Desencaixotando insanidades


Caixas servem para guardar tudo, algumas para sempre como os caixões, outras para serem rapidamente abertas, como as caixas de presentes.

Caixas de mudança servem para surpreender. Para o bem e para o mal. Caixas que surgem no meio da sala com objetos que nem lembrava mais que existiam. Alguns, gostaria que não existissem mais e nem sei bem o porque de tê-los guardado (esperança ? masoquismo ?). Pior, alguns destes insisto em continuar guardando e passo a tarde procurando qual é o melhor lugar para tanto. Vou deixá-lo mais aparente ? Vou achar um buraco onde não o veja, apesar de sabê-lo presente ?

Encontrei de tudo nas caixas. Por outro lado, algumas coisas que procuro, ainda não localizei. Minha casa parece a chácara do Chico Bolacha, onde o que se procura, nunca se acha.

Achei fotos, agendas, cartas. Achei receitas, cadernos de poemas e até uma história em quadrinhos que fazia no ginásio junto com um amigo que desenhava meus roteiros. Achei programas de teatro e de concertos. Discos de vinil e livros de capa dura.

Achei sonhos esquecidos, promessas não cumpridas, beijos que não dei e até beijos que dei e foram desprezados. Achei guias de viagem de países para onde não fui, alguns de países que não existem mais.

Amanhã vou continuar abrindo caixas, ainda são muitas. Não sei o que me espera, não vou me preparar para elas : que continuem me surpreendendo.

Em noites como esta

Em noites como esta havia o silencio
E o silêncio comia as palavras
As palavras absorviam pensamentos
Lentamente morrendo.

Em noites como esta havia a nudez
emudecendo e oprimindo
luzes outrora acesas
vozes então ruidosas.

Em noites como esta
Nem sei quantas foram
Mal dormidas em chãos duros
de celas interiores
A porta que ameaçava se abrir
Alguém que segurava a maçaneta
mantendo a chave na mão.

Em noites como esta.

13.02.80 (encontrado em uma das caixas)

Comentários

Anônimo disse…
Se o conteúdo das outras for igual a estes versos, não abra mais caixas, mande algumas por sedex e terei o maior prazer em abri-las...ahuahuahua
Anônimo disse…
Suas lembranças troxeram as minhas à tona..

O poema? significativo e belo

bijim de malmal e sorte na empreitada.
Taty disse…
Caixas, caixas e caixas....às vezes penso que isto é invenção do ser humano apenas pra nos deixar mais confusos. Pior do que objetos guardados e dos quais não lembramos, são os que ficam na famosa "observação" que pode levar anos!
Por falar em passado e em caixas, resolvi fazer nostalgias musicais: Supertramp, Peter Frampton e acabei postando vídeos antigos ( tá vendo o que as caixas fazem? )no Orkut, vídeos antigos que trazem saudades gostosas. De vez em quando eu abro a minha caixinha interna, que chamo de Caixinha de Pandora da Taty....sai cada coisa! afe!
Aliás vou contar uma coisa hilária: até hoje tenho distintivos, é assim que chama, não lembro..pra serem costurados em jaquetas, casacões e que estão guardados....sabe de que ano? 1984, comprados em Saint Tropez e não tenho coragem de me desfazer deles.
Você está me inspirando a começar uma arrumação externa, hahahaha....porque a interna, se arrumar vai perder a graça!
Cuidado com as caixas, você pode tropeçar e cair de joelhos.
Anônimo disse…
Ah nesses dias de caos na minha vida nada como ler seu blog, como guardamos coisas que um dia ao reencontrar dá uma saudade!!!!
Agora o David Bowie é do meu tempo e não do seu hein El Bigodão , ahahahahahahahah, ofensas não hein ahahah
bjs

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