenção para resolver o problema. O cara não apareceu o que obrigou Karina a pedir demissão. Gris de Payne Todos os dias Januário passava na cafeteria...

Lua cheia na Bourbon

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Em 1996 eu estive pela minha segunda vez em New Orleans, bem antes do Katrina, e a lua brilhava na Bourbon Os meus passos nada passam Meus desejos ultrapassam Gente caminhando na fumaça Atravessando o som. Enquanto isso a lua brilha na Bourbon Certos sonhos deveriam ser assim Olhares tristonhos veriam enfim As cores transparecendo através de instrumentos no mesmo tom Enquanto isso a lua brilha na Bourbon Assim se vão os sonhos Vão-se também os desejos Cores, música, fumaça Gente, instrumentos, olhares Tudo triste, tudo bom Enquanto isso a lua brilha na Bourbon New Orleans 27.10.96

Nala

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Quando eu a conheci foi paixão à primeira vista. Bonita, esguia, sedutora. Mas ela era muito reticente. Nos primeiros encontros ela me ignorava. Quando muito me lançava um olhar desconfiado. Mesmo assim eu sempre tentava seduzí-la. Ela me esnobava solenemente. Não me lembro exatamente quando foi que o gelo quebrou e ela se dignou a me dar um pouco de atenção. Não muita. Ela era econômica nos seus afetos. Enfim, deixei que ela me descobrisse. Ela, no seu tempo, foi me explorando e até permitia que eu a tocasse. O tempo passou, aos poucos nos tornamos mais próximos. Ela não se escondia mais quando eu chegava. Um dia me surpreendeu e sentou ao meu lado no sofá. Encostou a cabeça no meu colo e eu a acariciei longamente. Depois disso nunca mais deixamos de nos alegrar mutuamente. Me divertia com as suas aventuras. A vida acabou nos afastando, tinha cada vez menos chances de vê-la. Mesmo assim ela não se esquecia do meu amor. Há poucos dias soube que estava doente. Hoje soube que ela morreu ...

Sem rir, sem chorar

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Ele queria chorar. Mais do que querer, ele precisava chorar. Sentia as pálpebras cheias e coração apertado, prontos para explodir em prantos. Mas não podia. Não era por nenhuma educação machista, sempre achara uma besteira dizer que homem não chora. Não podia chorar para não revelar o motivo da sua tristeza, até porque fora ele mesmo que provocara a situação que agora o agoniava. No caminho do trabalho quase desmoronou, mas se conteve. Não podia chegar no escritório com os olhos vermelhos e marejados. Seus colegas perceberam algo diferente, acostumados que estavam com seu sorriso e o olhar brilhante, estranharam os olhos opacos e o semblante sério. Ele alegou que tivera uma noite mal dormida por causa do barulho de uma festa no vizinho. Durante o dia teve de correr várias vezes ao banheiro ao sentir que lágrimas insistiam em escapar. Quando encontrou o chefe disse que acreditava que uma gripe estava a caminho. Saiu para almoçar, comeu mal, nada lhe apetecia. O trabalho andou aos tranc...

Poemeto em L

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Levavas lírios legados lentamente Lutei loucamente lhe louvando louros Lasso lancei languidez lúcida Latentes lençóis Lábios lancinantes Labaredas loucas Lindos lamentos Lembranças langorosas Lascivas

Não existe

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Crianças tem amigos imaginários (algumas continuam a tê-los pelo resto de suas vidas), adultos costumam ter alter-egos. De uma certa forma, todos nós temos algum tipo de criatura oculta em algum lugar da mente. Mariana tinha um namorado imaginário. Não, não se tratava de um protótipo do príncipe encantado que muitas mulheres sonham encontrar, mesmo sabendo que não existem. O namorado de Mariana tinha nome, imagem, qualidades e defeitos. O que o diferenciava de todos os demais seres do sexo masculino era o fato de que ele não existia. Mariana conversava com ele, trocava confidencias, lhe enviava mensagens e recebia presentes (que ela mesma escolhia e pagava). Chegava mesmo a contar para as amigas a respeito dos encontros que mantinha com ele, com uma riqueza de detalhes que mesmo quem sabia da inexistência do namorado chegava a acreditar. Quando falava a respeito de Oto (esse era o seu nome), Mariana se emocionava. Ria das suas piadas, se encantava com o seu romantismo, admirava seu go...

