Memória amorosa patológica


Todos nós temos memórias afetivas e amorosas , boas ou ruins. Algumas nós gostaríamos de perpetuar, outra de esquecer de vez. Em ambos os casos, elas insistem, de tempos em tempos, a reaparecer na nossa cabeça provocadas por pequenas referências do dia-a-dia que nos remetem de volta ao passado.

Existem inclusive caso que foram absolutamente trágicos no passado e com o passar dos anos se tornaram cômicos (pelo menos para mim, não sei como continuam na memória da outra pessoa). Outro dia me lembrei de uma situação amorosa-patológica da qual fui personagem.

Eu estava cortejando (eu avisei que a minha terminologia era anacrônica) uma garota fabulosa : inteligente, bonita, elegante. Aquele tipo que você encontra uma vez na vida. Melhor, ela dava sinais que estava correspondendo : sempre falava comigo, aceitava meus convites para sair e até me escrevia. Tudo corria às mil maravilhas.

Aliás, corria bem demais. Depois de alguns encontros sem contato físico, um belo dia aconteceu o primeiro beijo (o segundo, terceiro, nem lembro exatamente quantos foram) dentro do carro na porta da sua casa, com todos os componentes típicos da situação, inclusive com o pai chegando em casa e ela se escondendo para ele não ver. Fui parar nas nuvens. Passei a noite sonhando com aquele beijo. No dia seguinte mandei flores (também um hábito meio em desuso).

Quando foi de noite telefonei para ela... aí ela me contou que estava meio confusa (já tive maus presságios). Chegando em casa ela esquentou uma sopa de abóbora que a mãe tinha feito. Comeu e depois ficou pendurada no telefone com as amigas (o que será que falaram ?), aí começou a passar mal. Achou que fora um mel com agrião que eu tomara para a tosse. Juntou com a sopa e talvez seu estado de espírito e.. bem... começou a me sentir enjoada... com dor de cabeça...... ver letras... figuras... barulho... tudo a incomodava. E não teve jeito, teve de vomitar (arghhhh) tudo o que tinha comido ou bebido desde a tarde.

Meu humor sempre foi estranho, e não resisti à piada : "espero que não tenha sido o meu beijo". A resposta dela foi educadíssima : "Não, o beijo foi ótimo, se dependesse dele eu estaria ótima".

No dia seguinte liguei para saber se ela estava melhor. Não me atendeu, a mãe deu uma desculpa qualquer. Mais um dia, outra desculpa. Mais um dia e mais uma desculpa esfarrapada.
Três dias depois chega uma carta em casa. Nem era uma carta, apenas um bilhete. "Não me ligue mais. Se quiser podemos continuar amigos" (...podemos ser amigos simplesmente, coisas do amor, nunca mais).

Até hoje eu penso se não deveria fazer algum teste para checar se a minha saliva tem algum componente que faça mal para o fígado.

Desde então nunca mais saí com alguma mulher sem levar no bolso um pacotinho de sal de frutas.

Comentários

Lou H. Mello disse…
Olha Fábio, eu poderia fazer um longo comentário sobre seu ótimo post. Contaria a história do português que tinha um apartamento para alugar, mas nunca alugava para ninguém porque era apaixonado pelo imóvel. Tem cada louco nesse mundo. Com certeza não há nada errado com você. A mulher não quer alugar o apartamento, por motivos exclusivamente dela. É só isso.
Taty disse…
Se eu fosse escrever sobre minha memória amorosa patológica....precisaria de várias e várias horas.
Eu acredito que o teu beijo não tem nada de ruim não, talvez a mulher não teve a chance de apreciá-lo e se arrependeu; colocou a culpa na comida....sabe, você teve sorte em receber o bilhetinho, só isso, já imaginou se depois do beijo viessem outras coisinhas e ela tivesse outros ataques de indisposição?
Fábio Adiron disse…
Lou

Realmente, acho que não estava nem para alugar nem para vender, mesmo ficando vazio...

Taty

Nesse tempo o primeiro beijo ainda não provocava esse tipo de enjôo
Anônimo disse…
Vai ver ela não quis emprestar nem vender porque sabia que você já estava morando em outro imóvel. Será que não foi isso? E ela preferiu manter o dela vazio do que negociá-lo com alguém que só o usaria em alguns dias da semana... Talvez ela quisesse alugar ou vender para alguém que usufruísse integralmente de suas dependências, de segunda a segunda. Existem mulheres com essa frescura chamada exclusividade.
Anônimo disse…
PS: Acho que ela não quis vender nem alugar o imóvel para alguém que o usaria como esconderijo. Há mulheres que teimam em fazer negócios às claras. Que chatas, não?
Fábio Adiron disse…
Ludimila

Tem uma música maravilhosa, a gravação que eu tenho é de Peter, Paul & Mary e diz o seguinte

Home is where the heart is
No matter how the heart lives
Inside your heart where love is
That's where you've got to make yourself
At home
Anônimo disse…
Talvez você devesse tomar o chá de alho, cebola e limão da minha mãe, funciona que é uma beleza, além do mais não restaria dúvidas que o problema foi o chá...rsrsrsr
Anônimo disse…
a culpa é totalmente sua, claro
e nada com relação a alugueis, arrendamentos e outros possiveis acertos, se vc tivesse levado a menina pra ao menos tomar um lanche, quem sabe um jantarzinho, o que alías, combinaria perfeitamente com as florês do dia seguinte, ela com certeza não comeria a tal sopa de abóbora, requentada e seus caminhos poderiam ser outros...

bijim daqui

malmal

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