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Mostrando postagens de maio, 2010

Papo de doido

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Dona Tida era uma senhora já de idade provecta mas ainda detentora de toda sua capacidade mental. Mantinha, em especial o seu comportamento extremamente conservador. Não foi por menos que naquele sábado de manhã quase teve um peripaque. Sentada, tomando o seu café na doceria, ela não teve como não ouvir o papo do casal da mesa ao lado. " - Querida, aquele nosso sanduíche não está funcionando...' " - Eu sei amor, depois que me esfrego em você não estou entendo sua condução para o oito atrás..." Dona Tida já estava corada, mas eles continuaram... " - Claro que não, até porque é o oito a frente, além disso não está me enganchando direito e eu sou obrigado a te induzir a uma castigada." " - Mas, meu bem, se eu enganchar por dentro, você vai atrás ou na frente?" " - Você precisa ficar totalmente esticada com o peso em mim e só pode se mexer ao meu comando." " - Está bem amor, eu entendi, tem de ser com o quadril e não com a perna..."

Sem rejuntes

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Estava indo tudo bem nas compras do piso da nova cozinha até o momento em que o vendedor perguntou de que cor deveria ser o rejunte. Ele olhou para ela com uma grande interrogação na testa. Claro que sabia o que era rejunte, mas nunca imaginou que uma simples argamassa pudesse ter variedade de cores. Ela se esforçou para não rir dele na frente do vendedor. Ele era um homem muito culto e informado, mas tão ignorante sobre esse temas... O vendedor trouxe o mostruário e entregou na mão dele. Ele olhou por dois segundos e meio e repassou para ela, o que ela escolhesse estava mais que ótimo. Com o seu humor habitual ele brincou com ela dizendo que eles não precisavam de rejunte... Ela não perdeu a chance de retrucar que adorava uma rejuntada. O vendedor os olhava com cara de quem não entendera nada. E não tinha entendido mesmo. No caminho de volta ele não tirou a história do rejunte da cabeça, não porque não gostasse das rejuntadas dela, mas não concordava com o fato de terem rejuntes e não

Para sempre

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Deixe te levar Para o meu lugar Campos de lavanda Tudo é real Esperar faz mal Campos de lavanda para sempre Viver é fácil com olhos brilhantes Tudo que se sente se vê Nada difícil ser alguém Tudo funciona muito bem Isso é que importa para mim Viver é fácil com sorriso aberto E eu pensei que fosse só um sonho Penseí, é claro, descobri a verdade Tudo tão bom tudo tão certo Não ouso sequer discordar Deixe te levar Para o meu lugar Campos de lavanda Tudo é real Esperar faz mal Campos de lavanda para sempre Campos de lavanda para sempre Campos de lavanda para sempre

Paixão autrófica

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Jean sempre percebeu que Valéria lhe fazia bem. E não era apenas uma questão de retórica ou de pieguismo romântico, a namorada fazia com que ele se sentisse fisicamente melhor quando estava perto dela. Valéria ficava sem jeito quando ele dizia isso, especialmente na frente dos amigos que sempre davam sorrisos irônicos ou faziam piadas maliciosas. Ela morria de vergonha. A sensação de paz e de bem estar de Jean era tão marcante que, mesmo contrariando a namorada, ele nunca deixou de tocar no assunto. Chegou mesmo a perguntar para o seu médico se existia algum caso similar relatado nas pesquisas científicas. O médico riu e disse que o mal era da idade e para tal menino não existia nenhuma explicação em toda medicina. Jean não desistiu de tentar descobrir qual era o segredo de Valéria, por mais absurdo que todos os achassem. Um dia estava vendo um documentário na televisão quando, de um salto, bradou: "Eureka, eureka, eu achei..." Saiu em desabalada corrida em direção à casa de