Contículo eufemístico

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Expõe-me com quem deambulas e a tua idiossincrasia augurarei". Um senhor pegou o carro de Antenor sem lhe avisar e sem a intenção de devolver. Quando se deu conta que havia sido subtraído do seu mais prezado bem por um reles passador de cinco dedos, imediatamente desejou que o tal desembarcasse no porto de Lùcifer. Imaginou que se tratasse de alguém que vivesse de caridade pública, o que não impediu Antenor de se referir ao usurpador do alheio como um filho do mesgramado. Para tornar sua vida menos favorável, ainda teria de ouvir de Marieta que ele estava faltando com a verdade. Justo ele, um operário dos consertos elétricos seria alcunhado como alguém a quem as verdades esqueceram de acontecer. Por onde andariam os agentes da segurança pública no momento fatídico do ocorrido? Limpando o que fazem os cães? Não negava que a situação tornara-se menos clara. Sem propriedade, sem quem lhe queresse bem. Sem a certeza de um futuro melhor. Olhou para o céu e se imaginou como uma estrela...

Desomissão de amor

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Porque você nunca iria ler estas palavras é que eu as escrevi. Minha atitude covarde se transformou ao revelar meus sentimentos, exalo o amor e exprimo meu carinho que vai muito além das palavras. As palavras substituem as ações que meus temores evitam. Como demonstrar tentando não te machucar, a tensão e a intenção de te beijar ? Quando tua mão a minha aperta salta na garganta a palavra de amor. Dela me lembro quando a saudade aperta. O sonho recupera sua presença. Como no dia em que revelei o que não permitia que soubesse. E as palavras que me atrevi dizer já são parte de nossas vidas

Como diria Ibiapina

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Janúncio amoquecava umas tiras de xuri apocitadas quando notou traços de macega em sua mirabela. Sabia que isso poderia deixar seu prato com um sabor adípico e deletério. Imediatamente lançou mão do cintel e começou a sarjar seu cacico como quem usa o gorgaz no vergel. Entre asafias e aravias ergueu um libame elastério e tradou nitente a xaí. Enquanto esboroava a ave tal qual um parasselênio, caiu-lhe das mãos o natro clorificado e a malada, destruindo o lardo acepipe. O prato virou um olobó que nem Éaco toleraria. Uma vera anástrofe. Despejou tudo no aludel que atascou junto ao pé de pacová. Júlio de Matos Ibiapina Nasceu a 22 de setembro de 1890, em Aquiraz, Ceará. Seu pai foi chefe político de Aquiraz. Especializou-se em línguas na Europa. Foi Professor Catedrático de inglês e um dos fundadores da Academia Brasileira de Filologia.

Contículo Ex-tremista

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Para a Cristiana Soares que, há tempos, denunciava esse crime O sagüi inconseqüente subia com freqüência no salgueiro antiqüíssimo do aqüífero Anhangüera. Naquele ponto tinha uma visão grandiloqüente dos animais, especialmente eqüinos que viviam na contigüidade daquele agüeiro. Sabia que era inexeqüível fazer-lhes uma argüição. Sabia a conseqüência de um coice. Iria se ensangüentar, sem direito a enxágüe. acabaria por se desmilingüir. Certa manhã olhando com obliqüidade, notou uma delinqüência no pasto. Como era um ser eloqüente deliberou alcagüetar a ambigüidade eqüestre. Antes que míngüe minha eqüidade usarei minha lingüística junto ao ser consangüíneo que costuma ficar eqüidistante do eqüilátero. O alcagüete, que não era de amarrar cachorro com lingüiça, aproveitou a exigüidade de tempo e delatou a iniqüidade, dizendo : " -Enxagüei minhas patas com ungüento, não posso agüentar freqüente comportamento que não seja eqüitativo... Sobre o haras que deságüem as conseqüências !...

Hai Kais em sentidos

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Encontro marcado Sob intensas paisagens som de primavera Rubra face freme Entrada, vinho e café Sabor de verão Tão suavemente colo, beijo e cafuné Perfume outonal Teu olhar distante Na pintura de uma igreja Discurso de inverno Atentos mirando meu temor com seu tremor suave estação

...uma gota...

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Um dia, depois do almoço, Jorge resolver tomar um café no bar onde Sara trabalhava como barista. Logo ao entrar reparou num sujeito conhecido, sentado numa das mesinhas. Quando se tocou quem era, foi direto para o balcão. " - Sara, você sabe quem aquele cara de camisa azul na mesinha da esquerda ?" " - Um cliente que sempre aparece aqui..." " - Ele o Java Percolator, o mais temido crítico de cafés da cidade. Foi com ele que eu fiz aquele curso sobre cafés.." Sara travou. Percolator no seu bar? Tomando o seu café? Mal ouviu quando o garçom pediu mais um colombiano suave. Ficou tão nervosa que, ao abrir a embalagem do pó de café, cortou o dedo. Pior, não percebeu que, ao pegar a xícara, uma gota de sangue caíra lá dentro. Minutos depois viu o temível crítico caminhando em direção a ela. " - Eu devo ter tomado cafés feitos com esse pó algumas dezenas de vezes" disse ele, "e nunca nenhum tinha o sabor do que você me serviu. Estava perfeito....

