Contículo metonímico
Acostuma-te à lama que te espera (uma brilhante metonímia de Augusto dos Anjos)
Eu adoro tomar um porto, ela umas brahmas. Num fim de noite lhe perguntei :
- Quanto copos você bebeu ?
- Uma garrafa, mas já tinha comido dois pratos para forrar o estômago. Disse sorrindo
Ela me causava um tremor estranho. Era uma ótima cabeça e uma pena brilhante. Naquela noite trajava um pano de primeira reforçava o fato de que também era um avião.
Eu, que nunca fui um bambambã, pelo contrário, levava mais jeito para cavaleiro da triste figura, sempre me questionava o que fazia com que ela gostasse de mim.
Quando chegamos em casa ela abriu um litro de leite e uma caixa de biscoitos, olhou pela janela, o neon a relembrava que a cidade não dormia.
Foi para a sala, na vitrola um disco dos velhos olhos azuis traziam de volta o clima das poucas primaveras.
Eu, que já ando pedindo respeito pelos meus cabelos brancos, me postava atrás dela como um papagaio-de-pirata. Ela baixava a guarda e me amava como a juventude que não pensa nos seus atos.
Eu, como o homem que foi à lua, ficava sem chão. Ela povoava todos os meus sonhos. E alimentava minhas realidades.
Deitamos como plumas, dormimos como pedras.
No dia seguinte voltamos a comer com o suor dos nossos rostos, pois temos cinco bocas para alimentar.
Metonímia: como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser usada com outro significado. Todavia, a transposição de significados não é mais feita com base em traços de semelhança, como na metáfora. A metonímia explora sempre alguma relação lógica entre os termos.
Comentários
mistura de malícia e inocêsncia. lindo.