Trilha sonora

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Todas as semanas Roberto dava uma passada pela loja de CD´s que ficava a meio quarteirão do seu trabalho. Algumas vezes comprava, outras não. Acabou ficando amigo de Geraldo, o dono da loja que o atendia pessoalmente. Geraldo se gabava de conhecer o gosto musical de todos os seus clientes. E estava certo. Raras foram as vezes que indicou algo para algum deles sem sucesso. Não era diferente com Roberto que, através de do lojista conheceu coisas que, sozinho não teria se arriscado a comprar. Richard Galliano, Tiziano Ferro, Jovanotti, Victor Ramil e Jessica Molaskey foram apenas algumas de suas agradáveis descobertas. Por mais que seu gosto fosse eclético, Geraldo acertava sempre. Luciana era apaixonada pelo concerto para violino de Mendelssohn. Também gostava de outras coisas, mas o velho Felix era a paixão da sua vida por motivos que nem ela sabia explicar direito o por que. O andante a emocionava quantas vezes o ouvisse. Também era cliente de Geraldo que a abastecia não só de versões

O amante da geometria

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A transversalidade é um tema que recorrente nos colóquios de Plutão. O sábio da Acaia costumava se debruçar sobre a geometria de forma contundente e, na maioria das vezes, ela não reclamava. Sua incursões costumavam ser analíticas, ainda que a preferência da geometria fosse projetiva. Quando isolado do mundo e do seu campo de estudos, ele tinha atividades meramente descritivas. Sua geometria se considerava esférica, um modelo simplificado e herdado da geometria elíptica, esta sim, muito mais sofisticada e elegante. Sua relação com a matéria tornou-se gradativamente hiperbólica e sem paralelos na história da matemática moderna. Chegando a um ponto dado com um número infinito de ultra-paralelas. Amante da geometria, ela era música para os seus ouvidos , Platínico a tocava em espirais ascendentes que a conduzia muito além das cúpulas ensolaradas de Oviedo A sonoridade geométrica era fora do comum, projetando-se no tempo e no espaço, de forma grave e cônica, como soem ser as elipses transv

A mulher que enlouquecia os homens

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Desde muito jovem ela era uma mulher linda e doce. Não era de surpreender que os rapazes se desmanchavam todos por ela. Por excesso de modéstia, ela nunca acreditou que tivesse todo esse poder, pelo contrário, ainda que se achasse bonita, se via com um monte de limitações estéticas. Limitações que só ela enxergava, o que todos os demais viam era uma mulher deslumbrante, não só por sua aparência física mas também pelo bom gosto para se vestir. Era a própria definição da mulher perfeita. Além de bonita, era inteligente, estudiosa, dedicada ao que fazia, compreensiva e gentil, muito gentil. Teve namorados.Todos perdidamente apaixonados por ela. Por um motivo ou por outro nenhum namoro durava mais que algumas semanas. Os homens que namorava ou se revelavam muito diferentes do que ela esperava ou não conseguiam retribuir tantas virtudes. Abandonados, entravam, no mínimo, em depressão. Os mais fortes conseguiram se recuperar apenas com medicamentos, dois deles tiveram de ser internados em ma

A fruta verde do vovô

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Bruno ouviu a batida na porta que se abriu trazendo seu neto mais velho para dentro da sala. " - Boa noite vô, tudo bem?" " - Boa noite filho, tudo tranquilo." " - Vô, minha mãe me recomendou vir conversar com você sobre um assunto." " - Senta aí, vamos conversar. Me diga o que você precisa." " - É o seguinte vô, você lembra da Patativa ?" " - Claro neto, sua namorada com nome de passarinho..." " - Então, a gente está pensando em casar." " - Muito bom menino, vocês estão apaixonados mesmo, não é?" " - A gente se gosta vô , dá bastante risada juntos..." " - Mas estão apaixonados..." " - A gente se ama muito vô..." " - Luís, me diga uma coisa, vocês estão apaixonados ou não?" " - Apaixonado apaixonado não vô , a gente já namora há 5 anos, a fase da paixão já passou..." " - Então não casem, meu filho..." " - Como assim vô? " " - Simples

Outro milésimo

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Não faz tanto tempo assim eu comemorei por aqui a minha milésima postagem nos blogs . Hoje comemoro mais um milênio, ou será milhar, ou será milenar? Desde o dia 24 de Agosto de 2007 até hoje se passaram mil dias onde, tirando as minhas férias, eu publiquei algo todos os dias. Em alguns dias, mais do que uma vez, tanto que já foram 1142 textos publicados. Muitas pessoas me perguntam de onde tiro as idéias para tantas histórias. A resposta é simples: as histórias estão em todos os lugares, basta prestar atenção no que ocorre à nossa volta. A todos que me leram nesses 1000 dias. eu agradeço. A todos que me deram as idéias peço que continuem a me inspirar. Que venham os próximos 1000