Um amor de café

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Tudo começou quando Ana ligou para Sara para convidá-la para um churrasco em sua casa num sábado. " - Você não sabe, mas o Jorge agora está fazendo uns cursos sobre café e vai adorar conversar com você sobre o assunto..." Num primeiro momento Sara não achou a idéia muito boa, afinal, era barista e tudo que não gostaria nas suas folgas semanais era ficar conversando sobre o que, para ela, era trabalho. Sabia que isso era inevitável, sempre que alguém descobria a sua profissão o papo acabava indo nesse rumo. Além do que, Ana era amiga desde a infância e merecia o sacrifício. O que ela não imaginava é que Jorge, o eterno namorado de Ana (ninguém nunca soube porque não se casavam), iria continuar querendo conversar sobre o assunto depois do churrasco. Primeiro foi um e-mail em que ele pediu indicações sobre fazendas da alta mogiana, pois iria passar na região e queria aproveitar. Depois um telefonema pedindo uma indicação de livros. Não demorou muito ele começou a aparecer no ba...

Não é fácil suspirar

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Existem poucas receitas que sejam tão simples quanto a de suspiros. São apenas 3 ingredientes (clara de ovos, açúcar e limão). Ao mesmo tempo, é uma das receitas mais controversas a respeito da proporção dos ingredientes. Alguns defendem 1,5 clara para cada colher de açúcar, mas já vi até sugestões de 4 colheres de açúcar para cada clara. O uso do limão sempre deve ser comedido. O resultado do excesso ou escassez de cada um dos ingredientes pode provocar resultados muito variados. No caso do açúcar, se usado em excesso, provoca suspiros melados a pontos de serem pegajosos de tão piegas. Por outro lado, pouco açúcar deixa o suspiro sem graça, como aqueles que damos para os amores passados que tiverem pouco ou nenhum significado. Muita clara é garantia de um suspiro massudo e também maçudo . Tipicamente daqueles que são emitidos em situação de enfado e canseira. Mas não imagine que a falta de claras traz algum benefício, apenas deixa o suspiro inconsistente e aborrecido. O limão (se pos...

Um óbvio nada ululante

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Ficção é o termo usado para designar uma narrativa imaginária, irreal, ou referir obras de arte criadas a partir da imaginação. Alguns dos meus leitores enfrentam alguns problemas com esse conceito (ou não confiam mesmo na minha imaginação) e, acabam lendo entrelinhas onde elas não existem. Por isso hoje, resolvi ser um pouco mais explícito, a história é a seguinte: João (aqui deixando claro que escolhi um nome próprio ao acaso e que o dito João não é o alter-ego do autor) acordou (o sentido do verbo acordar, nesse contexto, é literal e não metafórico) naquela manhã (que poderia ser qualquer manhã comum de qualquer dia da semana, exceto 2a feira, por motivos que se verão mais adiante) com idéias (de uma forma mais ou menos elaborada, todas as pessoas pensam) estranhas (notem que o fato da idéia ser estranha, não carrega nenhum viés pejorativo, apenas que eram ideias incomuns aos seus pensamentos habituais). Não sabia (usei de forma intencional como advérbio de negação apenas pa...

Paranoia blues

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Josefina descia a ladeira todos os dias pensando. Por que será que Clarimundo a olhava daquele jeito? Seria amor? Seria desprezo? Seria ironia? No começo ela ainda olhava para trás e percebia que, do alto da guarita do prédio ele a observava até que ela chegasse no final da rampa e entrasse na avenida. Depois, nem precisava mais olhar, tinha certeza que ele a mirava na descida. Se eu ainda estivesse numa subida, imaginava, ele estaria olhando as minhas pernas. Mas na descida? De costas? O pior é que a rua não tinha saída para nenhum outro lado. Um dia ela encontrou uma loja que pintava camisetas na hora e mandou fazer uma com letras garrafais dizendo : "tá olhando o que?" Ele não esboçou nenhuma reação, nenhum comentário. Aliás, apenas lhe dava boa tarde quando partia. Um dia, a patroa pediu que descesse até a portaria para pegar uma encomenda que chegara. Ela desceu e, pela porta de trás da guarita, pediu o pacote. Ele nem se virou para olhá-la e pediu que ela viesse até a ...

