Mala para um
Como, se na desordem do armário embutido Meu paletó enlaça o teu vestido E o meu sapato inda pisa no teu (Chico Buarque) Maurício chegou em casa, sentou na sua cadeira de balanço, fechou os olhos e viajou em direção a outros planetas. Nunca tinha se sentido daquele jeito e o que ouvira naquela tarde mudava toda a sua vida. Ele sempre fora uma pessoa independente. Fazia questão de ter as suas coisas, organizadas do seu jeito. Ele mesmo se encarregava da arrumação do seu quarto, da limpeza do seu banheiro. Nem o ralo deixava que a empregada limpasse. Fazia qualquer coisa para que ninguém tirasse do lugar aquilo que ele, metodicamente, tinha colocado aonde lhe parecia melhor. Nem mesmo durante o tempo em que morou com Fátima deixava que ela assumisse o seu lugar na ordem das coisas. Mais do que qualquer outra coisa, existia um tema onde ele jamais admitira nenhuma contestação: a sua mala era a sua mala. Fosse para uma viagem curta ou longa, ele jamais dividira a sua mala com quem quer q...