Bailarina

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Vanilina numa esquina Cafeína e sacarina Sempre toda adrenalina Bailarina Seja tela ou cartolina Azul ou vermelho-da-china O mundo se descortina Bailarina Suporte de parafina Pierrot e Colombina Passos com disciplina Bailarina Gelatina e tangerina Vitamina e proteína Em busca de uma terrina Bailarina Um amor de purpurina Brilha na minha retina Conspiração e sina Bailarina

Desabaulado

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O abaulamento é um fenômeno de inestabilidade elástica mesmo quando acontece em estruturas de borracha. Costuma afetar elementos estruturais bidimensionais, tridimensionais e emocionais. Geralmente acontecem quando algo é submetido a tensão de compressão sobre o seu plano ou superfície média Eu nunca entendi direito o que flambagem e abaulamento têm entre si mas, de acordo com os estudos do operador laplaciano se o cognac for vagabundo a tensão se prolifera pelo eixo de L3. Se a compressão ocorrer sobre a cauda equinal, existe um risco do bicho dar coices muito doloridos que se irradiam por uma das pernas. Em alguns casos, o abaulamento também atende pelo nome de protusão, o que geralmente, é motivo de confusão ciatálgica. A fórmula acima representa a capacidade máxima de um corpo resistir à compressão antes de defletirem. A equação também pode ser usada para analisar abaulamentos sentimentais, nesse caso, o tempo de flambagem é o fator crítico para se manter a rigidez necessária. Como

...es un tango

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Ele entrou no salão e a viu sentada do lado oposto. Caminhou pela pista em meio a casais que dançavam animadamente. Com os olhos fixos nela, foi se desviando de cada um deles até chegar à sua frente. Ela o olhou com espanto. Não o esperava, muito menos naquele lugar. Imaginou que ele fosse chamá-la para ir para outro lugar. Ele nunca soubera dançar. Ela já preparava uma recusa para a suposta proposta, quando a orquestra passou a tocar um tango. Ele olhou nos seus olhos e, sem nada dizer, lhe estendeu a mão e a trouxe para perto de si. Ela não entendeu nada quando ele começou a conduzí-la com uma pegada inimaginável. Caminhadas, oitos, ganchos, sacadas, voleios e torções. Parecia que ele tinha nascido dançando tango. Os olhos dela brilhavam de felicidade, os dele de paixão e desejo. Ele a amava bailando nos seus sonhos. A amava bailando nos seus braços. A amaria para sempre no salão de baile da sua vida.

Brilho eterno

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Petra era uma mulher sensível e delicada. Casou-se cedo com Gustavo e durante anos conviveu com suas idiossincrasias e suas indelicadezas. A pior delas era o que Gustavo teimava em fazer com a vela de Petra. Todas as noites ela acendia uma vela num castiçal de cristal que ganhara de sua mãe quando casara. Era o símbolo da chama do amor, eternamente acesa. No começo Gustavo até lidou bem com aquele hábito. Não demorou muito, porém, ele passou a apagar a vela todas as noites antes de dormir, sem que Petra visse. Na primeira manhã que encontrou a vela apagada, Petra acreditou que tivesse sido alguma corrente de ar. Na segunda manhã ela estranhou e, quando acendeu a vela mais tarde, certificou-se de que tudo estava fechado. A vela continuou a aparecer apagada de manhã. Perguntou sobre o assunto para Gustavo e ele começou a se justificar a respeito de apagar a vela. Petra ficou arrasada. Chorou muito. Mas não desistiu. Com o tempo ela foi perdendo o ânimo e não acendia a vela com a mesma fr

