Me enforcando com Lady in satin
Billie Holiday não teve vida fácil. Desde uma infância complicada a uma vida adulta que foi um coquetel de bebida, drogas e homens oportunistas ela sempre caminhou no fio da navalha da tragédia, até a sua morte de cirrose aos 44 anos. Mas era uma cantora excepcional. Seja em músicas de caráter anti-racista, como Strange Fruit (onde a fruta estranha se refere aos negros enforcados em árvores no sul dos EUA), seja para cantar amores mal resolvidos. Definitivamente não é uma cantora para se ouvir quando se está na fossa. O buraco só vai afundar e o risco de enforcamento por depressão amorosa é inevitável.
Lady in Satin é provavelmente o mais bonito dos seus discos sobre amor não correspondido. Do começo ao fim é impossível conter as lágrimas.
Ela começa dizendo que é uma tola por querê-lo já que seus beijos não seriam só dela e , em seguida pede pelo amor dos céus que ele a ame. Mas ele não vai saber o que é o amor se não souber o significado do blues... Pelo jeito ele não sabe. Então, na música seguinte ela declara que consegue viver muito bem sem ele (o típico me engana que eu gosto, pois ela menciona um monte de exceções onde isso é impossível).
Como qualquer sentimental besta, tenho de admitir que tenho de segurar as lágrimas quando, na sequência, ela canta que por tudo que sabemos, podemos não nos ver nunca mais, então faça dessa noite algo especial. A música que foi muito bem utilizada na versão com Johnny Hartmann no filme as Pontes do Madison derruba qualquer coração empedernido. Mas essa é só a quinta música. A essa altura eu já fui buscar a corda.
Violetas enfeitando seu casaco de pele ressucita o disco. Quem vai resisitir às flores (ainda que eu prefira as rosas vermelhas) ? Mas mesmo com flores ela afirma que ele mudou, e mudou muito, ele não tem mais o brilho no olhar, nem o sorriso nos lábios. Não liga mais para as estrelas. Definitivamente ele deve estar entediado, então, tudo acabou.
Acabou ?? Acabou nada, logo em seguida começa outra que diz que é fácil lembrar e tão difícil de esquecer quando ele dizia que a amaria para sempre. E o amor pode ser engraçado ou triste. Sensato ou louco. Bom ou ruim. Mas sempre é bonito.
Justamente porque sempre é bonito que ela fica alegre de estar infeliz (a essa altura a corda já está pendurada no lustre e o chão molhado), o amor não correspondido é um tédio e o meu caso é feio, mas por alguém que você adora é um prazer entristecer. De qualquer forma, ela lembra na sequência que ela sempre vai estar por perto independentemente da forma que ele a trate....só subindo na cadeira.
O disco vai acabar, talvez essa seja a única salvação possível. Começa a última música : você diz que eu ando rápido demais, que eu falo demais, que eu bebo demais, mas o que eu posso fazer se o nosso romance acabou ?
Nada mais a fazer. Eu chuto a cadeira.
Comentários
bijo de domingão, com chuva mais tarde
Arimar.
Todos adoraram sua palestra (prá variar) rs rs rs. Mais Abraços.
Um abraço
Muito bom, o texto.
Ah! Quanto aos amores, amores são amores enquanto durarem....trazem dor? claro, mas sofrer por amor é uma delicia, dá esperança e no fundo a espera se torna uma realidade...o amado aparece...aí o amor reascande, a garrafa de vinho acaba, a noite se torna dia e a vida continua.
By the way, ontem tive um dia com as mulheres ( no bom sentido, claro ): Billie, a Diva, Nina Simone, Corrine Bailey Rae e depois mudança radical pra Pink Floyd.
Beijos femininos