Duas ou três coisas
Muitos meninos se apaixonaram pela sua primeira professora. Eu sempre fui um menino póscoce (não, não procure essa palavra no dicionário, você não vai encontrar) então só fui me apaixonar por uma professora no segundo ano da minha segunda faculdade.
O nome dela era Nina Rosa, pequena, cabelos curtos, óculos. Era professora de Língua Portuguesa III & IV . Não era modelo de revista, mas era doce, engraçada, atenciosa. Ela me introduziu (leia o resto antes de tirar conclusões) ao mundo da síntese poética, das aliterações e, especialmente aos livros de Roland Barthes.
Claro, o amor sempre foi platônico e unilateral (um colóquio unilateralmente sentimental ?). Mas não deixou de ser declarado. Entre os muitos exercícios de redação que fiz durante esse ano de convivência semanal, um deles foi o poema abaixo. Não lembro da nota (costumavam ser boas) e nunca houve nenhum comentário adicional.
Duas ou três coisas que não sei a respeito dela
Menina
que atrás dos óculos
Me nina
Embalando idéias e poéticas
Funções de vida
Me nina
na leitura imprevisível
no olhar indescritível
na opinião sincera
Tecendo e tramando
novos amanhãs
nos meus ideais
Me nina
Me faz sonhar,
falando atrás dos óculos
Sonhar ser como és
Tentando ser como sou
Nào sei muito mais
que duas ou três coisas
As poucas que sei
sugerem poesia
Menina
que atrás dos óculos
Me nina
Canção de ninar que aprendi
Em tão pouco tempo
Menina
que atrás dos óculos
Me nina
Embalando idéias e poéticas
Funções de vida
Me nina
na leitura imprevisível
no olhar indescritível
na opinião sincera
Tecendo e tramando
novos amanhãs
nos meus ideais
Me nina
Me faz sonhar,
falando atrás dos óculos
Sonhar ser como és
Tentando ser como sou
Nào sei muito mais
que duas ou três coisas
As poucas que sei
sugerem poesia
Menina
que atrás dos óculos
Me nina
Canção de ninar que aprendi
Em tão pouco tempo
15.10.82
Um pouco depois que eu saí da faculdade soube que ela também tinha saído para se dedicar integralmente à USP. Nunca mais a vi e nunca mais ouvi falar a respeito dela.
Comentários
Nunca me apaixonei por nenhum professor mas amores platônicos é o que não faltaram! E um platônico se tornou realidade...perdeu a graça.
Professor de português, chamado Gustavo, estava na 6ª série em 1976, Colegial Experimental da Lapa.
Fiquei apaixonada não apenas por ele, mas pela Língua Portuguesa, boa herança, creio eu!
Fico imaginando se meus alunos também se apaixonam por mim!rs
Dizem que, nós professores, somos sedutores por excelência.