Além do céu

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Subiram no balão. Prontos para uma experiência inédita e única. Muitas vezes tinham visto cenas de balonismo na televisão mas, a partir de agora, teriam de navegar e voar sozinhos. Não lhes faltava nada. O cesto abastecido. O reservatório de gás repleto de energia e a chama acesa no volume máximo O balão saiu do chão, poucos metros. O vento o empurrava em direção à floresta, precisam subir antes que chegassem às árvores. Lembraram dos sacos de areia. Começaram a pegar, um a um, e a desamarrá-los do balão. Subiram um pouco, depois um pouco mais, o suficiente para ficar acima das copas das árvores. À distância avistaram as montanhas. Se não subissem mais corriam o risco de um acidente. Ele olhou para o chão e viu um enorme saco de areia. Não conseguia tirá-lo sozinho. Ela o acudiu e, juntos, despejaram o peso para fora do cesto. O balão subiu incrivelmente, mas não ainda o suficiente para atravessarem a cordilheira. Os pequenos sacos de contrapeso pareciam brotar no chão. Ele aumentou a

Cerimônia do chá

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Quando Mariana convidou Alberto para um chá ele abaixou a cabeça e as lágrimas começaram a correr pelos seus olhos. Ela sabia que ele era um coração de manteiga, mesmo assim não entendeu a sua reação, até porque não era a primeira vez que tomavam chá juntos. Ele fez um sinal com a mão pedindo que ela esperasse um pouco. Levantou-se sem dizer nada e entrou na cozinha. Voltou alguns minutos depois com duas xícaras fumegantes sobre uma bandeja. Serviu-a e sentou novamente ao seu lado. Aspiraram o perfume suave do "Príncipe de Gales" , ele levantou sua xícara, como se brindasse e tomou um gole. Ela o acompanhou. Ele olhou para ela e começou a falar. Durante toda a sua vida nunca tinha tido alguém que realmente se preocupasse com ele. Ele sempre fora o lado forte de todas as suas relações, quando não era, fingia ser. Anos de solidão, anos de solidão. Depois que ela entrara na sua vida ele começou a descobrir o que era reciprocidade. Convidar e ser convidado, cuidar e ser cuidado,

Paixão Esfigmomanométrica

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Sempre que ela a encontrava ficava sialogogo, ela rubefaciente. Ela lhe era hematopoética, ele lhe era midriático. Eram sempre assim seus encontros, aquela sensação surfatante que dava motilidade ao amor e, ao mesmo tempo os tornavam antidiscinéticos. Sua cardiotonicidade aumentara significativamente quando a conhecera, ela não conseguia mais disfarçar sua ciclopegia. O jeito demulcente com que a tratava elevava a diaforese mútua e a paixão efervescia e flavorizava os lábios. Nada que fizessem era excipiente ou placebo. Tudo induzia a taquicardias sistêmicas e não raras dispnéias suspirantes. Viviam de maneira quelante em largo espectro. Ele a acariciava de forma tópica, um efeito ansiolítico sem contra indicações. Mesmo quando se desentendiam os efeitos eram anecóicos e se depuravam rapidamente. Nunca tiveram intercorrências mais sérias. Nunca caustificaram o companheirismo. Transfusionaram-se numa vida de total compatibilidade

Um travesseiro

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Chegaram ao hotel cansados da viagem, loucos para tomar um banho, jantar e dormir. Inspecionaram o quarto, como lhes era de hábito, resolveram quem tomaria banho primeiro, se vestiram e foram para o restaurante. Não demoraram muito e voltaram. Quando ela puxou a colcha uma surpresa, a cama tinha um longo travesseiro único. Se entreolharam. Ela dormia de lado, ele de bruços. Como é que iriam resolver a questão? Pensaram em pedir outro travesseiro na recepção mas concluíram que dois travesseiros daquele tamanho acabariam gerando mais confusão. Resolveram fazer uma tentativa, cavalheiro, ele tentou dormir de lado também. Não conseguiu. Deitou de barriga para cima e ficou olhando o teto. Ela percebeu e se aninhou no seu colo. Ele a acariciou e a sentiu ressonando. A amava demais para tirá-la dali, mesmo que passasse a noite em claro não se incomodaria. Ela o abraçou e se enroscou ainda mais nele. Ele se virou para o lado dela, encostou sua cabeça no seu ombro, e a beijou. Acordaram entrela

Coruja technicolor

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Corujas brancas corujam tintas encorujadas nos seus ninhos. Todas as manhãs que vivo, sem me esconder pelas ruas, me encantam Todas giram giram, todas debaixo da lua de cristal incandescente A coruja que me olha revive a sensação da vida projetada em mim Eu a conheço de antes de antes de antes Nunca me fui, nunca me vou, jamais me irei Sua voz me segue piando, cantando Seus olhos farol como a luz do trem para um destino certo Suas marcas em minha pele tingem meus sonhos reais Corujas brancas corujam tintas encorujadas nos seus ninhos.

