O segredo
Marcondes era um homem sensível. Sensível demais para alguns que não o consideravam tão homem assim.
Gostava de ler poesia, de assistir filmes românticos e se desmanchava em lágrimas ao ouvir os trios de Schubert.
Era adorado pelas mulheres, ainda que nenhuma delas nutrisse nenhuma esperança por ele, o viam apenas como um ótimo amigo.
Ninguém nunca esperou que ele surgisse com alguma namorada, até porque criam que ele guardasse alguma dentro do armário.
Quando ele falava a respeito da busca do amor verdadeiro, da sua idealização da mulher perfeita, todos achavam que era puro exercício de retórica.
Não era.
O choque foi geral no dia em que ele apareceu de mãos dadas com Antonia. A mulher dos sonhos de qualquer homem.
Os mais céticos concluiram que aquilo era apenas jogo de cena, cortina de fumaça.
Os mais realistas percebiam a forma como eles se olhavam, apaixonadamente demais para ser só uma encenação.
Os homens discutiam o que é que Marcondes tinha demais para conquistar uma mulher daquelas.
As mulheres debatiam nos banheiros o que que aquele mulher tinha visto no Marcondes.
Não era beleza, não era dinheiro, não poderia ser apenas uma amante de poesia e boa música, isso não sustentaria o namoro.
Ninguém se arriscava a perguntar e Antonia era discreta demais para deixar transparecer alguma coisa (uma das qualidades da mulher perfeita, diga-se de passagem)
Até o dia que Henrique não resistiu e puxou Marcondes de lado e lhe perguntou o que ele tinha feito para encontrar aquele monumento de mulher.
Marcondes, perplexo, respondeu a verdade. Não fazia a menor idéia.
Disse que um dia a encontrou numa festa e quando olharam um para o outro entenderam tudo.
Henrique insistiu para saber o segredo do amigo.
" - Segredo? Nunca tive segredos. Apenas sou uma pessoa que gosta de ouvir e entender quem está comigo, e tratar a pessoa de acordo com suas necessidades e desejos. Será isso o segredo?"
Henrique concluiu que sim. No dia seguinte contou para todos os outros homens.
A decepção foi geral.
Não com Marcondes, a quem consideravam um premiado na loteria, mas consigo mesmos.
Passariam o resto da vida se mordendo de inveja.
Comentários
Bom dia!!!
Deveriam existir mais Marcondes e Marcondas, para ouvir um pouco mais as pessoas.
Adorei.
Beijos.
Arimar
Em verdade vos digo: o Marcondes não existe, é ficção!!!!