A festa da sogra


Na semana passada foi aniversário da sogra. Como bom genro (que inclusive a cumprimenta sempre no dia da sogra que, caso você não saiba é 28 de abril, mesmo dia em que, em 1768, uma provisão régia reiterou a obrigatoriedade do plantio de mandioca nas fazendas do Brasil - o que exatamente uma coisa tem a ver com a outra eu não faço a menor idéia) resolvi oferecer-lhe o almoço, convidando também meu cunhado e os tios (irmãos dela). Juntando todo mundo éramos 16 pessoas.

A definição do cardápio foi complexa. Não porque ela seja muito exigente, mas porque precisava evitar qualquer prato que desse alguma conotação jocosa. Galinha não faria jus à sua seriedade. Salada de pepino, nem pensar, tão pouco molhos adocicados à base de abacaxi ou banana. Meu famoso molho "alla putanesca" estava completamente fora de cogitação. Mas não escapei da abobrinha.

Comecei servindo canapés. Torradinhas com fatias de salame de avestruz (de verdade, você encontra no Pão de Açúcar e é muito saboroso) cobertas com catupiry derretido. Como entrada também foi servida uma casquinha de siri trazida pelo meu cunhado.

As carnes foram um carré de porco e uma picanha, acompanhadas de legumes cozidos, arroz branco e farofa (uma hora eu escrevo um texto específico sobre as minhas farofas).

O porco é bastante fácil de fazer, usei uma peça de carré de cerca de um quilo e meio. Raspe a casca de um limão siciliano (aquele amarelo - não use o limão tahiti que é ácido demais) e misture em uma xícara de azeite, acrescente uma colher de sopa de erva doce. Tempere a carne com sal e pimenta de reino a gosto e depois regue com o azeite misturado e flocos de alho. Deixe descansando de um dia para o outro. No dia seguinte é só assar. O ponto é simples de determinar (também serve para lombo) - quando você espetar a carne com um garfo e não sair sangue está pronta.

Já a picanha é bastante complexa. Se você não gosta de pratos trabalhosos pule direto para os legumes cozidos abaixo. Tempere a carne com sal e pimenta do reino. Doure a peça inteira em fogo alto. Quanto estiver bem tostada por fora, adicione água aos poucos e cozinhe por cerca de 40 minutos. Guarde o caldo da carne. Em outra panela ferva uma xícara de vinho do porto com cenoura, salsão e cebola picados, deixe reduzir pela metade. Acrescente duas xícaras do caldo da carne (eu avisei para guardar...) e deixe reduzir de novo. Ainda no fogo coloque duas colheres de sopa de mostarda l´ancienne (aquela que tem grãos de mostarda) e uma colher de chá de tomilho, misture e desligue o fogo e coe o molho. Leve o molho coado ao fogo, só para aquecer, desligue novamente e a crescente uma xícara de creme de leite fresco e duas colheres de sopa de manteiga e bata na mão até o molho emulsificar (ficar com uma cara meio pastosa), se necessário, coloque mais uma colher de manteiga. Tempere com sal e pimenta do reino. Corte a carne em fatias, cubra com o molho e leve ao forno rapidamente, só para aquecer.

Se você resistiu à receita da picanha ou se a ignorou conforme minha recomendação, aqui vai a receita dos legumes. Corte em rodelas berinjela, abobrinha, cebola e tomate. Num assadeira de vidro refratário coloque as rodelas alternadamente. Tempere com sal, pimenta do reino, salsinha picada e orégano. Regue com bastante azeite e leve ao forno médio. Quando a berinjela e a abobrinha estiverem macias pode servir.

Servi um Chablis, que eu recomendava que fosse bebido com o porco, e um Malbec, para acompanhar a picanha. Mas cada um bebeu conforme lhe deu na telha, o que ainda é a melhor combinação de comida e vinho - aquela que dá prazer.

Ao contrário do camarão empanado que relatei na semana passada, os pratos ficaram ótimos. Não sobrou nem para o "já te vi" do dia seguinte.

Comentários

Anônimo disse…
Tirando a imagem que achei hilária, sua sogra deve ter ficado feliz com tanto carinho e dedicação. Também gosto muito de minha sogra, e sei que é recíproco, aliás ela chega a me chamar de sua filha preta. Não lhe fiz uma homenagem dessas, aliás nem lembrei de tal dia, mas vou homenagea-la numa próxima oportunidade. Quanto às receitas, a do porco vou fazer assim que puder, me pareceu deliciosa, a de legumes eu já fiz antes, mas fiquei decepcionada quando meu marido pediu para fritar a beringela e a abobrinha antes de levar ao forno e a de picanha talvez nunca faça a menos que possa substituir a picanha por costela que eu acho mais saborosa, coisa de pobre mesmo.
Thiago Gagante disse…
De verdade, eu não sabia que existia o dia da sogra!
rsrsrsrs
Anônimo disse…
E a que horas acrescentamos o pozinho?
Anônimo disse…
Sogra...ah...a sogra. Que Deus a tenha.
clau disse…
...poxa Fabio...!
Achei demais as suas receitinhas...
Deu atè agua na boca em imaginar!
E vc fez TUDO sozinho?!
Boh!
Presente para a sogra e para a filha tb, que coisa feita com carinho sempre vale em dobro!
Meus parabéns!
Bjs!

Postagens mais visitadas deste blog

Poemeto sintagmático

Basium, osculum e suavium

Mais ditados impopulares