Alices maravilhosas

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Alice não é uma história para qualquer um, como, por sinal, não costumam ser as Alices que eu conheci. Nem toda Alice que eu conheço atende pelo nome de Alice. São seres irriquietos e vívidos transitando em mundos que alternam sonhos e poesia Como Alice, a personagem, também têm seus medos e inseguranças, mas não se deixam vencer por eles. No seus caminhos já encontraram gatos invisíveis, chapeleiros malucos e rainhas insanas. Convivem todos os dias com cenas cômicas e surrealistas. Questionam tudo, duvidam de tudo, analisam tudo. O que não lhes dá garantia de estarem no melhor caminho, mas não se envergonham de perguntar a direção. No Glorian Day elas acabam com o dragão, se livram da tirana e seus asseclas. E reconstroem suas histórias em direção à liberdade.

Altaminaro que o diga

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Godofredo armava outro desar brandindo o pestilo banhado de cauim. Ronronava um aboio entre as aldrabas e defenestrava verrumas. Depois da ceata que tivera ficou pernóstico e nem ligava para a atocia da mulher. Se precisasse dava uma escapa aninda que isso prejudicasse sua cistocele. De aziúme, fez uma bodocada sobre Abelardo que, mais mucudo que Godofredo, aplicou-lhe um piparote Obturado pela desfeita lancetou seu êmulo a ponto de deixá-lo álalo. Foi necessária a intervenção da marani féerica para cernir a inana. Tudo foi descrito em predelas que se encontram no museu de Abidos. Altaminaro Nunes Pereira foi fundador da Academia Brasileira de Filologia

Fábula entomogastronômica

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Elas chegaram na janela da cozinha e ficaram observando o movimento. Crianças correndo, mãe gritando, empregada descascando tomates para o molho do macarrão. O perfume do tomate fresco e do manjericão até chegou a atraí-las, mas o barulho as assustou. Pousaram perto do vidro. Quem sabe uma hora todos saíssem e elas pudessem entrar e aproveitar melhor o perfume dos ingredientes. As crianças foram para o quarto, a mãe atrás delas, só tinham de esperar que a empregada se distraísse. Quando a água começou a ferver ela saiu em direção à dispensa. As duas borboletas rapidamente entraram. Uma foi direto para o tomate picado, a outra se deliciava com as folhas do tempero fresco. Não demorou muito e a empregada voltou com um pacote de macarrão. As duas olharam para o pacote, se olharam e sairam em disparada. Nunca mais chegariam perto daquela casa habitada por canibais.

Uma mulher protusa

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Hérnia era uma mulher protusa, se imiscuia em todos os assuntos que não lhe diziam respeito. Não se preocupava se fazia isso de forma natural ou se adquiria meios para invadir todas as cavidades que lhe eram visíveis. Geralmente ela aparecia quando alguém estava sobrecarregado, dava uma tossida como quem não quer nada e queria saber qual era a dor de barriga da pessoa. Era justamente no momento em as pessoas estavam desestruturadas que ela manifestava sua índole melíflua. E deixava as pessoas completamente aponeuróticas. Dependendo da encrenca que passava o circunstante que ela atacava, a reação podia variar de um simples desconforto a uma dor intensa. Dentre os seus hábitos desagradáveis ela dava um jeito de se tornar o mais visível que pudesse e trancava a circulação de qualquer outra pessoa no assunto. Até o dia em que quis intervir na vida de um sujeito violento. Hérnia foi estrangulada, sem sangue e oxigênio teve uma isquemia e necrosou-se rapidamente. Seus restos mortais foram en