Poemétrico

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Vinhas inocente, rindo graciosa, irrompendo na imaginação aguardada. Somente um sincero amor nos aninharia Assim nada anteciparia soluções usadas suavemente Apenas idéias nuas, irresponsáveis gritos, rondariam invisíveis votos. Veredas indicando rastros gastos iluminados nesse anoitecer Seremos únicos, sentiremos amanhã, noturnos apaixonados.

A execrável antologia de Fevereiro

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O truque aqui é o seguinte : leia os comentários abaixo (todos publicados nesse blog durante o mês de fevereiro) e, sem tentar voltar aos posts originais, imagine o que foi que aconteceu. Pode rir sozinho...é permitido: Eles arrasaram com o Merlot e vc com o filme. São peixes tuberculosos. Adorei, mas fiquei em dúvida quanto à minha sexualidade... :-) De boas analogias sempre se tira um bom papo. Vai ser verborrágico assim lá na China E mamãe que apostava tanto nele... Mas minha irmã deu o nome de Riquelme ao gato. Pode? ...será que a Globo.com bloqueou meu blog porque teve um "surto psicótico? ...toda biblioteca sanitaria que se preze, deve ter um exemplar destes! O que você tem contra as alcachofras? Ouvi dizer que o caso foi parar na delegacia ;) Daqui a pouco você vai dar uma receita de dobradinha com berinjela! Quem sabe se a tal da cadeira do Afranio nao se encontra em casa sua... ...serei perseguida por comer tanta melancia, será? Confesso que admiro a sua persistência... S...

Contículo invertido

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Sim dissera no dia que ele a conhecera, juras eram feitas, perfeitamente as ouviu. Da sua vida, em seguida, desapareceu, negar não podia que o acontecimento mal percebera. Um no outro tropeçaram algures, sem que isso relevante fosse. Amor à primeira vista não poderia se chamar o novel sentimento, mesmo se outros ângulos alegassem. Monocromáticas vidas outra paleta de cores descobriram. Tons menores em brilhantes acordes soavam. Dos temores passados a noção perderam, de sorrisos as almas inundaram. Foi como se o mundo todo, em um momento, tivesse se invertido. Inversão : consiste na mudança da ordem natural dos termos na frase.

Envolto em brumas

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Lázaro trabalhava há mais de 20 anos na mesma empresa, a Nolava Empreendimentos. Sempre subordinado ao mesmo chefe. O chefe foi subindo, ele junto. Até que o chefe chegou à presidência ao conseguir desatar um nó estratégico que impedia a corporação de se expandir. Nem todos os colegas gostavam dele. Cunharam-lhe o apelido de Lazarote, brincavam que era o fiel escudeiro do rei. Sempre mantivera com o seu superior uma relação de amizade distante. Bons amigos no trabalho, nenhuma relação fora dele. Lazarote conhecia vagamente a mulher e os filhos do presidente, que vira em uma ou outra festa familiar da empresa. Até que, num sábado à tarde, fazendo suas compras de supermercado da semana, encontrou Ginevrina, a mulher do chefe, junto à prateleira de legumes. Reconheceu-a e cumprimentou-a. Ela olhou de forma inquisitiva e ele lembrou a ela quem ele era. Nesse momento ele percebeu lágrimas nos seus olhos claros. Questionou se estava tudo bem e ela começou a chorar. Deixou seu carrinho de la...

Traiçoeiramente

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A vida é cheia de descobertas. Uma das mais recentes foi Paul Geraldy. Apesar desse senhor ter nascido em 1885, ele só me foi apresentado recentemente. Mesmo sem ter intimidade, já saí traindo o cara.... Você e eu Não é no justo momento Que partes que me deixas. Largue-me minha pequena, Já é tarde, salve-se depressa ! Mais que tuas visitas Amos suas continuações. Tu me és mais presente, ausente. Quando falas. Eu te vejo. Mais errante. Mais amante. Inconstante, estonteante Me habitando e me encantando Não preciso mais de ti. Agora pálida, irreal confusa, hesitante, infiel Dissolve-te no tempo. Fugidia e rebelde, Me escapas, eu te te chamo Sinto tua falta e espero. Se sua ética não aceita esse tipo de traição, abaixo vai o texto original Toi e Moi Ce n'est pas dans le moment où tu pars que tu me quittes. Laisse-moi, va, ma petite, il est tard, sauve-toi vite! Plus encor que tes visites j'aime leurs prolongements. Tu m'es plus présente, absente. Tu me parles. Je te vois. Moin...