Vício exótico

A filha reclamou que Ariane estava viciada em badminton. Desde que ela descobrira os mistérios da peteca ela só pensava naquilo.

O marido chegou mesmo a mandar uma matéria a respeito de clínicas de recuperação de viciados em raquetinhas.

Na verdade, era um exagero. Ela tinha aula uma vez por semana e, aos sábados passava a manhã na quadra jogando.

O que provocava o estranhamento era o fato de ser um esporte exótico e desconhecido.

Além do que, ninguém na casa entendia as regras daquele jogo, um verdadeiro atentado aos egos que sempre acharam que sabiam tudo a respeito de tudo.

Por que a peteca precisava ser feita de pena de ganso? O que é que o Duque de Beaufort tinha a ver com a história? Como que uma mera peteca poderia voar a mais de 200 km/h?

Será que não dava para ela jogar tênis como qualquer ser humano comum? Ariane não era uma mulher comum, não se contentava com coisas que todo mundo fazia.

Quando a televisão começou a passar os jogos do campeonato mundial, e ela a assistir, achou que a família ia massacrá-la. Os jogos aconteciam na Índia e o fuso horário fazia com que ela passasse as madrugadas assistindo o torneio.

Realmente chegou a ouvir reclamações, até o dia em que a filha chegou mais tarde e a encontrou na televisão. Sentou ao seu lado e começou a assistir o jogo junto com a mãe. Perguntou as regras, tirou as dúvidas e até torceu pela dupla da Dinamarca.

Ariane foi explicando tudo e, ao final do jogo, perguntou à filha se ela não queria ir assistí-la jogando. Não era nenhuma Han Aiping, mas até que jogava bem. A filha olhou com misto de surpresa e interesse.

Atualmente, Ariane e a filha são as campeãs de duplas femininas do clube em que jogam.

Comentários

Virginia Susana disse…
Os nossos sonhos mais enraizados costumam ser vistos como exóticos aos olhos dos outros. A luta para alcançá-los dá essa sensação de obsessão ou "vício". Uma pena que alguns desistam no meio do caminho...Belo texto primo, as usual...
Arimar disse…
Fabio.
Foi exatamente em Gloucestershire, em Thornbury, quando morei no Camphill,em 1969, que conheci o badminton.Foram os primeiros sonhos que se tornaram luta e persistem até hoje.O badminton ficou lá, a peteca nacional continuo tentando.Lindo texto. Me trouxe boas lembranças.
Bom final de semana.
Beijos.
Fábio Adiron disse…
Vir: nada como ser exótico, vale a pena

Arimar: que diria que você jogava badminton...

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