Só por você

Minha petulância continua, dessa vez traindo um dos maiores letristas do cancioneiro americano Oscar Hammerstein II Para ouvir a música: clique aqui Só por você Só por você música no coração Só por você gênese da paixão Só por você o sol não para de brilhar Só por ser minha, lua e estrelas a fulgurar Para sempre a mesma emoção Só vivo por seu beijo e seu amar É como no paraíso morar Só por você a vida vale a pena Você, meu sorriso, minha pequena Because of you Because of you there's a song in my heart because of you my romance had its start Because of you the sun will shine the moon and stars will say you're mine Forever and never to part I only live for your love and your kiss it's paradise to be near you like this Because of you my life is now worthwhile and I can smile because of you

Carinho essencial

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Vi-a de longe. Sabia muito bem o que era, apesar de ver apenas um vulto negro com dois grandes olhos amarelos olhando na minha direção. Parei onde estava e fiquei esperando que algo acontecesse. Nenhum movimento. Apenas os olhos que, de tempos em tempos, piscavam. Era um olhar intenso, sedutor e, ao mesmo tempo, assustador. Dei um passo adiante e ela, de forma assustadiça se moveu, como se esperasse qual seria a minha atitude para definir sua próxima ação. Sentei no chão e fiquei, em meio à escuridão, esperando que ela tomasse alguma atitude. Ela esperou mais um pouco e, depois de alguns minutos de silêncio, moveu seu corpo esguio, cheio de curvas. Me olhou com um jeito superior querendo ressaltar sua independência. Sua elegância caminhando na minha direção era emocionante. Sem que eu fizesse nada, ela se aconchegou no meu colo esperando um carinho que sabia estava guardado só para ela. Cochilamos juntos. Enroscados um no outro, sonhamos céus e oceanos.

A acoimável antologia de Abril

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O mês teve menos textos, mas não menos comentários. Só o " Assédio automobilístico " não emocionou nenhum dos meus comentaristas. Lembre de ler os comentários sem voltar aos textos originais, vai se divertir mais usando a sua imaginação: Um mosquito dançou tango... Um mosqueteiro do século 20 querendo dançar tango com uma raposa que, por ser louca, tinha uma espada. Estou aqui embolando de rir Fêmeas costumam ser sábias... as suas bolotas de esterco,,, Essa eu jurei que você tinha inventado. Camilo,Camilo,como entender matemática,afogando-se no verde dos seus olhos bem que ela podia ter batido na porta... honra em dobro ao acompanhar tão belo poema.. pensando que me bastava o meu indispensavel guarda chuva E beijo na chuva é o que há!!! esqueceu de mencionar que ela era vascaína e levava isso a sério. Quantos sapatos você tem? ...podia até andar descalça... Na França, ninguém conhece a região da Gironda. Se paga o preço, quer dizer, o dentista. Você bebeu leite estragado? Voc

Aforismos inconsequentes

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A beleza não está só na alegria, nem a feiúra é atributo exclusivo da tristeza A falta de reação, muitas vezes, é aterrorizante Carinho, mesmo atrasado, sempre chega na hora certa Juízo nunca é de menos Parar de sonhar atrofia a alma Quem trata os sintomas não cura as causas Algumas coisas nunca mudam. Ainda bem Otimismo crônico pode provocar algumas dores agudas. Amor não se explica, sente-se e pratica-se

Sobre a caixa

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A coruja sobre a caixa observa René com sua paleta de tintas. A coruja sobre a caixa admira a posição em que ele se senta para pintar A coruja sobre a caixa capta cada movimento que faz seu professor A coruja sobre a caixa se emociona a cada traço que ele riscar A coruja sobre a caixa guardará essa imagem na retina e na memória A coruja sobre a caixa aprenderá as técnicas acadêmicas A coruja sobre a caixa reproduzirá os cavalos de René A coruja sobre a caixa subverterá os traços e esculpírá as tintas. A coruja sobre a caixa parece empalhada, mas está bem viva A coruja sobre a caixa é Henri A coruja sobre a caixa sou eu. Quadro: "Princeteau no seu estúdio" de Toulouse Lautrec