A presença ausente

Na primeira vez que eu ouvi o nome eu também achei que era brincadeira. Não era. Minha amiga não só garantiu que o lugar existia como disse que vai para lá com freqüência - o que faz com que a população de sua cidade sinta a sua ausência (cá estou eu anfibológico de novo)

Nos Campos em Cima da Serra fica a cidade de São José dos Ausentes. Embaixo da serra, dizem, estão todos presentes.

A história conta que a Fazenda dos Ausentes foi o maior latifúndio do Rio Grande do Sul, com uma área de mais de mil km². Seus primeiros donos, ainda no século 18, não assumiram as terras, que acabaram leiloadas duas vezes pela ausência de proprietários ou de sucessores - não por acaso, esse pedaço de Campos de Cima da Serra foi batizado de Ausentes.

Hoje, o município de 3.100 habitantes vive da pecuária extensiva, do cultivo de batata e maçã, do florestamento/reflorestamento e do turismo rural. (saiba mais aqui)

Se você clicar no link acima vai ver fotos maravilhosas da região, mesmo assim ainda tenho uma série de dúvidas insanas :

Quem nasce em Ausentes (como é popularmente chamada) é o que ?

O brasão da cidade é o símbolo de conjunto vazio ?

Onde se escondem os 3 mil e poucos moradores que nunca estão presentes ?

Será que conseguem quórum em dia de eleições ou a ausência já é um padrão que nem precisa se justificar no cartório eleitoral (mesmo porque nunca deve ter ninguém trabalhando por lá)

Quando a professora faz chamada, responder "presente" é uma negação ontológica ?

Se Hamlet tivesse nascido lá, mudaria o famoso solilóquio para "estar ou não estar, essa é a questão..." ?

Dar presente de aniversário é uma gafe ?

Quando nasce um bebê, a população aumenta ou diminui ? Afinal, surgiu mais um ausente...

De que forma se correlaciona a cidade com a existência de buracos negros ?

Se uma árvore cai na floresta dos Ausentes, ela fez barulho?

As pousadas da região tem direito a cobrar "no-show" dos seus hóspedes ?

Já que nem só de filosofia vive esse blog, encerro com um poema de Rabindranath Tagore, que dedico, ausentemente à minha musa.

À musa ausente

"De tanto vigiar, meus olhos acabaram perdendo o sono. Contudo, mesmo que não te encontre, é doce ficar vigiando.

Meu coração se assenta na sombra das chuvas, esperando teu amor. Todavia, mesmo que ele se frustre, é doce ficar esperando.

Eles vão embora, cada um por seu diferente caminho, e me deixam para trás. Porém, mesmo que eu esteja sozinho, é doce ficar à escuta, esperando por teus passos.

A face nostálgica da terra tece as névoas de seu outono e desperta a saudade em meu coração. E, embora seja inútil, mesmo assim é doce para mim sentir a dor da saudade."

Comentários

Anônimo disse…
Tá tão doce hoje... seria a presença dos ausentes, ou a ausência dos presentes?

Um beijo
Bel disse…
hahahahah
Pensei que fosse um post passional...

Vou querer visitar S. José dos Ausentes, e levar sua listinha de perguntas. Prometo trazer a resposta de todas elas (se algum ausente me responder!)

Bjo!
ZéMoa disse…
Dentro de si mesmo, mesmo que lá fora. Fora de si mesmo, mesmo que distante. E assim por diante de si mesmo ad infinitum. Tudo de si mesmo,
mesmo que pra nada. Nada pra si mesmo
mesmo porque tudo, sempre acaba sendo
o que era de se esperar.
Tão longe, tão perto. Atendi o seu chamado e quando cheguei, cadê você?
Citando Adoniran, você podia ao menos ter punhado um recado na porta: dizendo assim: fui.
Unknown disse…
Gostei de saber que agora meus ausentes tem endereço certo, mas como diria Malmal, a ausência nem é triste, é lembrança de quem faz falta.O meu?, ausente, porem presente.


Bom dia, andei ausente
bijok
Anônimo disse…
Todas as musas te agradecem.

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Mais ditados impopulares